Posted On 2014-11-27 In Francisco - Mensagem

Sempre em movimento, sempre aberto às respostas de Deus

FRANCISCO EM ROMA, mda. Ser Movimento, disse o Santo Papa Francisco, é estar sempre em movimento, sempre aberto às surpresas de Deus; participar da missão de Cristo, que nos precede e acompanha na evangelização.  Diante dos desafios de hoje – como a vida, a família, a paz, a pobreza, a liberdade religiosa e de educação, em um mundo que se esquece de Deus e coloca o consumo no centro – renovar sempre o “primeiro amor”, com coragem evangélica e perseverando no carisma original, “respeitar a liberdade das pessoas” e “buscar sempre a comunhão”: estas são as três sugestões – para o caminho de fé e de vida eclesial – que, 22 de novembro último, o Papa Francisco apresentou aos participantes do Terceiro Congresso Mundial de Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades.

Com firmeza e ternura, de maneira paternal em seu pleno sentido, Francisco indica os perigos que os movimentos e as novas comunidades enfrentam, que não são os medos vigentes durante tantos anos: a Igreja temendo a novidade dos movimentos, e estes buscando, às vezes desesperadamente, a benevolência da hierarquia.  Nada a ver!  Para Francisco, os movimentos são parte viva da Igreja e têm valor na medida em que servem à Igreja, à sua missão evangelizadora, porque: “Os Movimentos e as Novas Comunidades que os senhores representam estão se encaminhando rumo a um sentido mais profundo de pertença à Igreja, uma maturidade que exige vigilância no caminhar da conversão diária”.

Francisco adverte a respeito das consequências concretas e perigosas de institucionalizar, do ensimesmar-se, do funcionalismo e formalismo, do encerrar-se em esquemas estéreis

“Se não estamos abertos à missão, a conversão não é possível e a fé se torna estéril”.

“À medida que passa o tempo, surge uma grande tentação de se acomodar, de se acostumar a uma rotina que, ainda que possa ser reconfortante, com certeza se torna estéril”.

“Ainda quando seja necessária uma certa institucionalização do carisma para sua sobrevivência, não devemos nos enganar em pensar que as estruturas externas podem garantir a obra do Espírito Santo”.

“Se as formas e os métodos se defendem por si mesmos, tornam-se ideológicos, afastados da realidade que está em contínua evolução; fechados às novidades do Espírito, acabarão sufocando o próprio carisma que lhes foi gerado”.

“A novidade de suas experiências não consiste nos métodos e nas formas, ainda que sejam importantes, mas sim na disposição para responder com renovado entusiasmo o chamado do Senhor”.

“É preciso resistir à tentação de se substituir a liberdade das pessoas, de dirigi-las sem esperar que realmente amadureçam”.

“Um progresso moral ou espiritual conseguido sobre a imaturidade das pessoas é um êxito aparente, destinado a naufragar”.

“Nossos irmãos e irmãs são sempre mais valiosos do que nossas atitudes pessoais;  de fato, é por nossos irmãos e irmãs que Cristo derramou seu sangue (1Pedro 1, 18-19); não derramou por minhas ideias!”.

Sempre em movimento e a serviço: um “decálogo de movimento”

A partir do nome e da identidade de “Movimentos”, Francisco alerta os movimentos para estarem sempre em movimento… nesse movimento, que é fruto do Espírito Santo como dom, e de abertura às surpresas de Deus como tarefa a cumprir, dia após dia.  Acompanhar desinteressadamente aos irmãos, sair ao encontro, e tudo isso na Igreja: isto, disse Francisco, mantém vivo o carisma.. e fecundo.  O “decálogo” de Francisco para estimular os movimentos:

“Em primeiro lugar, é preciso preservar o frescor de seu carisma, nunca perder esse frescor, o frescor de seu carisma, renovando sempre o ‘primeiro amor’ (cf. Ap 2,4)”.

“É preciso voltar sempre à fonte dos carismas e assim poderão voltar a encontrar o impulso para enfrentar os desafios de hoje”.

“Não são simplesmente um pequeno grupo.  Não!  São mais que um movimento, sempre em caminho, sempre em movimento, sempre aberto às surpresas de Deus que estão em harmonia com o primeiro chamado ao movimento, quer dizer, o carisma fundador”.

“… acompanhando sempre sem ser ‘teatreiros’ e sem fazer espetáculo.  Pelo contrário, a educação cristã exige um acompanhamento paciente, que sabe esperar os tempos de cada um, como o Senhor age com cada um de nós; a paciência é o único caminho para amar de verdade e levar as pessoas a uma relação sincera com o Senhor”.

