Posted On 2014-12-10 In Artigos de Opinião

No limiar de um novo século

ESPANHA, Pe. Carlos Padilla. Chegámos ao último mês de um ano de graças, de um ano jubilar, de um ano de vida, de um ano de esperança. O ano de 2014 marcará as nossas vidas para sempre. Nós vivemo-lo. Somos a geração de 2014. Temos uma missão imensa pela frente. Foi um ano muito abençoado. Mas não acabámos de fazer o caminho. Na realidade, começa um novo século, um novo tempo para nós que fomos abençoados por este jubileu. Estamos no limiar de um novo século.

Somos peregrinos como nos recordava o Papa Francisco em Roma: “Esquecemo-nos que temos que seguir para ali. Não paramos. Descansar sim, mas depois continuar a caminhar e caminhantes, não errantes. Porque se sai para dar algo. Sai-se em missão. Mas não se sai para dar voltas sobre si mesmo, dentro de um labirinto que nem nós mesmos podemos compreender. Caminhantes e não errantes”. Vivemos um momento de graças e continuamos o caminho. Somos peregrinos, caminhantes. Temos a meta clara. Olhámos nos olhos de Maria que esperava ansiosa o nosso sim. Ela, apaixonada por Deus, apaixonada por nós, quer-nos levar ao mais profundo do coração do Pai. Ela saiu para nos vir buscar. Pôs-se a caminho. Fez-nos saltar de gozo. Escutámos no coração a frase que lhe disse a Ela o anjo: “Alegra-te, Maria, cheia de graça, o Senhor está contigo”.

Queremos ter essa profunda alegria que ninguém nos pode tirar. O Senhor está connosco. Desejamos uma alegria verdadeira, profunda. Essa alegria daquele que tem o poço da alma cheio. Damo-nos conta da sede do homem de hoje. Da tristeza profunda de tantas pessoas que estão sós e perdidas. Têm sede de vida eterna. Sede de um amor verdadeiro. Sede de raízes profundas. Sede de uma segurança que o mundo inquieto e cheio de mudanças não lhes dá. O homem perdeu o norte. Corrupção, violência, falta de paz, falta de Deus, falta de valores autênticos. Há tanto vazio no coração! Há tantas buscas sem fruto! Tantos caminhos falidos, tantas perguntas sem respostas!

O que podemos entregar nós que recebemos tanto? Nós também experimentámos muitas vezes o vazio, a solidão, o fracasso. Caímos e voltámo-nos a levantar. Tocámos a pequenez e recebemos uma montanha de ternura, a misericórdia infinita de Deus. O homem busca a felicidade aqui e agora. Detém-se agarrando-se à vida querendo que a sua vida seja infinita. Nega-se a não perder nada. O seu desejo domina o coração. Às vezes de forma doentia e aditiva. Quer amar com toda a alma e encontra-se a nadar na sua incapacidade de dar. Perde-se sem saber amar. Os seus vínculos são frágeis, superficiais. Construiu muros à volta dos seus sentimentos. Vive de costas para Deus, porque não se sabe amado por Ele. Perdeu o sentido da sua vida. Porque, que sentido tem viver sem uma esperança eterna?

Olhando para a frente, no limiar de um século, perguntava-me, como sonho o Schoenstatt dos próximos cem anos?

Que rosto tem? É uma criança recém-nascida. Penso neste Natal. Jesus faz-se carne de novo. Maria e José esperam-me no Santuário. Querem fazer morada em mim. Custa-me pensar em missões grandiosas que tantas vezes nos enchem a cabeça e deixam vazio o nosso coração. A missão que temos pela frente é muito singela. É a missão de Maria. Ela, cheia de graça, cheia de Deus, pôs-se a caminho. Ela deixou tudo e arriscou-se pelos caminhos de Deus. Ela, alegre pelo Senhor, quis partilhar a sua alegria. Não temos nós o poço cheio depois do nosso jubileu? Não se encheu a alma com tanto amor recebido?

Maria pôs-se a caminho e, como dizia o Papa Francisco: “É capaz de fazer saltar uma criança no seio da sua mãe como escutamos no Evangelho. Ela é capaz de nos dar a alegria de Jesus”. Estamos chamados a entregar o que vivemos. A alegria que enche o coração. Temos a missão de ajudar a forjar vínculos humanos e sobrenaturais sãos e profundos. Temos uma rede nas nossas mãos. Temos aprendido a tecer redes no Santuário. Redes de vida, vínculos sãos, sem nós. Uma rede de laços fortes, de amores profundos. Vínculos com os homens, com Deus. Laços que não se rompam com as dificuldades da vida. Aprendemos a deixar o coração noutros corações, sem medo de perder a vida. Aceitámos o nosso coração triste e ferido, como um coração aberto que se enche amando em que muitos cabem. Aprendemos que pelo amor humano chegámos a querer mais a Deus.

E sabemos que os vínculos mais naturais, quando os cuidamos, aproximam-nos de Deus, unem-nos a Ele carinhosamente. Não separamos nunca o amor a Jesus e a Maria do amor ao cônjuge, ao noivo, ao filho. Não separamos o amor profundo a Deus do amor aos amigos, aos pais, aos homens, aos lugares, à missão. Não, tudo se integra em Maria, em Jesus: tudo se integra pela aliança de amor, que nos leva a desejar ser homens profundamente vinculados. Homens enraizados no mundo de Deus e em corações humanos. Com fundas raízes. Homens que sabem unir, com simplicidade, com humildade. Homens que pacificam com as suas vidas, porque Deus lhes deu muita paz e muita luz. Que missão tão importante a de unir!

Lancemos as redes. Unimos com Deus e em Deus. É uma missão que transborda. Não pretendemos impor as nossas formas, tão pouco o nosso caminho. Só queremos entregar o que recebemos de graça. Maria, quando lhe entregamos o coração, toma-o nas suas mãos, transforma-o e une-o fortemente ao seu. Queremos levar Maria a muitos corações jovens que estejam dispostos a dizer que sim. Apenas pretendemos acolher os outros na sua verdade, como Maria faz. Reconhecer a beleza da sua originalidade. Aceitar formas diferentes. Enriquecemo-nos de outros talentos. Temos uma missão muito importante: unir, criar pontes, tecer laços fortes, acolher.

Temos a missão de levar o Santuário no nosso próprio santuário coração

Somos santuários vivos na medida em que Maria vive em nós. Somos terra sagrada, pisada por Deus. O mundo de hoje necessita dessa luz, desse fogo, desse amor. O Pe. Kentenich, depois de ver que no Uruguai tinha surgido o primeiro santuário filial igual ao original, dizia à Família de Schoenstatt: “Que as pessoas selem a aliança de amor. Levem Maria para o meio dos homens, que em todas as partes se sele a aliança de amor. Necessitamos de formulações. Maria é a grande Missionária, a grande pregadora de exercícios espirituais. Depois de Deus, Ela é para nós simplesmente tudo” [1].

Não ficamos agarrados às formas, ao que sempre se fez de uma determinada maneira. Maria guia-nos, derruba muros. Ela é a grande missionária, abre caminhos. Ela faz milagres e precisa de nós. Não basta agora com os santuários filiais. São fundamentais, é certo. Nem sequer basta com os santuários lar. Há milhares de famílias que consagraram o seu lar a Maria. Ali Ela forja famílias santas. Há que ir um passo mais além. Somos santuários vivos. Cada aliado é um santuário. Desde o momento em que nos consagrámos a Maria, Ela construiu a sua morada no nosso coração. Nós rompemos os muros do santuário. Saímos para levar a muitos a vida do Santuário. É terra sagrada a que pisamos, a que outros pisam em nós, A nossa vida é a terra sagrada de Maria. Ela quer atuar através da nossa pequenez e pobreza. Em todas as partes queremos ser alma do mundo.

Que Maria possa atuar por meio do nosso amor. Tem muita força a imagem do santuário vivo. Às vezes não acreditamos no poder do amor. A aliança de amor tem esse poder. Atua através da nossa pobreza. Precisamente porque no nosso barro o seu amor brilha com mais força. Vivemos porque Ela nos dá a sua vida. Oferecemos acolhimento porque Ela nos acolhe. As nossas palavras mudam os corações porque é Deus em nossas palavras. Maria forja em nós o rosto de Cristo. Dizia o Pe. Kentenich: “Se Cristo vive em nós, deveríamos demonstrar que Cristo trabalha em nós um heroico amor ao próximo. Significa educar-nos no estilo de vida de Cristo. Significa ver a Cristo, não só como meta e ideal, mas deixar que Ele se converta no nosso estilo de vida”[2]. O estilo de vida de Jesus, os seus sentimentos.

Somos dóceis à vontade de Deus, como Jesus foi. Assim Maria pode chegar através de nós a muitos corações. Cura as nossa feridas para que possamos ligar muitas feridas. Mas continuamos a caminhar feridos para que nunca esqueçamos a misericórdia de Deus. Somos seus filhos. Somos filhos dessa misericórdia que nos salvou. Maria desceu sobre nós e fez do nosso coração o seu lar, um novo Belém, um santuário vivo a partir do qual Ela atua e muda o mundo.


[1] (1) J. Kentenich, Semana de outubro 1947

[2] (2) J. Kentenich, Meu santuário coração

Original: Espanhol – Tradução: Maria de Lurdes Dias, Lisboa, Portugal

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