Lisboa

Posted On 2024-02-20 In Vida em Aliança

O Santuário de Lisboa – Cumpre-se o sonho (Parte II)

PORTUGAL, Lena Castro Valente •

O Santuário de Lisboa está viver um Ano Jubilar que assinala os 50 anos da sua Bênção, ocorrida em 15 de Setembro de 1974. Estes Marcos Históricos precisam de ser celebrados não somente como datas marcadas pelo calendário mas, com a revisitação da Vida que lhes deu origem. Ao voltarmos os olhos da alma e do coração para o caminho percorrido nestes 50 anos, desde a origem até hoje, seremos levados a “incendiar-nos”, de novo, por esta história que se fez Vida e, por esta Vida que se fez História porque está marcada com o selo de Deus. —

Com este artigo que, nos conta a etapa propriamente dita da construção do Santuário de Lisboa, terminamos o relato da Vida e da História que se seguiram após a decisão de fundar Schoenstatt em Portugal.

A construção espiritual do Santuário – O Nicho

A bênção do Nicho

A bênção do Nicho

Com a alegria de saberem que, finalmente, se veria concretizada a construção do Santuário, a Família continuou a juntar Capital de Graças e a fazer démarches que permitissem levar o projecto por diante. Uma das iniciativas foi colocar e abençoar um Nicho no jardim da casa onde iria ser construído o Santuário. A bênção do Nicho seria realizada pelo Padre chileno Jaime Ochagavia que tinha chegado a Lisboa no dia 13 de Abril de 1973, uns meses após a histórica Homilia do Pe. Alberto Eronti .

No dia 31 de Maio desse ano de 1973 na cerimónia da bênção do Nicho, a Família faz uma oração que começa por dizer:” Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável, unidos ao Pai, em comunhão com os nossos irmãos, Te saudamos hoje deste novo Lugar. Pedimos-Te que o tornes Santo por todas as gerações vindouras. Este é o lugar que encontrámos com a Tua ajuda para a construção em Portugal do nosso primeiro Santuário… Constrói-o connosco… Deste Nicho que erguemos como reconhecimento especial das três graças que nos concedeste…local para o Santuário… um Padre Assessor… o reconhecimento oficial pelos nossos Bispos…”

O lançamento e bênção da Pedra Fundamental do Santuário

No intervalo, do ano que medeou entre a bênção do Nicho e a benção da Pedra Fundamental, a Família continuou com a construção espiritual do Santuário materializada em Santuários-Lar e Santuários-Coração…

Chegado o dia 31 de Maio de 1973 a Família pôde finalmente começar a construir os alicerces materiais do futuro Santuário com o lançamento e bênção da Pedra Fundamental.

Nos alicerces do Santuário foi colocada a Pedra Fundamental (trazida de Fátima no dia 18 de Maio de 1969) e que tinha sido abençoada no dia 31 de Maio seguinte na cerimónia da Aliança de Amor da Família com a MTA. Juntamente com a Pedra Fundamental também foram colocadas outras pedras simbólicas oferecidas por membros da Família e um documento em que a mesma fazia uma resenha da sua história e dos compromissos que assumia para o futuro:”No ano de 1974 raia para Portugal uma nova época…É a altura em que a Igreja prepara o Ano Santo…Em Roma é Pontífice o Papa Paulo VI, em Lisboa Cardeal-Patriarca D. António Ribeiro. Como Família Schoenstatteana Internacional celebramos o 60º aniversário da sua fundação e o 25º da missão dada em 31 de Maio…Colocamos hoje neste lugar do Restelo, a primeira Pedra do Santuário da Mãe e Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt. Tomamos esta Pedra que veio de Fátima porque queremos ir ao encontro da herança mariana do nosso povo e vivificá-la através da Aliança de Amor. A Família Schoenstatteana Portuguesa nasceu intimamente ligada à Missão do 31 de Maio…Este Santuário é a nossa oferta à Mater nesta ano da sua coroação, como Rainha Victoriosa, pela Família Schoenstatteana Internacional. A Obra é Tua – Clarifica-Te…”

A Eucaristia que, foi celebrada no lugar onde iria ser construído o Santuário, esteve presidida por D. Maurílio, ao tempo, Bispo Auxiliar de Lisboa e teve como concelebrantes: o Pe. Jaime Ochagavia, o Pe. António Lobo, o Pe. Almeida Gomes, o Pe. Samuel Rodrigues, o Pe. Paulo Cordovil, o Pe. Dr. Erwin Helmle, o Pe. Franz Hörlne (Brasil), o Pe. René Klaus (Suíça) e o Pe. Hugo Vásquez (Equador).

“Deus quer, o Homem sonha, a obra nasce…”

O Santuário em construção

O Santuário em construção

Este primeiro verso do poema O Infante – que é o primeiro da série Mar Português – da obra A Mensagem de Fernando Pessoa, é para mim, extremamente elucidativa de que não há limites terrenos quando o coração do Homem se harmoniza com a vontade de Deus. Este é, mais uma vez o caso, da construção do Santuário de Lisboa. Depois de tantos obstáculos e, como Deus queria e a Família tinha sonhado, o Santuário nasce.

A sua construção começou no dia 31 de Maio de 1974 e terminou em 15 de Setembro do mesmo ano com a sua inauguração. 3 Meses e meio foi o tempo necessário para o erguer, do fundo do sonho, para a realidade da sua existência física.

E, como curiosidade, no dia seguinte ao início da construção, 1 de Junho de 1974 é Ordenado o Pe. José Pontes, primeiro sacerdote saído da Juventude Masculina da Família de Lisboa.

A construção material foi sendo acompanhada pela conquista espiritual das diferentes partes que o compõem. Assim, e de acordo, com os Ideais dos diferentes grupos, cada um se responsabilizou por: O primeiro grupo da Obra Familiar – os alicerces; o grupo das raparigas – as paredes e a porta; O Instituto Nossa Senhora de Schoenstatt – o solo, o tecto, o Tabernáculo e o quadro da Mater; o segundo grupo da Obra Familiar – o sino; o grupo Cruzados de um Novo Reino – a espada de S. Paulo; o grupo Splendor Ignis – a lâmpada; o grupo Corredemptio Crucis – a cruz.

Em 12 de Setembro, três dias antes da consagração do Santuário, a Família fez uma Vigília de meditação, oração e reflexão sobre os Marcos determinantes da sus história.

O Pe. Jaime Ochagavia, na sua Homilia, volta a ressaltar os três traços característicos da Família de Lisboa: “Família escolhida, provada e confirmada”.

A bênção e Consagração do Santuário

A inauguração do Santuário de Lisboa

A inauguração do Santuário de Lisboa

A festa da inauguração do Santuário começou na véspera, dia 14, na Rua Duarte Lobo – a casa das Senhoras do Instituto – onde tanto tinha sido vivido, sofrido e sonhado. Participaram membros da Família de Aveiro, de Madrid – a Ir. Maria Eugénia e o Manolo – e da Alemanha. O Manolo ofereceu a Patena, com a qual os Padres tinham concelebrado na Eucaristia da bênção do Santuário de Pozuelo onde tantos portugueses tinham estado presentes, como símbolo da unidade que se tinha vindo a estabelecer entre as duas Famílias.

Salvé o dia 15 de Setembro de 1974

Num Domingo cheio de sol foi inaugurado o Santuário de Lisboa, primeiro dos 4 Santuários portugueses.

Para este dia a Família recebeu uma mensagem do Pe. Alex Menningen que, entre várias coisas dizia:”…Assim podemos vislumbrar na construção do Santuário uma obra evidente da Mater. Mas, também esteve presente a intercessão do Pai da Família para todos os tempos. Sempre foi assim na sua vida, podíamos encontrá-lo sempre no lugar onde estava Nossa Senhora…Unido à Mater, ele será no futuro o Pai Espiritual da Família Portuguesa do Pai, o Pai que cuida e permanece fiel…Saúdo-vos e felicito-vos em nome e representação da Família de Schoenstatt do mundo inteiro…”

Para esta celebração, da Gafanha da Nazaré vieram 42 pessoas – entre elas: o Pe. António Lobo, o Pe.Miguel Lencastre, o Pe. Brás, o Pe. Domingos, o Pe. Almeida Gomes, o Pe. Júlio e a D. Luz – fundadora do Ramo das Mães na Gafanha – com a sua família.

De Madrid estavam presentes 11 membros. Da Alemanha tinha chegado a Frau Gramlich, a Irmgard, uma Irmã do Curso da Lucília e da Maria de Jesus (ambas saídas da Juventude Feminina de Lisboa), o Pe. Manuel Ribeiro Alves (União dos Padres Diocesanos de Schoenstatt), as Irmãs de Maria, Maria da Graça Sales e Maria Eugénia (tambem elas pertencentes à Juventude Feminina do início em Lisboa ). Do Chile, o Ivan, estudante em Munster e futuro Pe. Ivan Smicic; do Brasil, o Pe. Brás e a Anita Trevisan das Unionistas.

A cerimónia começou às 16 horas. Presidiu à Eucaristia o Sr. D. Maurílio, Bispo de Fabiona e Auxiliar do Patriarcado de Lisboa. Concelebraram o Pe. Jaime Ochagavia, o Pe. Jackel, os Padres portugueses – António Lobo, Miguel Lencastre, Almeida Gomes, Domingos, Júlio e Samuel – o brasileiro – Pe. Brás, o chileno – Pe. Francisco José e o suíço – Pe. Dr. Helmle.

Na oração da consagração a Família declara à Mater:”… Reunidos em torno do Pai Fundador e unidos a todos os nossos irmãos espalhados pelo mundo, queremos hoje e aqui, como Família, renovar a nossa Aliança de Amor contigo, para que Te estabeleças neste local, tornando-o um Santuário de Schoenstatt e delem brotem em abundância as graças do Acolhimento, da Transformação e da Fecundidade Apostólica. Que aqui se verifique uma verdadeira irrupção do Sobrenatural, como um novo Cenáculo, donde Tu diariamente nos envies… A construção material e espiritual do nosso Santuário é a nossa oferta como geração fundadora, neste Ano Jubilar de Bellavista, para a Coroação que a Família Internacional Te vai fazer em Schoenstatt, como Rainha Vitoriosa…”

No final foram feitos agradecimentos a todos os que, ao longo dos anos, tinham contribuído e tornado possível que este dia feliz visse a luz, não esquecendo os responsáveis pela própria construção do Santuário.

Ao longo dos anos o Santuário foi sendo completado com os vários símbolos: “A concha da água benta com a forma das mãos do Pai (15 de Setembro de 1975); a colocação da fotografia do Pe. Kentenich (9 de Abril de 1976); a colocação do Símbolo do Pai e a entrega do Ideal do Santuário – CENÁCULO DA FAMÍLIA DO PAI (18 de Novembro de 1977); a colocação do Símbolo do Espírito Santo (14 de Maio de 1978); a colocação da Cruz da Unidade (2 de Junho de 1983).

A simbologia dos 14 anos

Santuário de Lisboa

Santuário de Lisboa

14 Anos lembram-nos as 14 Estações da Via Sacra. E, de alguma maneira, estarão associadas ao Schoenstatt Português.

É interessante que na mensagem do Pe. Alex Menningen para a inauguração do Santuário ele faz referência a uma aparente coincidência:”…A 19 de Julho de 1960, a partir do Santuário Original, foram enviadas as primeiras 4 Senhoras de Schoenstatt para Portugal e, precisamente 14 anos mais tarde, a 19 de Julho de 1974, fechavam o contrato com a firma construtora para a construção do Santuário…” 14 anos – 14 Estações.

Em 18 de Março de 1958 escrevia o Pe. Kentenich ao Pe. Augusto Ziegler:” O que o senhor escreve na sua carta em tudo acerta em cheio. O seu “sonho” pode interpretá-lo simbolicamente assim como o faz. Em todo o caso tem todos os motivos para conservar a paz interior. Tem, evidentemente, já no presente que ter em conta para poder orientar a sua condução interior que, mais tarde ou mais cedo, irá passar por todas as 14 Estações da Via-Sacra…”

No que diz respeito ao Schoenstatt Português, entre o ano de 1958 , altura em que lhe é anunciada a sua Via-Sacra pessoal e, se pode perceber pelas cartas trocadas entre o Pe. Kentenich e o Pe. Ziegler, o sonho que acalentavam em relação a Portugal e a data do restabelecimento do Movimento, ou seja, o fim da proibição (25 de Maio de 1972) passam exactamente 14 anos – 14 Estações.

Em 21 de Junho de 1972 morre repentinamente o Pe. Ziegler aos 59 anos de idade.

Entre o ano da fundação de Schoenstatt em Portugal – 1960 – e a Consagração do primeiro Santuário português – Lisboa, 1974 – decorrem exactamente 14 anos – 14 Estações.


Este é o 6º e último artigo da série O Santuário de Lisboa. A minha intenção foi levar, quem me lê, numa breve viagem através da Vida e da História do Cenáculo da Família do Pai. Foi uma contribuição pessoal para a celebração dos 50 anos do primeiro Santuário de Schoenstatt que conheci, já lá vão 46 anos e, à sombra do qual cresci como pessoa e como cristã. À sua sombra selei Alianças – de Amor com a Mater, com o Pai, com o Espírito Santo – entreguei Carta Branca, consagrei o Santuário-Lar e o Santuário-Coração e foi dele que parti para me Implantar no Jardim de Maria no Túmulo do Pai onde fiz a Inscriptio. À sua sombra tive filhos, eduquei-os, fui avó, vi partir os meus queridos pais, chorei e ri, enfim vivi. Quero agradecer a todos os que tornaram possível a sua existência, àqueles como eu que o continuam a manter “vivo” e a todos quantos no futuro não o deixarão “morrer”.

 

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