ARGENTINA, Lilita e Carlos Ricciardi, Maria Fischer •
“Mais de 100 voluntários do Movimento de Schoenstatt celebraram o Natal na rua”, foi o título do Canal 13 em Directo na madrugada de 25 de Dezembro, quando entrevistaram Sofia Andrade, organizadora do Natal Solidário 2023 de La Plata e o Padre José María Iturrería, que acompanha o Natal Solidário há muitos anos. “A menção ao Padre José María é brilhante… ficámos muito emocionados ao ouvi-la. É o trabalho de muitos anos e de muitas pessoas que colaboram silenciosamente com os necessitados”, comentou Carlos Ricciardi. Muitos anos, de facto: desde 2001, todos os anos saem para partilhar o Natal com os sem-abrigo e com aqueles que passam o Natal sozinhos. —
“Neste Natal estamos a culminar uma manhã, uma noite muito intensa desde que saímos com um grupo de mais de 120 jovens para partilhar o Natal com aqueles que estão sozinhos, que estão a trabalhar, que não podem partilhar esta noite de Natal com a família ou os amigos”, diz o Padre José María nesta entrevista. “Encontrámos todo o tipo de pessoas. Os que estão a trabalhar, os que estão na rua, na esquadra da polícia, os bombeiros, os guardas dos hotéis, os sem-abrigo. Partilhámos com todos eles o mais importante, que é a alegria do Natal, que Jesus vem ao nosso encontro para nos dar esperança, para nos dar um sorriso.
Entrevista, Canal 13
“Vamos pelas ruas com um pão doce, um bolo e um sorriso”
E continua: “Vamos com este grupo de jovens pelas ruas da cidade e por todo o lado com um pão doce, com um bolo, com um sorriso, com um momento de diálogo e de encontro. Somos os primeiros a ser transformados, porque encontramos todas as histórias de vida… Claro que é muito duro, é difícil, mas também recebemos o eco da gratidão daqueles que vamos visitar e que ficam surpreendidos. Porque é que alguém viria cumprimentar-nos pelo Natal às duas, três horas da manhã? A primeira coisa que se pensa é que nos vem roubar ou pedir alguma coisa, mas nós não viemos pedir, viemos dar, e isso é que é maravilhoso”.
“Nunca acabei com o meu coração tão cheio de amor como na noite de 24 de Dezembro”
“Este é o meu quarto ano a fazer o Natal Solidário e nunca acabei com o coração tão cheio de amor como nesta noite de 24 de Dezembro”, diz Mica Casta. “A chuva não nos impediu e as pessoas ficaram totalmente surpreendidas com a nossa visita. Esta visita não foi apenas para os necessitados, mas também para os trabalhadores que estavam a trabalhar até altas horas da noite.
Quando nos aproximávamos desses locais, como a Esquadra da Mulher ou o Hospital Gutiérrez em La Plata, eles não podiam acreditar que o que foi dado naquela noite era para eles. Um gesto maravilhoso, como um estranho que vem dar-nos um pedaço de pão, não tem preço. Não se vê isso todos os dias. Numa noite jovem em que qualquer pessoa teria escolhido festejar, outros de nós escolheram prestar serviço e amor aos outros sem receber nada em troca.
Com o meu grupo, colocámos muita ênfase no reconhecimento das pessoas cujo trabalho e profissão são muito importantes para a nossa sociedade e que, sem elas, a cidade não seria gerida da mesma forma. Acrescentámos experiência, momentos, conhecimento, mas, acima de tudo, sorrisos nos rostos de pessoas que estavam infelizes por passarem um Natal assim.
Durante uma noite, nós, os jovens, tornámo-nos as mãos e os pés de Cristo. Fomos o seu instrumento. E Jesus nunca largou a nossa mão, esteve no meio de nós”.
Um seminarista da Nigéria nas ruas de La Plata
Charles Aniekwe é um seminarista dos Padres de Schoenstatt da Nigéria e está a viver por um tempo na Argentina para aprender a língua (e o Movimento), e depois ir estudar no Chile. Ele acompanhou os jovens nesta noite de Natal e conta a sua experiência:
“A Noite da Solidariedade para mim foi mais do que uma experiência: foi um encontro com corações corajosos e sorrisos resistentes.
Numa noite fria de Natal, partilhámos risos, histórias e calor com aqueles que enfrentam a dureza da rua.
Esta experiência deixou uma marca indelével no meu coração, recordando-me a importância da compaixão e da inter-ligação humana.
Fiquei também muito impressionado com o intenso empenho dos jovens que foram encorajados a fazer voluntariado e a partilhar o seu precioso tempo com os outros. Este é um acto muito comovente e um sinal de esperança para a Igreja e para a comunidade humana no futuro”.
Saímos da nossa zona de conforto para mergulhar na realidade
“Mas, graças às orações de tantas pessoas, a tempestade nunca chegou a acontecer, apesar de ser uma contradição gritante com as previsões metrológicas”, diz Seba Iako. “Mesmo assim, as nuvens negras e o aviso meteorológico do dia 23 ensinaram-me uma coisa: a Igreja é como um bengaleiro, onde juntamos todos os guarda-chuvas. Mas quando chove, não ficamos dentro de casa, somos úteis e saímos da nossa zona de conforto para mergulharmos na realidade. Neste Natal Solidário o lema foi “Faz de mim um instrumento da tua paz” e isso implica que, na metáfora do guarda-chuva, procurámos pessoas que estavam debaixo de uma tempestade. Procurámos ser um encontro amigo no meio das tempestades, um refúgio para a solidão mais tempestuosa. Este é o Natal Solidário, construir a paz no meio das tempestades de cada um.
O renascimento da solidariedade
“Tem a ver com o nascimento de Cristo, tem a ver com valores, com o renascimento da solidariedade, da espiritualidade, de sentir os outros como nossos próximos e de os ajudar na medida do possível. Saímos para a rua para celebrar o Natal ajudando as pessoas em situação de rua, dando-lhes uma palmadinha nas costas, emprestando-lhes um ouvido, dando-lhes um momento… É esta ideia de ver o outro como um irmão, como um próximo, e celebrar o Natal também deste ponto de vista.
Foi incrível, uma noite verdadeiramente mágica. Acontece que, por causa da chuva, alterámos toda a logística dos percursos e pedimos às pessoas que viessem de carro. Por isso, restavam poucas pessoas a andar, mas eu juntei-me a um passeio a pé até um hotel, um teatro… Fomos a um edifício, havia um guarda municipal e, bem, ele olhou para nós com um pouco de medo. Dissemos-lhe: “Neste saco temos coisas para si! Ele abriu a porta com medo e nós dissemos: “Olá, somos do Natal Solidário, viemos partilhar consigo o doce de leite, a garrapiñada e ele começou a rir-se à gargalhada. Ele disse: “Olha, eu hoje chorei, chorei porque passei o Natal sozinho, não o passei com a minha família e vocês fizeram-me mesmo a noite”, e riu-se alto durante todo o tempo que lá estivemos. Foi realmente muito gratificante, porque o amor está muito ligado à alegria…”.
Preparação
Como não sair para partilhar a alegria e a esperança…
“Como não sair para partilhar a alegria e a esperança que nos dá, a nós cristãos, saber que Jesus está vivo e que nos quer dar o seu amor. Para nós, isso é uma fonte inesgotável de alegria e é isso que queremos transmitir, especialmente às pessoas que estão sozinhas”, diz o Padre José María. “Sou padre há mais de 13 anos. Comecei em 2001 com o Natal Solidário, quando era um jovem estudante universitário. O Natal Solidário em La Plata começou precisamente em 2001, o ano da crise, do famoso “Deixem-nos ir todos”, e foi nesse mesmo ano que decidimos, com um grupo de 20 pessoas, muito poucas, dizer: temos de fazer algo diferente porque toda a gente está pálida, toda a gente está em tão mau estado, é uma crise tão tremenda que estamos a atravessar. Lembro-me que nesse ano dissemos: “temos de sair e partilhar alguma alegria”, e foi assim que começou o Natal Solidário, no meio daquela crise, saudando e dando a alegria do Natal como um presente.
Hoje, passaram-se 22 anos e continuamos, com mais alguns jovens, a fazer o mesmo que deu origem a esse momento e que continuamos a partilhar hoje. Não se trata apenas do Natal Solidário. Este trabalho com os jovens, estas saídas, estes percursos fazem-se praticamente durante todo o ano.
Durante o ano há muitas actividades sociais missionárias que realizamos em todo o país. Aqui em La Plata temos as Missões Familiares que fazemos em Janeiro. Este ano vamos a Maipú a partir de 26 de Dezembro, e eu vou com um grupo de 200 pessoas de Córdoba a Rollito também para ir em missão com uma missão juvenil chamada GM (Gaudium Mariae, Alegria de Maria). Há outra missão chamada MTA que também está na província de Buenos Aires. Há muitas actividades apostólicas sociais missionárias que realizamos ao longo do ano.
Eu moro em Florencio Varela e lá temos, entre outras coisas, um lugar chamado Casa del Niño (Lar das Crianças), onde alimentamos 300 crianças todos os dias e damos-lhes apoio escolar, o que é também uma forma de solidariedade. Há muitos que nos ajudam precisamente para que possamos fazer isto”.
Missa com D. Gabriel Mestre
Encerramento com D. Gabriel Mestre no Santuário
Na madrugada de segunda-feira, dia 25, D. Gabriel Mestre, Arcebispo de La Plata, celebrou a Eucaristia com os jovens que participaram no Natal Solidário.
Por volta das 5h30 da manhã, os jovens começaram a aproximar-se novamente do Santuário e da Casa da Família de Schoenstatt, onde foram recebidos por alguns membros da equipa organizadora do Natal Solidário 2023 e também pelo Arcebispo, que saudou cada um dos voluntários à medida que iam chegando.
Depois, por volta das 6 horas da manhã, numa cerimónia presidida pelo Padre José María Iturrería, na qual também participaram os Diáconos Santiago Rocca e Julián Tarabini, juntamente com o seminarista de La Plata, Valentín García e outros dois seminaristas de Schoenstatt, os jovens partilharam a Eucaristia.
D.Mestre agradeceu e felicitou “que este tenha sido realmente um Natal diferente, onde como jovens, rapazes e raparigas normais encarnados no nosso tempo, dedicaram as suas energias e o seu tempo a acompanhar os irmãos e irmãs que se encontravam numa situação particular neste Natal que estamos a celebrar”. E acrescentou: “A Mater e o Padre Kentenich devem estar muito contentes convosco, felicito-vos”.
No final, D. Mestre abençoou a equipa organizadora e os jovens dirigiram-se à Casa de Schoenstatt para partilhar o pequeno-almoço.
Natal Solidário 2023
Colaboração: Sofia Andrade, Pe. José Maria Iturrería
Original: castelhano (31/12/2023). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal
