Posted On 2014-07-07 In Francisco - Mensagem

Sem ciúmes, sem tomar partido, sem falatórios… Servirmo-nos uns aos outros. Servirmo-nos!

FRANCISCO EM MOLISE. Missa com milhares de fiéis em Campobasso. Um dia radioso, e mais de 30.000 pessoas no recinto do estádio de Romagnoli. Numa homília interrompida em várias ocasiões pelos aplausos dos fiéis – entre os quais estavam idosos, doentes, jovens, desempregados e todas aquelas “periferias” de que fala o Papa -, Francisco voltou a incidir na responsabilidade dos cristãos de dar “testemunho de Deus dando-nos aos outros”. E fazendo-o com alegria e sem medo, promovendo “a cultura da solidariedade”.

Homília completa do Papa Francisco na Santa Missa no Estádio de Compobasso:

“A sabedoria, ao invés, livrou das fadigas os seus servos”. (Sb 10,9).

Antes de tudo, somos um povo que serve a Deus. O serviço a Deus realiza-se de diversas maneiras, sobretudo na oração e na adoração, no anúncio do Evangelho e no testemunho da caridade. E sempre o ícone da Igreja é a Virgem Maria, a “serva do Senhor”. (Lc. 1,38; Cf 1,48). Logo a seguir a receber o anúncio do Anjo e de ter concebido Jesus, Maria parte à pressa para ir ajudar a sua prima idosa Isabel . E deste modo, mostra que a melhor forma de servir a Deus é servir os nossos irmãos que têm necessidade.

Na escola de Mãe, a Igreja aprende a ser cada dia “serva do Senhor”, a estar pronta para ir ao encontro das situações de maior necessidade, a prestar atenção aos pequenos e excluídos. Mas ao serviço da caridade, todos estamos chamados a vivê-lo na realidade ordinária, isto é, na família, na paróquia, no trabalho, com os vizinhos… É a caridade de todos os dias, a caridade ordinária.

O testemunho da caridade é a via mestra da evangelização. Nisto a Igreja esteve sempre na linha da frente, presença materna e fraterna que compartilha as dificuldades e debilidades das pessoas. Desta maneira, a comunidade cristã tenta infundir na sociedade aquele “suplemento de alma” que lhe permite ver mais além e ter esperança.

É aquilo que também vós, queridos irmãos e irmãs desta diocese, estão a fazer com generosidade, sustentados pelo zelo pastoral do vosso Bispo. Animo-os a todos, sacerdotes, pessoas consagradas e aos fiéis laicos, a perseverar neste caminho, servindo a Deus no serviço aos outros e difundindo por toda a parte a cultura da solidariedade. Há tanta necessidade deste compromisso, face às situações de precariedade material e espiritual, especialmente face ao desemprego, uma praga que requer todo o esforço e muita coragem por parte de todos. O trabalho é um desafio que interpela de modo particular a responsabilidade das instituições, do mundo empresarial e financeiro. É necessário colocar a dignidade da pessoa humana no centro de toda a perspetiva e de toda a ação. Os outros interesses, ainda que legítimos, são secundários. No centro está a dignidade da pessoa humana! Porquê? Porque a pessoa humana é imagem de Deus, foi criada à imagem de Deus e todos nós somos imagens de Deus.

A Igreja é o povo que serve o Senhor. Por isso é o povo que experimenta a sua libertação e vive nesta liberdade que Ele lhe dá. A liberdade verdadeira é sempre dada pelo Senhor! A liberdade, antes de tudo, do pecado, do egoísmo em todas as suas formas: a liberdade de se dar e fazê-lo com alegria, como a Virgem de Nazaré que é livre de si mesma: não pensa no seu estado – e bem que podia fazê-lo, mas pensa em quem naquele momento tem mais necessidade. É livre na liberdade de Deus, que se alcança no amor. E esta é a liberdade que Deus nos deu, e nós não devemos perdê-la: a liberdade de adorar a Deus, de servir a Deus e de O servir também nos nossos irmãos.

Esta é a liberdade que, com a graça de Deus, experimentamos dentro da comunidade cristã, quando nos pomos ao serviço uns dos outros. Sem ciúmes, sem tomar partido, sem falatórios… Servirmo-nos uns aos outros. Servirmo-nos! Então o Senhor liberta-nos de ambições e rivalidades que minam a unidade da Comunhão. Liberta-nos da desconfiança, da tristeza – esta tristeza é perigosa, por que nos deita abaixo; é perigosa, estejam atentos! Liberta-nos do medo, do vazio interior, do isolamento, do arrependimento, dos lamentos. Também nas nossas comunidades, de facto, não faltam atitudes negativas que tornam as pessoas autorreferenciais, mais preocupadas em defender-se do que em dar-se. Mas Cristo liberta-nos desta monotonia existencial, como proclamamos no salmo responsorial: “Tu és o meu auxílio e a minha libertação”- Por isso os discípulos, nós discípulos do Senhor, ainda permanecendo débeis e pecadores, estamos chamados a viver com alegria e valentia a nossa fé, a comunhão com Deus e com os irmãos, a adoração a Deus, e a enfrentar com fortaleza as fadigas e provas da vida.

Queridos irmãos e irmãs, a Virgem Santa que veneram em particular com o título de “Madonna della Libera”, lhes dê a alegria de servir o Senhor e de caminhar na liberdade que Ele nos deu: na liberdade da adoração, da oração e do serviço aos outros. Que Maria vos ajude a ser Igreja materna, Igreja acolhedora e atenta a todos. Que ela esteja sempre junto de vós, dos vossos doentes, dos vossos idosos que são a sabedoria do povo, dos vossos jovens. Para todo o seu povo seja um sinal de consolo e de esperança certa. Que la “Madonna della Libera” nos acompanhe, nos ajude, nos console, nos dê paz e nos dê alegria.

Original: italiano – Tradução: Maria de Lurdes Dias, Lisboa, Portugal.

Video

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *