Posted On 2014-12-17 In Francisco - Mensagem

Francisco: “Que o futuro da América Latina seja construído para os pobres e para os que sofrem”

FRANCISCO EM ROMA, rd. Os povos e as nações Grande Pátria latino-americana comemoraram na Basílica de São Pedro, com Francisco, a festividade de sua “padroeira”, Nossa Senhora de Guadalupe.  Na solene concelebração eucarística dessa tarde, totalmente em castelhano, e presidida pelo Papa Francisco – durante a qual se escutaram as notas da “Missa Crioula”, do compositor argentino Ariel Ramírez – Bergoglio convidou a confiar a Maria a vida dos povos americanos e a missão continental da Igreja.

“A Santa Mãe de Deus não apenas visitou esses povos, mas quis também ficar com eles… Por isso, nós, aqui, hoje, podemos continuar louvando a Deus pelas maravilhas que Ele realizou na vida dos povos latino-americanos”, observou o Pontífice, lembrando que “Deus escondeu estas coisas dos sábios e entendidos, dando-as a conhecer aos pequenos, aos humildes, aos simples de coração”.

“À sua luz, nos sentimos impelidos a pedir que o futuro da América Latina seja construído para os pobres, para os que sofrem e para os humildes; para que têm fome e sede justiça, para os compassivos, para os de coração puro; para os que trabalham pela paz; para os perseguidos por causa do nome de Cristo, ‘porque deles é o Reino dos céus’”.

“A América Latina é o continente da esperança”, repetiu Francisco, também “porque dali se esperam novos modelos de desenvolvimento, que combinem tradição cristã e progresso civil, justiça e igualdade com reconciliação, desenvolvimento científico e tecnológico com sabedoria humana, sofrimento fecundo com alegria esperançosa”.

“Só é possível oferecer essa esperança com grandes doses de verdade e amor, fundamentos de toda a realidade, motores revolucionários da autêntica vida nova”.

“Suplicamos à Santíssima Virgem Maria, em sua invocação guadalupana – à Mãe de Deus, à Rainha, à minha Senhora, à minha jovenzinha, à minha pequena, como a chamou São João Diego, e com  todos os apelativos carinhosos que a Ela são dirigidos na piedade popular – que continue acompanhando, auxiliando e protegendo nossos povos”.

 

Texto da homilia

“Que os povos todos vos louvem.

Tende piedade de nós e abençoai-nos;

voltai, Senhor, a nós os vossos olhos.

Que toda a terra conheça vossa bondade e os povos, vossa obra redentora.

As nações com júbilo vos cantem,

porque julgais o mundo com justiça (…) (Salmo 66).

A oração do salmista, de súplica de perdão e bênção  para os povos e nações e, por outro lado, de alegre louvor, expressa o sentido espiritual dessa Celebração Eucarística.  São os povos e as nações de nossa Grande Pátria latino-americana que hoje comemoram, com gratidão e alegria, a festividade de sua “padroeira”, Nossa Senhora de Guadalupe, cuja devoção se estende do Alasca até a Patagônia.  E com o Arcanjo Gabriel e Santa Isabel até nós, eleva-se nossa oração filial: “Deus te salve, Maria, tu és cheia de graça, o Senhor está contigo…”.

Nesta festividade de Nossa Senhora de Guadalupe, fazemos memória agradecida de sua visita e companhia materna; cantaremos com Ela seu Magnificat; confiamos a ela a vida de nossos povos e a missão continental da Igreja.

Quando ela apareceu a São João Diego, em Tepeyac, apresentou-se como “a perfeita sempre Virgem Santa Maria, Mãe do verdadeiro Deus” (Nican Mopohua); e aconteceu uma nova visitação.  Correu pressurosa para abraçar também os novos povos americanos, em dramática gestação.  Como um “grande sinal no céu… uma mulher vestida de sol, com a lua sob seus pés”, ela assume em si o simbolismo cultural e religioso dos indígenas, e anuncia e oferece seu Filho aos novos povos de miscigenação desgarrada.

Tantos exultaram de alegria e esperança diante de sua visita e diante do dom de seu Filho; a mais perfeita discípula do Senhor se converteu na “grande missionária que trouxe o Evangelho à nossa América”.  O Filho de Maria Santíssima, Imaculada grávida, revela-se assim a partir do começo da história dos novos povos como “o verdadeiro Deus por quem se vive”, boa nova da dignidade filial de todos seus habitantes.  Já ninguém mais é servo, mas todos somos filhos de um mesmo Pai e irmãos entre nós.

