Posted On 2013-11-21 In Francisco - iniciativos e gestos

Em estado permanente de missão

ROMA/GUADALUPE. Francisco defendeu dia 16 de novembro que a Igreja deve estar em “estado permanente de missão” e advertiu que é “vital não se fechar, não se sentir já satisfeita e segura com o que conseguiu”. O Santo Padre enviou uma vídeo mensagem com motivo da peregrinação e encontro “Nossa Senhora de Guadalupe, Estrela da Nova Evangelização no Continente Americano”, organizado pelo Ano da fé e convocado pela Comissão Pontifícia para a América Latina, a Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, os Caballeros de Colón e o Instituto Superior de Estudos de Guadalupe no Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, México, de 16 a 19 de novembro.

 

Texto da vídeo Mensagem do Santo Padre:

Queridos irmãos e irmãs, saúdo-os muito cordialmente, a vós que participais nesta peregrinação encontro, organizada pela Comissão Pontifícia para a América Latina, com a ajuda de Nossa Senhora de Guadalupe. Para além de lhes transmitir o meu afeto, a minha proximidade e a vontade que tenho de estar convosco, quero partilhar com brevidade algumas reflexões, como ajuda a estes dias de encontro.

Aparecida propõe colocar a Igreja em estado permanente de missão, realizar atos de índole missionária sim, mas no contexto mais amplo de uma missionariedade generalizada: que toda a atividade habitual das igrejas particulares tenham um caráter missionário e isto na certeza de que a saída missionária, mais que uma atividade entre outras é paradigma, quer dizer, é o paradigma de toda a ação pastoral. A intimidade da Igreja com Jesus é uma intimidade itinerante, supõe um sair de si, um caminhar e semear sempre de novo, sempre mais além. Saiamos a pregar às aldeias vizinhas porque para isto vim, dizia o Senhor. É vital para a Igreja não se fechar, não se sentir já satisfeita e segura com o que conseguiu. Se isto acontecer, a Igreja adoece, adoece de abundância imaginária, de abundância supérflua, debilita-se.

Há que sair da própria comunidade e atrever-se a chegar às periferias existenciais que necessitam sentir a proximidade de Deus. Ele não abandona ninguém e mostra sempre a sua ternura e a sua misericórdia inesgotáveis, pois isto é o que há que levar a toda a gente.

Um segundo ponto: o objetivo de toda a atividade pastoral está sempre orientado pelo impulso missionário de chegar a todos, sem excluir ninguém e tendo muito em conta as circunstâncias de cada um. Há que chegar a todos e partilhar a alegria do encontro com Cristo. Não se trata de ir como quem impõe uma nova obrigação, como quem permanece na censura ou na queixa perante o que se considera imperfeito ou insuficiente. A tarefa evangelizadora pressupõe muita paciência, muita paciência, cuida do trigo e não perde a paz com o joio. E também sabe apresentar a mensagem cristã de maneira serena e gradual, com odor a Evangelho como fazia o Senhor. Sabe privilegiar em primeiro lugar o mais essencial e mais necessário, ou seja, a beleza do amor de Deus que nos fala em Cristo morto e ressuscitado. Por outra parte, deve esforçar-se por ser criativa nos seus métodos, não podemos ficar fechados no tópico do “sempre se fez assim”.

Terceiro: quem conduz a pastoral na Igreja particular é o Bispo e fá-lo como o pastor que conhece pelo nome as suas ovelhas, guia-as estando perto delas, com ternura, com paciência, manifestando efetivamente a maternidade da Igreja e da misericórdia de Deus. A atitude do verdadeiro pastor não é a do príncipe ou a do mero funcionário atento principalmente ao disciplinar, ao regulamentado, aos mecanismos organizativos. Isto leva sempre a uma pastoral distante das pessoas, incapaz de favorecer e conseguir o encontro com Jesus Cristo e o encontro com os irmãos. O povo de Deus que lhe é confiado necessita que o Bispo vele por ele cuidando sobretudo daquilo que o mantém unido e promove a esperança nos corações. Necessita que o Bispo saiba discernir, sem silenciar, o sopro do Espírito Santo que vem por onde quer, para o bem da Igreja e da sua missão no mundo.

Quarto: estas atitudes do Bispo, têm de tocar profundamente os outros agentes da pastoral, muito especialmente os presbíteros. A tentação do clericalismo, que tanto prejudica a Igreja na América Latina, é um obstáculo para que se desenvolva com a maturidade e a responsabilidade cristã de boa parte do laicado. O clericalismo acarreta uma postura autorreferencial, uma postura de grupo, que empobrece a projeção no encontro com o Senhor, que nos faz discípulos, e no encontro com os homens que esperam o anúncio. Por isso, creio que é importante, urge, formar ministros capazes de proximidade, de encontro, que saibam incendiar os corações das pessoas, caminhar com eles, entrar em diálogo com as suas ilusões e os seus medos. Este trabalho, os Bispos não o podem delegar. Têm de assumi-lo como algo fundamental para a vida da Igreja sem poupar esforços, atenção e acompanhamento. Para além disso, uma formação de qualidade requer estruturas sólidas e duradouras, que preparem para enfrentar os desafios dos nossos dias e poder levar a luz do Evangelho, às diversas situações que encontrarão os presbíteros, os consagrados, as consagradas e os laicos na sua ação pastoral.

A cultura de hoje exige uma formação séria, bem organizada, e eu pergunto-me se temos a autocrítica suficiente para avaliar os resultados dos muito pequenos seminários que carecem de pessoal formativo suficiente.

Quero dedicar umas palavras à vida consagrada. A vida consagrada na Igreja é um fermento. Um fermento que o Senhor quer, um fermento que faz crescer a Igreja até à última manifestação de Jesus Cristo. Peço aos consagrados e consagradas, que sejam fiéis ao carisma recebido, que no seu serviço à Santa Mãe Igreja hierárquica não desperdicem essa graça que o Espírito Santo deu aos seus fundadores e transmitam-na em toda a sua integridade. E essa é a grande profecia dos consagrados, esse carisma dado para o bem da Igreja.

Sigam em frente nessa fidelidade criativa ao carisma recebido para servir a Igreja.

Queridos irmãos e irmãs, muito obrigado pelo que fazem por esta missão continental. Lembrem-se que receberam o batismo e que foram convertidos em discípulos do Senhor. Mas todo o discípulo é também missionário. Bento XVI dizia que são os dois lados da mesma medalha. Peço-lhes, como pai e irmão em Jesus Cristo, que trabalhem a fé que receberam no Batismo. E como fizeram a mãe e a avó de Timóteo, transmitiram a fé aos seus filhos e netos, e não apenas a eles. Este tesouro da fé não é para uso pessoal. É para ser dado, para ser transmitido, e assim crescerá. Deem a conhecer o nome de Jesus. E se o fizerem, não estranhem que em pleno inverno floresçam rosas de Castilla. Porque sabem, tanto Jesus como nós, temos a mesma Mãe.

Trad.: Maria de Lurdes Dias, Lisboa, Portugal

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