ARGENTINA, Maria Fischer •
David aproximou-se de mim, um pouco tímido e com um sorriso que aquece o coração, perguntou-me: Porque estás aqui? Senti-me no “Vídeo do Papa“, no meio da sua intenção de oração para o mês de Novembro. Sentei-me no banco com David. Com Jesus. Jesus vestido de um rapaz de oito anos. “Ainda há milhões de crianças que sofrem…”, diz o Papa. “Não são números: são seres humanos com um nome, com um rosto próprio, com uma identidade que Deus lhes deu”. Eles são David e Mateo e Alma e Sofia …. E mais 300 na Casa del Niño, no bairro de San Nicolás de Florencio Varela, uma “obra de puro amor”, como a nova directora, Carolina Pellice, do Movimento dos Focolares, lhe chama. —
Chegámos na manhã de quinta-feira, 3 de Novembro, com a Gabriela Sarquis, da União das Famílias, uma voluntária da catequese e, durante alguns anos, membro do Conselho de Administração. O novo Presidente, Juan Diego Stellatelli, e Carolina Pellice, a Directora, saudaram-nos e já estávamos em plena troca de notícias e de donativos, de um compromisso social e da alegria de poder dar uma ajuda a cerca de 300 crianças… O que o Papa Francisco diz no vídeo da sua intenção para o mês de Novembro ressoa: “Cada criança marginalizada, abandonada pela sua família, sem escolaridade, sem assistência médica, é um grito! Um grito que se eleva até Deus e acusa o sistema que nós adultos construímos”. Um grito, que se ouve aqui desde 19 de Março de 1985, quando foi colocada a Pedra Fundamental que daria origem à Casa del Niño, no ano do centenário do nascimento do Padre José Kentenich, pelo que tem o seu nome.
Olha a minha arvorezinha!
Não nos restava muito tempo para conversar. Silvia Asís e estudantes da Faculdade de Farmácia e Bioquímica da Universidade de Buenos Aires estavam ali para um workshop sobre reciclagem. Com jornais, tampas de garrafas e todo o tipo de materiais normalmente deitados fora, as crianças, com a ajuda dos estudantes, estavam a criar pequenas obras de arte. Não me restava muito tempo para conversar com a Silvia e pedir-lhe um artigo, porque Mateo aproximou-se de mim com uma cara radiante: “Olha a minha arvorezinha”, disse ele, mostrando-me uma árvore de Natal de papel, pintada de verde e decorada com estrelas de plástico, encostada a uma tampa de garrafa. Alma não queria ser deixada para trás e mostrou-me um desenho sobre reciclagem. No mesmo momento, estava rodeada por outras crianças que me mostraram todas, com orgulho, as suas obras, os seus desenhos… Os estudantes, parece-me, não estavam menos orgulhosos do seu trabalho feito aqui na periferia. Não quiseram partir sem tirar uma fotografia com todas as crianças.
Um verdadeiro espírito de serviço
Com a Carolina, a Gabriela e o Juan Diego visitei a casa, o grande parque infantil, a sala de reuniões recentemente construída, o churrasco “Recebemos uns computadores como presente”, disseram-me eles, “mas não funcionaram. …. Pensámos em oferecer cursos de informática às crianças mais velhas, mas era impossível…”. Os computadores e ecrãs parecem pertencer a outra época… “Uns tablets ajudar-nos-iam muito”, diz Carolina.
Mostraram-me tudo o que conseguiram arranjar, e tudo o que ainda falta. As mulheres do bairro, cujos filhos estão na Casa, trabalham na cozinha e na limpeza. Há alguns empregados e muitos voluntários – embora, como diz Gabriela, a distância até à cidade muitas vezes impeça os jovens de se envolverem.
Cynthia Cargnelutti, uma psicóloga, e Adriana, uma professora voluntária, são do Movimento dos Focolares. Mudaram-se conscientemente para Florencio Varela para lá viverem com os pobres, na periferia, e com muito empenho, num verdadeiro espírito de serviço, trabalham na Casa del Niño. Juntos pelos pobres, disse-lhes, em referência a “Juntos pela Europa”. O diálogo flui… É aqui, na periferia, onde encontramos o “para quê” dos nossos carismas, onde vivemos aquele espírito de “juntos por…”, tão importante para Chiara Lubich, a fundadora dos Focolares, “que amava Schoenstatt e o Santuário”, como as duas me responderam.
Porque estás aqui?
Era hora de almoço para as crianças do turno da manhã. Pão de carne, puré de batata, uma maçã. Para muitos, a única refeição quente do dia, se não a única refeição do dia.
David, que me tinha convidado para lhe dizer porque estava aqui com eles (porque eu queria ver os meus amigos, vocês), queria saber se a Alemanha vai ao Campeonato do Mundo, se eu já tinha ido a um jogo do Bayern de Munique (que desilusão ao dizer-lhe que nunca) e o que comemos na Alemanha, se eu gosto de brócolos… De repente, ele perguntou-me: A Alemanha está perto da Rússia? Mais ou menos, sim… A Rússia pode invadir a Alemanha como invadiu a Ucrânia? Antes de lhe poder responder (pensando numa resposta para um rapaz de 10 anos…), ele disse: “Não tenhas medo, se eles invadirem a Alemanha, se vieres para aqui, dou-te a minha cama em casa, e eu protejo-te…”.
Enquanto David e os outros partem e nós comemos e trocamos ideias e enquanto as crianças do turno da tarde vêm comer, eu continuo a pensar nesta criança generosa, tão amiga… Como e onde é que ele vai estar daqui a 20, 30 anos? Não sabemos. Mas uma memória do amor recebido na Casa del Niño permanecerá no seu coração, para sempre.
Um dia na Casa del Niño. Boa Nova. Alegria no Evangelho e sim, alegria na igreja.
Conta Bancária na Argentina Nome: Casa del Nino Padre José Kentenich Conta Bancária na Alemanha (Zona SEPA) Original: castelhano (8/11/2022). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal
Donativo online
Conta: 4002-500061/0
CBU: 01400021-01400202698121
Banco: Banco de la Provincia de Buenos Aires
Swift: PRBAARBA
info@casadelnino.org.ar
Nombe: Schoenstatt-Patres International
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BIC: GENODEM1DKM
Transferência ao cuidado de: Casa del Niño P. Kentenich