ESPANHA, Ramón Dalmau e Lluïsa Parés •
Quando nos pediram para redigirmos algumas linhas para comentar à Família de Schoenstatt sobre o 25º Jubileu do nosso amado Santuário “Novo Pentecostes” em Valldoreix (Catalunha, Espanha), a primeira coisa que nos veio à mente foi reservar um dia no calendário que fosse livre de stress, um dia calmo, sereno e descontraído. Um dia sem responsabilidades mais ou menos imediatas. Um dia que todos sonhamos encontrar na nossa agenda… mas que, se tivermos de ser honestos, parece ser inexistente. —
No entanto, é claro, a Mãe veio rapidamente em nosso auxílio, convidando-nos a olhar mais de perto para o assunto e a não sermos tão míopes.
A situação pessoal desafiou-nos
Meditando sobre o Evangelho de hoje, no qual lemos “Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos Céus”, percebemos que hoje poderia ser um bom dia para escrever. Porquê? Porque hoje fomos informados da operação iminente de um dos nossos pais muito idosos. Uma operação que, devido a uma série de circunstâncias, implica um risco significativo. Hoje, precisamente quando toda uma avalanche de preparações, papelada, visitas imediatas para protocolos médicos de cirurgia, etc., começará a descer sobre nós. Hoje, precisamente, quando tudo isto for acrescentado à nossa lista de preocupações, que não é exactamente curta, mas em qualquer caso provavelmente mais curta do que a de muitos de vós que estão a ler isto.
Quando nos sentimos pobres em recursos, as coisas tornam-se mais claras. A pobreza convida-nos a ser humildes, a pôr de lado o nosso orgulho e a nossa auto-suficiência. Convida-nos a contemplar a realidade tal como ela realmente é. Os “pobres em espírito” são aqueles que já não dependem dos seus próprios meios, sejam eles quais forem. Eles sabem e aceitam com humilde gratidão que a sua única ajuda só pode vir do Senhor através do coração de Maria.
Preocupados com a operação, isso sim, mas tentando controlar a nossa angústia indo imediatamente sentarmo-nos em frente à imagem da Mãe no nosso Santuário-Lar, filial do Santuário “Novo Pentecostes”, as horas e mais horas de leitura dos escritos do nosso amado Pe. Kentenich vieram-nos à mente. As suas reflexões profundas. As profundas reflexões de Kentenich, as páginas lidas por outros autores de espiritualidade, as Homilias dos Padres de Schoenstatt, as palestras das Irmãs de Maria ….. Há tantas riquezas que o Senhor, pela mão de Maria, tem depositado em todos os nossos corações, por pura gratuidade!
Pe. Kentenich. O Santuário. A Mãe. A Aliança de Amor… Podemos tentar imaginar uma imagem, uma “fotografia” que de alguma forma, mesmo que de uma forma muito limitada, quer juntar tudo isto.
Como vivemos a Aliança
Tentaremos descrever esta “fotografia” abaixo:
A poucos metros da porta de um Santuário de Schoenstatt, vê-se o Pe. Kentenich a convidar todos a aproximarem-se, de facto, para entrarem no Santuário. Com o seu rosto terno, doce, gentil, com a sua voz cativante… Ele é o profeta de Maria.
Mesmo à porta do Santuário, mas sem bloquear a entrada, a Mãe. Ela é aquela que, por desígnio de Deus, acolhe com bondade celestial aqueles que se aproximam e convida-os a fazer uma Aliança de Amor com Ela.
E finalmente, aos pés do Tabernáculo, uma criança senta-se aos pés de Jesus, numa conversa íntima e cativante. Jesus instrui-o: “Tu sabes, quem me vê, vê o Pai”. Crianças perante Deus, em suma. Pessoas que aprenderam a invocar o Pai, chamando-lhe “Abba, Pai”. “A santidade é a coisa mais simples do mundo: é o amor de um filho pelo Pai” (Pe. José Kentenich) Mas então… o que deveria ser esta maravilha celestial da Aliança de Amor a que Maria nos convida?
Ora bem, ora bem. Quando consultamos fontes fiáveis, parece ser algo tremendamente simples, mas ao mesmo tempo tremendamente misterioso. De facto, desde que Jesus se tornou homem no ventre de Maria, somos convidados a ser divinizados no Coração de Maria. Mas tal como Jesus não se tornou homem a dez metros da Virgem Maria, mas sim no seu ventre virginal, assim também, oh mistério insondável! Seremos divinizados deixando-nos “imergir” no coração de Maria. Não se trata de estar “com” Maria, mas de estar “em Maria”, como nos ensina o nosso querido Padre Kentenich. É de facto uma fusão de corações. Ela em mim e eu nela.
Mas porquê? Bem, mais uma vez, e respeitando humilde e maravilhosamente o mistério, a analogia que nos espanta: Jesus foi formado no ventre de Maria, recebendo os fluxos vitais que vinham do corpo da nossa amada Mãe. Acontece que, para sermos divinizados, temos de receber a vida divina. Parece lógico, é claro. Não nos vamos divinizar fazendo exercícios sofisticados de ginástica espiritual… Bem, a Graça é a própria vida de Deus que nos é comunicada. A missão de Maria, pela vontade de Deus, é distribuir aos seus filhinhos aquela graça que flui do seio do Pai, é merecida pelo Filho e dada a nós pelo Espírito Santo.
Ela acolhe-nos nos seus braços maternos e não se contenta em acolher-nos, dedica-se a transformar-nos ao longo das nossas vidas para que Cristo possa ser formado em nós. O que acontece a seguir parece óbvio. Se bebes café, pões-te em movimento. Porque tem cafeína e isso activa-te. Se Cristo é formado em ti, e Deus é Amor… então tu começas a amar! Mas não como um actor que realiza actos externos que são alheios ao coração. Mas como um ferro ardente que está em contacto íntimo com o fogo ardente, ou seja, com Deus. A luz e o calor do teu amor, em última análise, vêm do Senhor. E lanças-te para a tua missão. Maria aponta-te, sorridentemente, qual é. E ao realizá-la, mesmo que te afastes fisicamente do Santuário, espiritualmente permaneces no coração de Maria através da tua Aliança de Amor conscientemente selada. Cristo e Maria continuam a amar em ti todos os que se cruzam no teu caminho. Não pode ser de outra forma.
Santuário
Maria estabeleceu-Se no nosso Santuário “Novo Pentecostes” em Valldoreix há 25 anos atrás. Esta é a explicação para os prodígios da graça que temos vindo a contemplar todos os dias desde então. Não é preciso ter uma grande instrução ou ser muito perspicaz para ficar espantado, perplexo, imensamente edificado, ao contemplar o amor, a alegria, a paz, a paciência, a bondade, a fidelidade, a mansidão… dos nossos queridos irmãos e irmãs da Família do Santuário “Novo Pentecostes” de Valldoreix.
Contemplando neles, em admiração, os frutos do Espírito Santo, mesmo no meio das suas cruzes, propomos como casal seguir o seu exemplo, na dinâmica da Aliança de Amor.
Escusado será dizer que, quando tivemos a oportunidade de visitar outros Santuários de Schoenstatt, na medida em que estivemos em contacto com a Família que neles se encontra abrigada, tivemos a mesma experiência que acabámos de descrever.
Celebrámos o 25º aniversário do Santuário
Passemos à celebração propriamente dita. Foi no Domingo, 16 de Outubro de 2022. As pessoas vieram de toda a Espanha. Começou com uma solene e sincera Vigília de Adoração em frente ao Santuário na noite anterior. O Domingo começou com actividades para crianças, no terreno do Santuário, que é bastante grande. Insufláveis, fantasias, jogos de futebol, e ao mesmo tempo ensaios do magnífico coro que se tinha formado para o dia. Jovens, crianças, pais e mães cantavam como anjos, sob a direcção de um jovem músico profissional da Juventude de Schoenstatt de Valldoreix.
Também foi concebida para este dia uma exposição gráfica de todas as actividades que são oferecidas no Santuário, desde os grupos típicos de Casais, Mães, Jovens e crianças, a oficinas de personalidade, Ideal Pessoal, Aliança de Amor, oração, as Quintas-feiras de Adoração Eucarística, Missas dominicais, Missões familiares, sem esquecer “Schoenstatt Colabora” – acompanhamento de pessoas que vivem na rua e ajuda permanente à Cáritas em lugares com famílias carenciadas. Certamente deixámos algo de fora, porque apesar de sermos uma Família de Schoenstatt relativamente pequena na Catalunha, há muitas actividades que são levadas a cabo com a ajuda da Mãe.
Testemunhos
Depois o nosso amado Bispo da Diocese de Terrassa, Monsenhor Salvador Cristau oficiou a Missa, o acto mais importante, concelebrando com outro Bispo e mais de dez sacerdotes: Padres de Schoenstatt de Madrid e Sacerdotes Diocesanos que estão muito próximos de Schoenstatt. Foi uma bela Missa, na qual o Bispo fez extensa referência ao seu contacto com Schoenstatt desde o seu tempo de seminarista. O ponto central da sua Homilia foi a confiança e o abandono filial absoluto que deveríamos ter em relação à Mãe. Após a celebração eucarística, pudemos partilhar uma deliciosa “paella” para todos, que nos permitiu conversar com pessoas que talvez não víssemos há algum tempo, e com irmãos e irmãs de grupos próximos. O dia terminou com testemunhos de como tinham conhecido o Santuário e experimentado as suas graças. Pudemos ouvir os jovens que tinham conhecido o Santuário desde o seu nascimento, uma peregrina que tinha acabado de selar a sua Aliança com a Mãe, um casal que tinha acabado de começar a sua incorporação no Instituto das Famílias, e também a chefe do Ramo das Mães. Todos os testemunhos foram muito comoventes e deram-nos uma amostra do dinamismo da vida que existe neste Santuário.
Partimos todos com a imensa alegria de ter partilhado um dia inesquecível em agradecimento à Mãe por nos ter dado este Santuário há 25 anos atrás, em 1997, a uma família catalã que iniciou a sua história em 1975. O número interminável de experiências em todos estes anos tem sido maravilhoso e encoraja-nos para os próximos 25 anos.
Original: castelhano (8/11/2022). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal
