URUGUAI, Alexandra Kempff / Maria Fischer •
Jorge “Toto” da Silveira, conhecido jornalista do Uruguai, morreu na terça-feira, 4 de julho, em Montevidéu, aos 79 anos. Encontrámos uma entrevista feita por Nicolás Lauber em Setembro de 2022 no Jornal El País, Uruguai, republicada em 4 de Julho de 2023 no Jornal de Carmelo, uma cidade a cerca de 75 km a norte de Colonia del Sacramento. Nesta entrevista, da Silveira fala da sua vinculação ao Santuário de Schoenstatt de Nueva Helvecia, o primeiro Santuário Filial. —
Jorge Urbano da Silveira Silva, conhecido como “Toto” da Silveira, foi um jornalista desportivo, advogado e radialista uruguaio. Cobriu, in loco, todos os Campeonatos do Mundo desde Inglaterra 1966 até ao Qatar 2022, num total de 15. A 29 de Novembro de 2022, da Silveira foi homenageado pela FIFA e pela Associação Internacional de Imprensa Desportiva (AIPS) num evento em que foram reconhecidos os profissionais que cobriram oito ou mais Campeonatos do Mundo. El “Toto” retirou-se da rádio a poucos dias – a 3 de Junho – do seu 62º aniversário no ar. “Foi um enorme privilégio, um grande prazer”, disse ele na sua despedida da rádio.
A tragédia que o levou a acreditar de novo
Aconteceu, como tudo na sua vida, em torno do trabalho. Da Silveira foi um dos enviados pelo Estadio Uno, então no Canal 4, para cobrir a final da Taça OFI entre as equipas de Tacuarembó e San José, em Durazno. Com ele estavam Enrique Yanuzzi, comentador; Rodolfo Larrea (pai de Pillo), comentador; e o diretor do programa, Julio César Sánchez Padilla, juntamente com o seu filho Nicolás.
A cobertura foi bem sucedida, mas o drama aconteceu no regresso. No regresso a Montevideu, à noite, a bordo de um Mercedes Benz conduzido por Sánchez Padilla, um dos pneus rebentou e chocaram contra um marco rodoviário na estrada 5. Larrea morreu no local e Toto da Silveira, com fracturas na anca, joelho e omoplatas, além de uma rutura do fígado e ferimentos na cabeça, foi internado nos cuidados intensivos. Era o dia 29 de Março de 1987.
Segue-se o seu relato na primeira pessoa: “Tive uma crise de fé muito grande. A minha mãe era uma mulher muito católica e teve um cancro que durou dois anos. Eu costumava ir à igreja de Punta Carretas buscar o Padre Lucas para lhe levar a comunhão. No dia em que ela morreu, vi-a sofrer tanto que disse para comigo: “Não, Deus não devia tê-la provado daquela maneira para ganhar o céu e eu deixei de acreditar. Passaram-se anos e aconteceu o acidente.
Era um Domingo às 21 horas. Que coincidência pode haver que um médico neurologista que vivia em Las Piedras e vinha da Florida com a família – um futeboleiro que me conhecia e me ouvia – tenha passado na estrada quando eu estava a esvair-me em sangue? Tinha arrancado o fémur atrás da bacia, tinha partido a perna direita, tinha rasgado o fígado e estava a desenvolver um enfisema pulmonar.
O que eu não sabia era que tinha cortado a cabeça e estava a esvair-me em sangue. Quando o médico chegou, pôs-me a mão nas costas, tocou-me na cabeça e disse-me que tinha de ser levado imediatamente para Comeca, porque não ia conseguir chegar a Montevideu.
Cheguei a Canelones com três de tensão arterial, o mínimo de sangue e desmaiei.
Santuário de Nueva Helvecia
A oração a Nossa Senhora de Schoenstatt
Uma irmã minha tinha ido a Nossa Senhora de Schoenstatt em Nueva Helvecia para rezar por mim e pediu-me para ir ver a Mãe de Deus assim que pudesse. O meu primeiro passeio em família foi ao Santuário de Schoenstatt.
Vejam só as coincidências: quem me mandaria um neurologista para o meio do nada, num Domingo à noite? Além disso, enquanto estava no Santuário, soube que enquanto eu sofria o acidente, o Santuário estava a ser profanado.
Já sentia uma ligação profunda que aumentou quando ouvi María Inés Obaldía num programa sobre Nossa Senhora de Schoenstatt e depois descobri que o Santuário tinha sido fundado por um Padre que tinha estado num campo de concentração na Alemanha e que mais tarde visitou o Uruguai.
O único campo de concentração a que eu tinha ido com fins jornalísticos, para investigar, passei dois dias com a minha mulher a ver documentos, ficava perto de Munique e era o mesmo onde o Padre Kentenich tinha estado antes de vir para cá.
Então voltei a acreditar.
Noutra ocasião, quase morri de hepatite. Quando vi a médica com um ar preocupado, disse-lhe: “Tenho um pacto com aquele que está lá em cima e que não quer que eu me vá embora por agora”. E ela respondeu-me que a fé que eu estava a transmitir naquela altura era muito importante”.
O Santuário de Nueva Helvecia completará 80 anos em 18 de Outubro de 2023 | Foto: Horacio Chavez
Original: castelhano (16/7/2023). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal
