Posted On 2012-08-03 In Artigos de Opinião

Rumo ao ano da corrente missionária

Pe. Guillermo Carmona. No imaginário pessoal e colectivo da Campanha está a profunda comunhão do missionário com Maria. Um só coração e uma só alma, lembrava-nos o Fundador de Schoenstatt. Quanto mais profunda for esta intimidade, mais fecunda será a tarefa missionária.

 

 

 

Esta unidade não é apenas emocional é também existencial, porque abrange todos as áreas da pessoa: inteligência, vontade e afectos. É um projecto de vida onde o missionário como numa viagem embarca através dos mares da sua família, do seu trabalho e do seu apostolado. Ao chegar à costa irá encontrar casas, colégios, hospitais, prisões, asilos, mulheres grávidas etc. Em todos os homens surgirá a imagem de Jesus Cristo, que abriu o seu coração acolhendo a todos, mas especialmente aos pobres, aos doentes e às crianças. Talvez pudéssemos dar um nome a esta viagem: “Um serviço mariano no coração da Igreja”. A Igreja é mãe e cuidadora (enfermeira), como Maria – o Concílio chama-lhe “Protótipo”.

Participação e presença

Desta intimidade surge o bonito sentimento de pertença. É ao mesmo tempo participação – não o sentimento de posse – é a presença indelével própria de quem ama. Um dos que melhor compreende o “capricho” da Virgem é talvez o missionário, não querer ficar nos Santuários mas sim ir visitar os bairros, os desertos e oásis da nossa sociedade. É o paradoxo do seu amor que se cimenta numa entrega – nesta situação desigual – entre Aquela que visita e aqueles que a recebem em sua casa.

É esse amor de Maria que faz com que o missionário saia da sua comodidade para se fazer ao caminho, para satisfazer o desejo da “Amada” da Mãe. Nós, como nos foi dito, só lhe emprestamos a fala, os pés, o ouvido e o coração para que faça os milagres. É Ela – não nós – “A grande missionária”, a que “fará milagres”.

A nossa pequenez e a acção de Maria

Este contraste entre a nossa pequenez e a acção de Maria – o forte e efémero, o incompleto e o completo, a pobreza e a plenitude – é o que sustenta a Campanha. A nossa pequenez e a sua grandeza não são dimensões antagónicas e incompatíveis. “Potenciam-se”. Mas no que toca ao amor é ela sempre quem nos ganha. Os dois, Maria e o missionário unem-se num só desejo: levar Jesus e a sua graça a todos os lugares. D. João foi um exemplo vivo desta tensão – a sua autoconsciência e a pequenez da sua instrumentalidade: apenas “um burro de Maria”.

Então há que deixar que Maria “palpite” em mim, se necessário, “impiedosamente”, para que a irracionalidade do seu amor se faça carne na racionalidade da mensagem: Deus ama-me, Jesus é meu irmão, Maria é minha educadora e nós somos – como consequência – irmãos.

Certeza

Por outro lado, a Campanha é uma resposta aos amores “enlatados” dos ecrãs televisivos, o encontro fugaz e superficial ou os exageros desenfreados de um jogo de futebol.

Num tempo onde os compromissos são tão efémeros, incertos e imprevisíveis – um sinal dos tempos – onde a fragilidade nos leva a desconfiar dos outros, a Mãe oferece ao missionário e ao missionado a “sua” certeza, segurança, a marca de um amor que não defrauda. Ela é a mão estendida, o ouvido que escuta, o coração aberto e a palavra adequada que gera vida.

Quanto mais se esvaem as forças para continuar a crer em Deus, mais a Campanha se mostra um veículo instrumental da graça. “Num meio moderno, dizia o P. Kentenich, para a pastoral do futuro”.

A Mãe Peregrina irrompe na noite tornando a espera suportável

Os sinais aflitivos de rupturas sociais, pessoais e económicas são para o missionário um estímulo para seguir em frente, para continuar a lutar, para que o seu amor não acabe. Enquanto surge no mundo o ressentimento e uma incerteza cheia de temor pelo amanhã, a Mãe Peregrina irrompe na noite tornando a espera suportável. É o processo de recomposição que virá não só das estruturas, mas também das pessoas que são visitadas e transformadas por Maria.

Estes novos tempos estimulam-nos a ser criativos. Há que continuar a sentir, deixar que surja a fantasia religiosa, que novas realizações impensáveis, mobilizem as forças inéditas que existem no coração dos missionários. É o Deus da vida – a fé prática na Divina Providência – o que abre um leque de novas possibilidades.

O bom trabalho dos missionários é eficiente. Torna possível atravessar os mares da desconfiança e assumir as responsabilidades históricas que cabem hoje aos cristãos. Há que continuar a trabalhar ainda que as noites sejam curtas e frias. Das trevas surgirá a luz. É o prenúncio da primavera que ninguém pode impedir que um dia chegue. A única condição é dizer-lhe a Ela em cada amanhecer: “Aqui estou, envia-me!”

Fonte: Carta aos missionários da Campanha do Rosário, Argentina, Julho de 2012

Original: Espanhol. Trad.: Maria de Lurdes Dias, Lisboa, Portugal

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *