TERRA SANTA/ROMA, org. “Nos momentos delicados, precisamos de pessoas sábias que nos queiram bem. O próprio Deus nos aconselha em nossa alma, pela intimidade com ele e pela voz e testemunho dos irmãos”, disse o Papa Francisco agora pouco, na Missa em Santa Marta. Ele sabe o que amigos e amizades significam. O fortíssimo abraço de três líderes religiosos – um judeu, um cristão e um mulçumano – diante do Muro de Jerusalém, marcou o momento ápice da última etapa do Papa Francisco na Terra Santa. Foi um abraço de amigos, a realização de um sonho e a indicação do caminho rumo à paz, e não apenas no Oriente Médio.
Quando o Santo Papa acabou de rezar no lugar sagrado dos judeus, o rabino Abrahán Skorka e o líder muçulmano argentino Omar Abboud saíram, emocionados, ao encontro dele. Os três homens se uniram em um abraço e um comentário: “Conseguimos!”. O velho sonho alimentado pela amizade dos três, em Buenos Aires, tornou-se realidade diante do mundo todo, oferecendo a melhor fórmula para superar o pesadelo dos enfrentamentos religiosos: respeito e afeto entre pessoas de boa vontade.
“Com o Papa Francisco, temos sonhado nos encontramos todos juntos diante do Muro das Lamentações, abraçarmo-nos, para dar um sinal aos 200 anos de desentendimentos entre judeus e cristãos; eu o acompanhei a Belém, para estar perto dele em um momento tão significativo para seu espírito, como gesto de amizade e de respeito”, comentou Abrahán Skorka em uma entrevista ao diretor de Civilità Cattolica, Pe. Antonio Spadaro.
Chama a todos nós de “meus irmãos”
Na noite anterior, aconteceu, no Santo Sepulcro, o “abraço dos cristãos separados”.
“É uma graça extraordinária estarmos aqui, reunidos em oração. O Sepulcro vazio – expressou Francisco – é o lugar de onde parte o anúncio da Ressurreição: ‘Não tenham medo, eu sei que vocês procuram a Jesus, o Crucificado. Ele não está aqui, porque ressuscitou, como havia dito. Vejam o lugar onde ele estava e corram para dizer aos seus discípulos: Ele ressuscitou dentre os mortos’… Todo batizado em Cristo ressuscita espiritualmente, a partir deste Sepulcro”, disse Francisco, exclamando: “Não deixemos que nos roubem o fundamento de nossa esperança, que é exatamente o Cristo ressuscitado! Não privemos o mundo do alegre anúncio da Ressurreição! E não sejamos surdos ao forte chamado à Unidade que ressoa exatamente neste lugar, nas palavras d’Aquele que, ressuscitado, nos chama a todos nós de ‘meus irmãos’”.
Francisco afirmou que as divergências não devem nos assustar e comentou a respeito do ecumenismo que vem do sangue: “Quando cristãos de diversas crenças se encontram para sofrer juntos, uns ao lado dos outros”- explicou – e manifestou que “não se pergunta, àqueles que, por ódio à fé, assassinam e perseguem os cristãos, se não ortodoxos ou são católicos. São cristãos e o sangue cristão é o mesmo!”. O zelador da Terra Santa, o franciscano Pizzaballa, que conhece bem a situação e conflitos da região, disse à Rádio Vaticano: “Parecia que estava sonhando”, quando lhe perguntaram o que havia sentido quando viu todos eles unidos em oração em frente à tumba vazia – assim comenta o Pe. Guillermo Ortiz, da Rádio Vaticano.
Dá-nos a graça de nos envergonharmos daquilo que, como seres humanos, fomos capazes de fazer
Ressoa ainda e deve ressoar sempre… O que se pode dizer diante do inexplicável horror, do que seres humanos foram capazes de fazer para outros seres humanos? Um jornalista alemão, Torsten Teichmann, comenta, visivelmente emocionado, os momentos no monumento do Holocausto: “Isso não foi uma amostra de consternação devida. Esse homem é autêntico em sua vergonha e dor. Não me envergonho de minhas lágrimas…”
Este grito:
“Onde estás?”,
aqui, diante da tragédia incomensurável do Holocausto, ressoa como uma voz que se perde em um abismo sem fim…
Homem? Quem és tu? Eu não te reconheço.
Quem eras tu, homem? No que tu te converteste?
Como foste capaz de tanto horror?
O que foi que te fez cair tão profundamente?
Quem te corrompeu? Quem te desfigurou?
Quem te contagiou com a presunção de que poderias apropriar-te do bem e do mal?
Quem te convenceu de que eras deus? Não apenas torturaste e assassinaste teus irmãos, como também os ofereceste em sacrifício por ti mesmo, porque te elevaste a deus.
Senhor, escuta nossa oração, escuta nossa súplica, salva-nos, por tua misericórdia!
Salva-nos dessa monstruosidade.
Senhor Onipotente, uma alma angustiada clama a ti. Escuta, Senhor, tem piedade.
Pecamos contra ti. Tu reinas para sempre. (Ba 3,1-2).
Lembra-te se nós em tua misericórdia. Dá-nos a graça de nos envergonharmos daquilo que, como seres humanos, fomos capazes de fazer, de nos envergonharmos dessa idolatria máxima, de ter desprezado e destruído nossa carne, essa carne que tu moldaste do barro, que tu vivificaste com teu sopro de vida.
Nunca mais, Senhor! Nunca mais!
Algo como o holocausto é único na história da humanidade. Incomparável. Com certeza, ainda hoje, existem seres humanos que destroem a vida, os sonhos de vida, os projetos de vida do próximo, por pura inveja, por ânsia de poder… nos países, em empresas, nas famílias, na Igreja, em Schoenstatt. “Senhor, dá-nos a graça de nos envergonharmos de tudo o que, como seres humanos, fomos capazes de fazer…”.
Nem as minhas podem com o carisma esmagador do Papa Francisco
“O Papa está em um campo minado”. Assim garantiu Pe. David Neuhaus, o número dois dos Patriarcas latinos de Jerusalém. “Porém, nem as minas podem com o carisma esmagador do Papa Francisco. Em seus três dias na Terra Santa, desativou as minas do ódio multissecular da divisão e da suspeita, para semear entre ela as rosas do diálogo, da reconciliação, da unidade, da paz e da esperança. Para dentro e para fora”, comenta José Manuel Vidal, jornalista espanhol.
Tudo culmina com a Missa no Cenáculo de Jerusalém. No mesmo lugar onde, há mais de dois mil anos, Jesus se despediu de seus discípulos, partiu o pão, abençoou o vinho, repartiu-os entre eles e lhes pediu para fazerem o mesmo em sua memória, Francisco presidiu a Eucaristia. “Uma volta às origens de um Papa que, como ninguém, representa os primeiros cristãos, em virtude de sua autenticidade, de seu compromisso. “Aqui nasceu a Igreja”, disse Francisco; assim se lê em um comentário de Jesús Bastante, jornalista da Espanha.
“O Cenáculo, finalmente, nos lembra o nascimento de uma nova família, a Igreja, constituída por Cristo ressuscitado”, disse Francisco. “Uma família que tem uma Mãe, a Virgem Maria. As famílias cristãs pertencem a essa grande família e nela encontram luz e força para caminharem e renovarem-se, diante das fadigas e das provas da vida. A esse grande família, são convidados e chamados todos os filhos de Deus, de qualquer povo e língua, todos irmãos e filhos de um único Padre que está nos céus. Este é o horizonte do Cenáculo: o horizonte do Ressuscitado e da Igreja. Daqui parte a Igreja, animada pelo sopro do Espírito. Recolhida em oração, com a Mãe de Jesus, revive sempre a esperança de uma renovada efusão do Espírito Santo. Envia, Senhor, teu Espírito, e renova a faze da terra”. (cf. Sl 104,30).
Um ramo de flores
Agora está de volta. Quarta-feira, na audiência geral, agradeceu a todos as orações por essa peregrinação. E nas primeiras horas da terça-feira, o Papa Francisco se dirigiu à Basílica Santa Maria Maior, em Roma, para agradecer à Mãe de Deus por sua viagem à Terra Santa. Só estavam o Papa e seu motorista; ali ficou durante cerca de 30 minutos e depois voltou para o Vaticano. Ofereceu um ramo de flores à Virgem; recolheu-se em oração durante alguns minutos e depois saudou os fiéis presentes. Com um ramo de flores para Maria, neste mês de maio, começou e terminou sua peregrinação.
Ver también
http://www.lanacion.com.ar/papa-francisco-en-tierra-santa-t51369
http://www.aica.org/12103-el-papa-francisco-en-tierra-santa.html
Todas as homilias e conferências, todos los vídeos e galeria de fotos:
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/travels/2014/outside/documents/papa-francesco-terra-santa-2014.html
http://www.periodistadigital.com/religion/opinion/2014/05/27/balance-de-una-peregrinacion-que-pasara-a-la-historia-del-mundo-y-de-la-iglesia-religion-iglesia-francisco-tierra-santa.shtml