“A verdadeira comunhão não pode existir em um movimento ou em uma nova comunidade se não se integra na comunhão maior que é nossa Santa Mãe Igreja hierárquica.  ‘O todo é superior à parte’ (cf. Evangelii Gaudium, 234-237), e parte tem sentido em relação ao todo”.

“A comunhão consiste também em enfrentar juntos e unidos as questões mais importantes, como a vida, a família, a paz, a luta contra a pobreza em todas as suas formas, a liberdade religiosa e de educação”.

“Particularmente, os movimentos e as comunidades são chamados a colaborar para contribuir na cura das feridas produzidas por uma mentalidade globalizada que coloca o consumo no centro, esquecendo-se de Deus e dos valores essenciais da existência”.

“Entretanto, não se esqueçam de que, para alcançar essa meta, a conversão deve ser missionária: a força para superar as tentações e as insuficiências proveem da alegria profunda de proclamar o Evangelho, que é a base de seus carismas”.

“Adiante, sempre em movimento… nunca se detenham, sigam em movimento!”.

“Agora, lhes peço para, juntos, rezarmos à nossa Mãe, que teve a experiência de se manter no caminho, respeitando o tempo de cada pessoa.  Nunca se cansou de ter esse coração missionário”.

Texto completo do discurso do Papa Francisco aos participantes do Terceiro Congresso Mundial dos Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Saúdo cordialmente a todos os que participam neste Congresso organizado pelo Conselho Pontifício para os Leigos.  Agradeço ao Cardeal Rylko por suas palavras, assim como ao Arcebispo Clemens.   Entre suas deliberações nestes dias, existem dois elementos que são essenciais para a vida cristã: conversão e missão.  Ambos estão intimamente conectados.  Na verdade, sem uma autêntica conversão do coração e da mente, o Evangelho não pode ser proclamado; ao mesmo tempo, se não estamos abertos à missão, a conversão não é possível e a fé se torna estéril.  Os Movimentos e as Novas Comunidades, que os senhores representam, encaminham-se rumo ao sentido mais profundo de pertença à Igreja, uma maturidade que exige vigilância no caminho da conversão diária.  Isso permitirá uma evangelização ainda mais dinâmica e frutífera.  Gostaria, portanto, de lhes oferecer algumas sugestões para seu caminho na fé e na vida eclesial.

Preservar o frescor do carisma

1. Em primeiro lugar, é preciso conservar o frescor do seu carisma, nunca perder esse frescor, o frescor do seu carisma, renovando sempre o ‘primeiro amor’ (cf. Ap 2,4).  À medida que o tempo passa, surge uma grande tentação de se acomodar, de se acostumar com uma rotina que, ainda que possa ser reconfortante, com certeza se torna estéril.  Existe a tentação de ficar confinados no Espírito Santo: isto é uma tentação!  Entretanto, “a realidade é superior à ideia” (cf. Evangelii Gaudium, 231-233); ainda quando seja necessária uma certa institucionalização do carisma para sua sobrevivência, não devemos nos enganar pensando que as estruturas externas podem garantir a obra do Espírito Santo.  A novidade de suas experiências não consiste nos métodos e nas formas, ainda que sejam importantes, mas sim na disposição para responder com renovado entusiasmo ao chamado do Senhor: é essa valentia evangélica que permitiu o nascimento de seus movimentos e novas comunidades.  Se as formas e os métodos se defendem por si mesmos, se tornam ideológicos, distantes da realidade que está em contínua evolução; fechados às novidades do Espírito, acabarão sufocando o próprio  carisma que lhes foi gerado.  É preciso voltar sempre à fonte dos carismas e, assim, poderão voltar a encontrar o impulso para enfrentar os desafios de hoje.  Os senhores não foram educados nessa espiritualidade.  Não colaboraram na instituição de espiritualidade nesse sentido.  Não são simplesmente um pequeno grupo.  Não!  São bem mais que um movimento, sempre a caminho, sempre em movimento, sempre aberto às surpresas de Deus que estão em harmonia com o primeiro chamado do movimento, quer dizer, o carisma fundador.

Acompanhar os homens de nosso tempo

2. Outro tema se refere à forma de acolher e acompanhar os homens de nosso tempo, particularmente os jovens (cf. Evangelii Gaudium, 105-106).  Fazemos parte de uma humanidade ferida, onde todas as agências educativas, em especial a mais importante, a família, têm graves dificuldades quase no mundo todo.  O homem de hoje vive sérios problemas de identidade e tem dificuldades para cumprir suas próprias opções, porque tem uma disposição a se deixar condicionar, a delegar aos outros as decisões importantes da vida.  É preciso resistir à tentação de se substituir a liberdade das pessoas, de dirigi-las sem esperar que realmente amadureçam.  Cada pessoa tem seu tempo: caminha de seu modo e isto é o que devemos acompanhar.  Um progresso moral ou espiritual conseguido a partir da imaturidade das pessoas é um êxito aparente, destinado a naufragar.  Poucos, acompanhando sempre sem ser ‘teatreiros’ e sem fazer espetáculo.  Pelo contrário, a educação cristã exige um acompanhamento paciente, que sabe esperar o tempo de cada um, como o Senhor age com cada um de nós; a paciência é o único caminho para amar de verdade e levar as pessoas a uma relação sincera com o Senhor.  Nossos irmãos e irmãs são sempre mais valiosos do que nossas atitudes pessoais.

Nossos irmãos e irmãs sempre são mais valiosos do que nossas atitudes pessoais

3. Outra indicação que não pode ser esquecida é que o bem mais precioso, o selo do Espírito Santo, é a comunhão. É a graça suprema que Jesus nos conquistou na Cruz, a graça que o Ressuscitado incessantemente suplica para todos nós, quando mostra ao Pai suas gloriosas feridas, ‘Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste’ (Jo 17,21).  Para que o mundo creia que Jesus é o Senhor, precisa perceber a comunhão entre os cristãos; porém, se só se percebem divisões, rivalidades e maledicências,  o terrorismo da intriga, por favor… se isso é visto, por qualquer motivo que seja, como se pode evangelizar?  Lembrem-se deste outro princípio: “A Unidade prevalece sobre o conflito” (cf. Evangelii Gaudium, 226-230), porque nossos irmãos e irmãs sempre são mais valiosos do que nossas atitudes pessoais; de fato, é por nossos irmãos e irmãs que Cristo derramou seu sangue (1Pd 1, 18-19); não foi derramado por minhas ideias!  Além disso, a verdadeira comunhão não pode existir em um movimento ou em uma nova comunidade que não se integra na comunhão maior que é nossa Santa Mãe Igreja Hierárquica.  “O todo é superior à parte” (cf. Evangelii Gaudium, 234-237) e a parte tem sentido em relação ao todo.  Além disso, a comunhão consiste também em enfrentar juntos e unidos as questões mais importantes, como a vida, a família, a paz, a luta contra a pobreza em todas suas formas, a liberdade religiosa e de educação.  Particularmente, os movimentos e as comunidades são chamados a colaborar para contribuir na cura das feridas produzidas por uma mentalidade globalizada que coloca o consumo no centro, esquecendo-se de Deus e dos valores essenciais da existência.

Toda missão é um compartilhar da missão de Cristo

Para alcançar a maturidade eclesial, portanto, conservem – lhes repito – o frescor de seu carisma, respeitem a liberdade de cada pessoa, e busquem sempre a comunhão.  Não obstante, não se esqueçam de que, para alcançar a meta, a conversão deve ser missionária: a força para superar as tentações e as insuficiências surgem da alegria profunda de proclamar o Evangelho, que á base de seus carismas.  De fato, “Quando a Igreja convoca a tarefa evangelizadora, não faz mais do que indicar aos cristãos o verdadeiro dinamismo da realização pessoal” (Evangelii Gaudium, 10), a verdadeira motivação para a renovação da própria vida, já que toda missão é um compartilhar da missão de Cristo que sempre nos precede e acompanha na tarefa da evangelização.

Queridos irmãos e irmãs, já ofereceram tantos frutos à Igreja e ao mundo todo.  Poderão oferecer ainda outros maiores, com a ajuda do Espírito Santo, que sempre suscita e renova dons e carismas, e pela intercessão de Maria que não cessa de socorrer e acompanhar seus filhos.  Avante, sempre em movimento… nunca se detenham, sigam em movimento!  Eu lhes prometo minha oração e lhes peço que rezem por mim – eu preciso muito, de verdade – e de coração lhes concedo a Bênção Apostólica.

Agora, peço-lhes que juntos rezemos à nossa Mãe que teve a experiência de manter vivo o frescor do primeiro encontro com Deus, de seguir adiante com humildade, sempre em caminho, respeitando o tempo de cada pessoa.  Jamais se cansou de ter esse coração missionário.

Deus te salve, Maria….

Vídeo.

Original: espanhol. Tradução: Maria Rita Fanelli Vianna – São Paulo / Brasil

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