Posted On 2014-10-23 In Dilexit ecclesiam

Portas abertas

VATICANO, mda. Os padres sinodais, na tarde de sábado, 18 de outubro, votaram e aprovaram a Relatio Synodi, o documento que servirá para continuar a trabalhar durante este ano de preparação para o Sínodo Ordinário de 2015 sobre a família. A votação realizou-se, a pedido do Papa Francisco, ponto por ponto. A pedido do Papa, junto com o documento – por agora só publicado em italiano – anexa-se também uma tabela com o número de votos a favor e contra.

Um dia histórico. O Sínodo Extraordinário de Bispos reunido para debater os desafios da família concluiu a sua primeira etapa aprovando a “Relatio Synodi” (documento de trabalho), com uma ampla maioria – os 62 pontos foram aprovados por maioria absoluta, e apenas três (os pontos 52, 53 e 55) não obtiveram dois terços-, no qual foi acordado continuar a trabalhar pelo acesso à comunhão dos divorciados que voltaram a casar, reconhecem-se os “elementos positivos presentes nos casais civis e com as devidas diferenças, nas uniões de facto” e se impulsiona a acolher os homossexuais “”com respeito e delicadeza”.

O documento consta de 62 pontos, mais extenso do que o documento preliminar apresentado na segunda-feira.

A ampliação das primeiras partes do documento, foi solicitada pelos círculos menores. A petição era não falar só das dificuldades, mas também mostrar a parte positiva da família cristã, para que fosse assim um documento mais equilibrado.

O porta-voz da Santa Sé, padre Frederico Lombardi, indicou na conferência de imprensa que os modos (emendas à Relatio) apresentados pelos círculos menores foram 470, uma média de 50 modos por grupo. Alguns apresentaram 80, outros 30, indicou.

Junto ao documento da Relatio Synodi, anexou-se também uma tabela onde se pode ver o número de votos a favor e contra que recebeu cada ponto do documento. Algo que o Papa desejou, por transparência e clareza. Para a aprovação, era necessário alcançar dois terços dos votos.

Tal e como se pode ver na dita tabela, há três pontos que alcançaram maioria absoluta, mas não alcançaram a dita maioria de dois terços. São os pontos 52, 53 e 55, referentes ao acesso à comunhão dos divorciados que voltaram a casar, à comunhão espiritual e sobre as pessoas homossexuais.

“Um discurso maravilhoso”

Sem chegar a nenhum acordo final – para isso terá que se esperar até outubro de 2015 -, a maioria moderada, com o apoio do Papa Francisco – o qual pronunciou um “discurso maravilhoso” segundo anunciou Frederico Lombardi-, conseguiu manter no debate todos e cada um dos temas que apareceram na passada segunda-feira na “relatio postdisceptationem”: a denúncia contra a violência relativamente às mulheres, a proximidade aos que sofrem problemas derivados de situações familiares (divórcios, ruturas, má relação com os filhos) e três questões em debate: a aceitação de outras formas de convivência não canónicas; o acesso dos divorciados que voltaram a casar aos sacramentos; e os acolhimento aos homossexuais.

Todas estas reflexões terão que ser agora “amadurecidas e analisadas pelas Igrejas locais” para preparar o caminho do Sínodo de outubro de 2015. O que parece claro é que esta noite os padres sinodais, com Francisco a presidir, abriram uma porta que será impossível fechar.

Um diálogo aberto, de coração a coração

“Este Sínodo foi um diálogo aberto de coração a coração sobre a família”, são palavras de Mons. Carlos Aguiar Retes, Presidente do CELAM ao concluir a apresentação da Mensagem Final da III Assembleia Extraordinárias do Sínodo dos Bispos.

O prelado mexicano narrando a sua experiência sinodal ressaltou que é “um caminho aberto que conclui no próximo ano com a Assembleia Ordinária”. Além disso, o Bispo de Tialnepantia assinalou que este sínodo foi uma resposta ao “chamamento do Papa Francisco, que nos convidou a expressar o que levamos dentro do coração sobre as preocupações da família e o seu contexto atual”.

Para viver plenamente a vida e responder com valentia aos incessantes novos desafios

“O cristão olha a realidade futura, a realidade de Deus, para viver plenamente a vida – com os pés bem assentes na terra – e responder, com valentia, aos incessantes novos desafios, disse o Papa Francisco no dia 19 de outubro, na Missa de Encerramento. “Vimo-lo estes dias durante o Sínodo extraordinário dos Bispos – “sínodo” quer dizer “caminhar juntos” – E, de facto, pastores e laicos de todas as partes do mundo trouxeram a Roma a voz das suas Igrejas particulares para ajudar as famílias de hoje a continuar o caminho do Evangelho, com o olhar fixo em Jesus. Foi uma grande experiência, na qual vivemos a sinodalidade e a colegialidade, e sentimos a força do Espírito Santo que guia e renova sem cessar a Igreja, chamada, com urgência, a cuidar das feridas abertas e a devolver a esperança a tantas pessoas que a perderam.

Por este dom deste Sínodo e pelo espírito construtivo com que todos colaboraram, com o Apóstolo Paulo, “damos graças a Deus por todos vós e temo-los presentes nas nossas orações” (1 Ts 1,2). E que o Espírito Santo que, nestes dias intensos, nos concedeu trabalhar generosamente com verdadeira liberdade e humilde criatividade, acompanhe agora, nas Igrejas de toda a terra, o caminho de preparação do Sínodo Ordinário dos Bispos do próximo mês de outubro de 2015. Semeámos e continuaremos a semear com paciência e perseverança, com a certeza de que é o Senhor quem dá o crescimento (cf. 1 Co 3,6).


Original: espanhol – Tradução: Maria de Lurdes Dias, Lisboa, Portugal

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