Posted On 2015-02-20 In Francisco - Mensagem

O Senhor jamais se cansa de ter misericórdia de nós

FRANCISCO EM ROMA, vis. Ontem, Quarta-feira de Cinzas, o Santo Papa presidiu a tradicional procissão penitencial que saiu da Igreja de Santo Anselmo de Aventino até a Basílica de Santa Sabina, na mesma colina romana. Participaram muitos cardeais, arcebispos e bispos, além dos monges beneditinos de Santo Anselmo, os padres dominicanos de Santa Sabina e fiéis. Depois da procissão, Francisco presidiu a Celebração Eucarística com o rito da bênção e imposição das cinzas. O Papa recebeu as cinzas das mãos do Cardeal Josef Tomnko, titular da basílica, e depois impôs aos cardeais, alguns monges e fiéis.

Texto completo da homilia do Santo Papa na Quarta-feira de Cinzas

 

Como povo de Deus, hoje começamos o caminho da Quaresma, um tempo no qual procuramos nos unir mais estreitamente ao Senhor Jesus Cristo, para participar do mistério de sua paixão e ressurreição.

Em primeiro lugar, a liturgia da Quarta-feira de Cinzas nos propõe a passagem do profeta Joel, enviado por Deus para chamar as pessoas ao arrependimento e à conversão, por causa de uma calamidade (uma invasão de lagostas) que devastava a Judeia. Só o Senhor pode salvar do flagelo; para isso, é preciso suplicar-Lhe com orações e jejuns, confessando o próprio pecado.

O profeta insiste na conversão interior: “Voltai para mim o vosso coração” (2,12). Voltar ao Senhor “com todo o coração” significa trilhar o caminho de uma conversão não superficial e transitória, mas, sim, um itinerário espiritual que esteja relacionado com o lugar mais íntimo de nosso ser. O coração, de fato, é o centro de nossos sentimentos, o centro no qual nossas decisões e nossas atitudes amadurecem.

Aquele “voltai a mim de todo coração” não implica apenas o indivíduo, porque se estende a toda comunidade; é uma convocação dirigida a todos: “congregai o povo, realizai cerimônias de culto, reuni anciãos, ajuntai crianças e lactentes; deixe o esposo seu aposento, e a esposa, seu leito” (vers. 16).

O profeta se detém particularmente nas orações dos sacerdotes, fazendo observar que deve ser acompanhada de lágrimas. Será bom para nós pedir, no início desta Quaresma, o dom das lágrimas, para fazer assim nossa oração e nosso caminho de conversão sempre mais autênticos e sem hipocrisia.

É justamente essa a mensagem do Evangelho de hoje. Na passagem de Mateus, Jesus volta a ler as três obras de piedade previstas pela lei mosaica: a esmola, a oração e o jejum. Com o tempo, essas disposições tinham sido deturpadas pela ferrugem do formalismo exterior; inclusive, tinham se transformado em sinal de superioridade social. Jesus põe em evidência uma tentação comum nessas três obras, que podem ser resumidas como hipocrisia (ele a cita três vezes): “Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles… Quando deres esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas… Quando orares, não sejais como os hipócritas… que gostam de rezar em pé… para serem vistos pelos homens… Quando jejuares, não fiqueis com o rosto triste como os hipócritas” (Mt 6, 1.2.5.16).

Quando realizamos algo bom, quase instintivamente nasce em nós o desejo de sermos estimados e admirados por essa boa ação, para ter uma satisfação própria. Jesus nos convida a cumprir essas obras sem nenhuma ostentação e a confiar apenas na recompensa do Pai que “vê o que está escondido” (Mt 6, 4.6.18).

Queridos irmãos e irmãs, o Senhor nunca se cansa de ter misericórdia de nós; Ele quer nos oferecer mais uma vez seu perdão, convidando-nos a voltar a Ele com um coração novo, purificado do mal, para fazer parte de sua alegria. Como acolher esse convite? São Paulo nos sugere, na segunda leitura de hoje: “Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus” (2Cor 5,20). Esse esforço de conversão não é apenas uma obra humana. A reconciliação entre nós e Deus é possível graças à misericórdia do Pai que, por amor a nós, não hesitou em sacrificar seu Filho Unigênito. De fato, o Cristo, que era justo e sem pecado, se fez pecado por nós (vers.21) quando sobre a cruz carregou os nossos pecados e assim nos resgatou e redimiu perante Deus. “Nele”, nós podemos voltar a ser justos; nele podemos mudar, se acolhermos a graça de Deus e não deixarmos passar em vão o “momento favorável” (6,2).

Com essa consciência, iniciamos confiantes e felizes o itinerário quaresmal. Que Maria Imaculada nos ajude em nossa luta espiritual contra o pecado, nos acompanhe neste momento favorável, para que possamos chegar a cantar juntos a alegria da vitória na Páscoa da Ressurreição.

Daqui a pouco cumpriremos o gesto de imposição das cinzas na cabeça. O celebrante pronuncia estas palavras: “Lembra-te de que és pó e ao pós voltarás” (Gen 3,19); ou também repete a exortação de Jesus: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Ambas as fórmulas são um chamado à verdade da existência humana: somos criaturas limitadas, pecadores sempre necessitados de arrependimento e conversão. Como é importante escutar e acolher esse chamado em nosso tempo! O convite à conversão é, então, um impulso para regressar, como o filho da parábola, aos braços de Deus, Pai terno e misericordioso, a confiarmos n’Ele e a confiarmos a Ele.

Fonte: Radio Vaticano

Original em espanhol. Tradução: Maria Rita Fanelli Vianna – São Paulo / Brasil

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