Posted On 2013-02-02 In Artigos de Opinião

Magnificat

P. Nicolás Schwizer. O grande cântico da Santíssima Virgem na sua visita à casa de Santa Isabel é o Magnificat. Expressa sua imensa alegria por tudo o que Deus fez em sua humilde escrava.

 

 

No canto, em realidade, Maria diz poucas coisas novas. Quase todas suas frases encontram numerosos paralelos nos salmos e em outros livros do Antigo Testamento. Mas ‑ como escreve um teólogo – se as palavras provem em grande parte do antigo testamento, a música pertence já à nova aliança. Nas palavras de Maria estamos lendo uma antecipação das bem-aventuranças e uma visão da salvação que rompe todos os moldes estabelecidos. No canto, Maria diz coisas que deveriam nos fazer estremecer.

O melhor retrato de Maria que temos

O canto é como um espelho da alma de Maria. É, sem dúvida, o melhor retrato de Maria que temos. Seu canto é, ao mesmo tempo, simples e bonito. Sem ostentações literárias, sem grandes imagens poéticas, sem que nele se diga nada extraordinário. Entretanto, que impressionantes resultam suas palavras!

As coisas de Deus partem do gozo e terminam no entusiasmo

É, acima de tudo, uma explosão de alegria. As coisas de Deus partem do gozo e terminam no entusiasmo. Deus vem preencher, não esvaziar. Mas esse gozo não é humano. Vem de Deus e em Deus termina. A alegria de Maria não é deste mundo. Não se alegra de sua maternidade humana, mas de ser a mãe do Messias, seu Salvador (M. Thurian). Não de ter um filho, mas de que esse filho seja Deus.

Por isso Maria sente-se repleta, por isso se atreve a profetizar que todos os séculos a chamarão bem-aventurada, porque foi olhada por Deus. Nunca entenderemos os ocidentais o que é para um oriental “ser olhado por Deus”. Para este ‑ ainda hoje ‑ a santidade a transmitem os santos por meio de sua mirada. A mirada de um homem de Deus é uma benção. Quanto mais se quem mira é Deus!

Sua visão da historia

A quarta estrofe do hino de Maria resume sua visão da historia. E se reduz a uma única idéia: o reino de Deus, que seu filho traz, não tem nada a ver com o reino deste mundo.

E esta é a parte subversiva do hino que não podemos dissimular: para Maria o sinal visível da vinda do Reino de Deus é a humilhação dos soberbos, a derrota dos poderosos, a exaltação dos humildes e pobres, o esvaziamento dos ricos.

Estas palavras não devem ser atenuadas: Maria anuncia o que seu Filho predicará nas bem-aventuranças: que Ele vem trazer um plano de Deus que deverá modificar as estruturas deste mundo de privilégio dos mais fortes e poderosos.

Classes de alma

Os pobres e humildes de que fala Maria são os que só contam com Deus em seu coração: os humildes, os que temem a Deus, os que se refugiam nele, os que o buscam, os corações quebrantados e as almas oprimidas. Maria não fala tanto de classes sociais, sim de classes de almas. E quem poderá dizer de si mesmo que é um desses pobres de Deus?

Mara não fala somente da pobreza material ou da pobreza espiritual. Fala da soma das duas. E ao mesmo tempo oferece um programa de reforma das injustiças deste mundo e de elevação dos olhos ao céu. São duas partes essenciais de seu Magnificat e do evangelho, duas partes inseparáveis.

Um hino revolucionário

Maria, no Magnificat, não separa o que Deus uniu por meio de seu Filho: os problemas temporais dos celestiais. Seu canto é, verdadeiramente, um hino revolucionário, mas de uma revolução integral. Por isso Maria pode predicar essa revolução com alegria.

Penso que é necessário que também todos nós cantemos com ela, e como ela, nos atrevendo a dizer toda a verdade que Maria anuncia.

Reflexões – Pe. Nicolás Schwizer

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