ESPANHA, Laura Toves •
Em casa temos duas cadelas, e digo cadelas, porque todos os nossos filhos são meninos (tem que equilibrar um pouco em casa). Uma delas é ousada, líder, independente, pouco ou nada afetuosa e orientada para objetivos. Porém, a outra é muito boazinha, é carinhosa, é uma cadela de carga, e me segue pela casa toda. —
Eu vou para a cozinha, ela vem para a cozinha. Eu vou para a sala, ela vai para a sala. Sento-me no sofá, ela se deita no chão, ao meu lado. Porém, a outra está sempre atenta e em estado de alerta, deitada em um lugar estratégico de onde observa quem entra e quem sai, quem vai e quem vem. Contudo, quando passeamos com elas, aquela que é a líder fica sentada em frente a um arbusto (ela é muito jovem) e a outra é aquela que entra em busca de coelhos ou gatos; o que é terceiro. Quando ela termina de fiscalizar, sai cheia de espinhos e pedaços de arbustos, toda feliz. Agora, se tem um coelho e este foge, então as duas vão atrás dele. Elas nunca o pegam, mas é lindo vê-las correr atrás de seu objetivo; a líder e aquela que é mais de carga.
Nos grupos humanos também existem personagens diferentes. E com eles os papéis que cada um tem que desempenhar. Alcançar o ideal de curso não é uma tarefa fácil, mas todos colaboramos e colocamos nosso grãozinho de areia, porque todos temos que nos sentir identificados. Alguns vão puxar mais para um lado, outros para o oposto, mas o interessante consiste em alcançar um ideal comum que seja ao mesmo tempo a alma e a aspiração.
Os conselhos evangélicos como aspiração à santidade
Nos últimos dois anos, como curso da União das Famílias, temos cultivado os vínculos entre todos nós. Além disso, tivemos que colocar em prática um exercício muito, muito interessante. Nada mais e nada menos que estabelecer um propósito para cada conselho evangélico.
Todo cristão é chamado a viver no espírito do Evangelho e os conselhos evangélicos são os meios ascéticos recomendados no Evangelho que, livremente e magnanimamente, aceitamos para encarnar um ideal. Costumam ser vistos como uma limitação para o livre desenvolvimento da pessoa, porém nada está mais longe da realidade. A missão dos conselhos evangélicos (pobreza, castidade e obediência) nada mais é do que dar sentido aos nossos desejos de viver e nos realizar neles. Em outras palavras, são “o combustível que meu carro precisa” e fonte de fecundidade apostólica. De fato, a mão de Deus Pai está inequivocamente imersa nos conselhos evangélicos. Desta forma, ao aplicá-los à vida, criaremos um estilo de vida de cada um e, por analogia, à vida do curso, encarnando o ideal do curso. Cada um de nós molda a sua vida conjugal e familiar seguindo a Cristo. E é precisamente neste seguimento, quando vivemos no espírito dos conselhos evangélicos como aspiração para alcançar a santidade.
Recordemos o que nos dizem os Estatutos da União: “A União Apostólica é uma comunidade de dirigentes, livre, moderna, pronta como um exército no campo de batalha, inserida no mundo que, em estreita união com a hierarquia da Igreja, no espírito dos Conselhos Evangélicos, luta pela conformação mariana do mundo em Cristo, desde Schoenstatt”.
Assim cultivamos o espírito dos Conselhos Evangélicos para que, com eles, aspiremos à mais alta santidade.
As vozes da alma, do ser e do tempo; uma ferramenta eficaz
Seguindo uma metodologia muito própria, iniciamos um discernimento à luz das vozes da alma, do ser e do tempo, com o objetivo de conquistar um propósito comum de obediência, um propósito comum de castidade e um propósito comum de pobreza, à luz do nosso ideal de curso, “semeadores de esperança”. Nos fizemos perguntas como:
- O que o tempo de hoje me fala para semear a esperança a partir da pobreza?
- O que somos e como somos para semear a esperança a partir da castidade?
- O que desejamos para semear a esperança a partir da obediência?
Aproveitamos também para fazer uma dinâmica com o objetivo de compartilhar experiências e conhecer o resto do curso neste aspecto concreto. Foi tremendamente enriquecedor e muito fácil de colocar em prática: preparamos uma série de perguntas em cartões que colocamos de cabeça para baixo. Cada um de nós escolheu uma e, se quisesse responder, o fazia com total liberdade. Se não, passava para o próximo. E logo cada um se sentiu à vontade para contar sua experiência pessoal relacionada com aquela pergunta. Desta forma compartilhamos experiências pessoais respondendo a perguntas como:
- Quando adolescente, fui obediente aos meus pais?
- O casamento foi uma consequência natural da vida ou a resposta a um chamado vocacional?
- Como o casamento nos tem educado na obediência ao meu cônjuge?
- Quando senti -concretamente- o amor de Deus em minha vida?
- Em que – especificamente – fui influenciado pelo curso ou por algum membro do curso?
- Como esposo/a, em que acredito que sou um transparente de Deus para meu cônjuge?
O curso, um trabalho em equipe
Todos nós tivemos que trabalhar juntos; o líder e aquele que está atento às necessidades dos outros, o intelectual e o impulsivo, aquele que espera o outro entrar no matagal e arregaçar as mangas e aquele que está sempre três passos à frente do outro. Pessoalmente, a experiência foi muito valiosa, não apenas porque tivemos de concordar em traçar propósitos que nos sirvam a todos, mas também porque este método reforçou os vínculos do curso: que nos conheçamos mais profundamente, que nos desfrutemos e que nos sintamos em harmonia para um caminho comum. Cristo se fez presente em todos nós por meio do Espírito Santo de tal forma que, quando estávamos “estagnados”, de repente, soprou e o propósito se materializou.
Nossa segunda consagração
Completados estes dois anos desde a primeira consagração e, tendo cumprido os objetivos propostos, anunciamos que, no dia 7 de outubro, se Deus quiser, o 5º curso da União Apostólica das Famílias da Espanha selará sua segunda consagração.
Original: Espanhol. Tradução: Melissa Rossatti, Caieras, Brasil