A Santa Mãe de Deus não apenas visitou esses povos, mas quis também ficar com eles.  Misteriosamente, deixou estampada sua sagrada imagem no “manto” de seu mensageiro, para que a tivéssemos bem presente, convertendo-se assim em símbolo da aliança de Maria com esses povos, ao qual ela confere alma e ternura.

Por sua intercessão, a fé cristã foi se convertendo no mais rico tesouro da alma dos povos americanos, cuja pérola preciosa é Jesus Cristo: um patrimônio que se transmite e manifesta até hoje no batismo de multidões de pessoas, na fé, esperança e caridade de muitos, na preciosidade da piedade popular e também nesse costume dos povos que se mostra na consciência de dignidade da pessoa humana, na paixão pela justiça, na solidariedade para com os mais pobres e sofredores, na esperança, às vezes contra toda esperança.

 

Por isso, nós, aqui, hoje, podemos continuar louvando a Deus pelas maravilhas que Ele realizou na vida dos povos latino-americanos.  Deus, conforme seu estilo,  “escondeu estas coisas dos sábios e entendidos, dando-as a conhecer aos pequenos, aos humildes, aos simples de coração”.  Nas maravilhas que o Senhor realizou em Maria, Ela reconhece seu estilo e o modo de atuar de seu Filho na história da salvação.  Derrubando os juízos mundanos, destruindo os ídolos do poder, da riqueza, do êxito a qualquer preço, denunciando a autossuficiência, a soberba e os messianismos seculares que afastam de Deus, o cântico mariano proclama que Deus se compraz em subverter as ideologias e hierarquias mundanas.

Enaltece os humildes, vem em auxílio dos pobres e pequenos, culmina de bens, bênçãos e esperanças os que confiam em sua misericórdia, de geração a geração, enquanto derruba de seus tronos os ricos, poderosos e dominadores.  O Magnificat nos introduz às “bem-aventuranças”, síntese primordial da mensagem evangélica.  À sua luz, nos sentimos impelidos a pedir que o futuro da América Latina seja construído para os pobres, para os que sofrem e para os humildes; para que têm fome e sede justiça, para os compassivos, para os de coração puro; para os que trabalham pela paz; para os perseguidos por causa do nome de Cristo, ‘porque deles é o Reino dos céus’”.

E fazemos este pedido porque a América Latina é o “continente da esperança”!, porque dali se esperam novos modelos de desenvolvimento, que combinem tradição cristã e progresso civil, justiça e igualdade com reconciliação, desenvolvimento científico e tecnológico com sabedoria humana, sofrimento fecundo com alegria esperançosa.

Só é possível oferecer essa esperança com grandes doses de verdade e amor, fundamentos de toda a realidade, motores revolucionários de autêntica vida nova.

Coloquemos essas realidades e estes desejos na mesa do altar, como oferenda agradável a Deus.  Suplicando seu perdão e confiando em sua misericórdia, celebramos o sacrifício e a vitória pascal de Nosso Senhor Jesus Cristo.  Ele é o único Senhor, o “libertador” de todas nossas escravidões e misérias decorrentes do pecado.  Ele nos chama a viver a verdadeira vida, uma vida mais humana, uma convivência de filhos e irmãos, abertas já as portas da “nova terra e de novos céus”.

Suplicamos à Santíssima Virgem Maria, em sua invocação guadalupana – à Mãe de Deus, à Rainha, à minha Senhora, à minha jovenzinha, à minha pequena, como a chamou São João Diego, e com todos os apelativos carinhosos que a Ela são dirigidos na piedade popular – que continue acompanhando, auxiliando e protegendo nossos povos.  E que conduza a mão de todos os filhos que peregrinam nessas terras ao encontro de seu Filho, Jesus Cristo, Nosso Senhor, presente na Igreja, em sua sacramentalidade, especialmente na Eucaristia, presente no tesouro de sua Palavra e ensinamentos, presente no santo povo fiel de Deus, nos que sofrem e nos humildes de coração.  Que assim seja! Amém!

 

Original em espanhol. Tradução para o Português: Maria Rita Fanelli Vianna – São Paulo / Brasil

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