JMJ LISBOA 2023, Maria Fischer •
“Tudo em Portugal é agora uma alegria graças a Francisco. Os meus olhos enchem-se de lágrimas. Uma rapariga de 15 anos, que estava no passeio à espera de ver o Papa, gritou a plenos pulmões: “Eu amo o Papa”. A verdadeira alma de Portugal está a brotar agora”. Lena Castro, da equipa de schoenstatt.org, sabe como resumir a experiência do dia da chegada do Papa Francisco a Portugal, que começou com jovens e menos jovens a correrem para cumprimentar o Papa à saída do aeroporto e terminou com o seu encontro pessoal com vítimas de abusos por parte de sacerdotes. —
Esta tarde, depois de concluídos os encontros institucionais e eclesiais, com mensagens profundas e programáticas, o Papa Francisco recebeu na Nunciatura um grupo de 13 pessoas, vítimas de abusos por parte de membros do clero, acompanhadas por alguns representantes de instituições eclesiásticas portuguesas responsáveis pela proteção de menores”, refere a nota da sala de imprensa da Santa Sé. “O encontro decorreu num clima de intensa escuta e durou mais de uma hora, terminando pouco depois das 20h15”, conclui o comunicado oficial. Uma hora com o Papa não pode curar as feridas. Nem pode trazer justiça, e muito menos garantir que algo tão horrível não volte a acontecer. Mas uma hora com o Papa pode dar um momento de consolação, um momento de atenção, de reconhecimento. Ele recebeu-os um a um e pediu-lhes perdão.
A Igreja precisa de “uma purificação humilde e constante, a partir do grito de dor das vítimas, que devem ser sempre acolhidas e escutadas”.
Eles correm para saudar o Papa
Antes de partir para esta viagem de encontro com milhares de jovens, o Papa – como sempre – encomendou-se a Maria, indo em peregrinação à Basílica de Santa Maria Maggiore para rezar diante do ícone da Virgem Salus Populi Romani.
Às 9 h 44 (hora local) o avião que transportava o Papa aterrou na base aérea de Figo Maduro (Portugal). O piloto tirou a bandeira do Vaticano para a hastear, juntamente com a bandeira portuguesa, no cockpit do avião e aproximou-se lentamente do terminal. O Papa chegou a Portugal, como é que vai ser recebido?
Algum tempo depois, a ansiedade foi pulverizada quando os automobilistas presos num engarrafamento na faixa de rodagem em sentido contrário saíram para saudar o Papa que passava. Alguns quilómetros mais adiante, viam-se pessoas a correr para “sintonizar” com o carro do Papa que se movia lentamente… Ele chegou. A alegria é mais forte.
“O mundo precisa da Europa, da verdadeira Europa”.
Vale a pena ler, meditar e discutir todo o discurso perante as autoridades. Não se trata de uma conversa protocolar. É um programa.
“Na verdade, o mundo tem necessidade da Europa, da Europa verdadeira: precisa do seu papel de construtora de pontes e de pacificadora no Leste europeu, no Mediterrâneo, na África e no Médio Oriente. Assim poderá a Europa trazer, para o cenário internacional, a sua originalidade específica; vimo-la delineada no século passado quando, do crisol dos conflitos mundiais, fez saltar a centelha da reconciliação, tornando verdadeiro o sonho de se construir o amanhã juntamente com o inimigo de ontem, o sonho de abrir percursos de diálogo, percursos de inclusão, desenvolvendo uma diplomacia da paz que extinga os conflitos e acalme as tensões, capaz de captar o mais débil sinal de distensão e de o ler por entre as linhas mais distorcidas da realidade”. Mas, concretamente:” Olhando com grande afeto para a Europa, no espírito de diálogo que a carateriza, apetece perguntar-lhe: Para onde navegas, se não ofereces percursos de paz, vias inovadoras para acabar com a guerra na Ucrânia e com tantos conflitos que ensanguentam o mundo? (…)Para onde navegais, Europa e Ocidente, com o descarte dos idosos, os muros de arame farpado, as mortandades no mar e os berços vazios? Para onde navegais? “
Ele deposita a sua esperança na juventude. Quando falou no final da palestra sobre a fraternidade e a juventude como instrumentos de novas redes, mencionou algo muito conhecido em Schoenstatt e em schoenstatt.org: Missão País.
“Soube de muitos jovens que cultivam, aqui, o desejo de se fazerem próximo dos outros; penso na iniciativa «Missão País», que leva milhares de jovens a viver no espírito do Evangelho experiências de solidariedade missionária em zonas periféricas, sobretudo nas aldeias do interior, indo ao encontro de muitos idosos sozinhos, e isto é uma “unção” para a juventude. Quero agradecer e encorajar a tantos que na sociedade portuguesa se preocupam com os outros, nomeadamente a Igreja, e que fazem tanto bem mesmo longe dos holofotes”.
Justos e pecadores, bons e maus, todos, todos, todos. E depois, que o Senhor nos ajude a resolver este assunto.
Ao fim da tarde, o encontro para a recitação das Vésperas, no emblemático Mosteiro dos Jerónimos, com os Bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados e consagradas, seminaristas e agentes pastorais. As suas palavras alargam a tenda, para parafrasear o título do documento de trabalho para a fase continental do Sínodo sobre a sinodalidade. Mais um texto a ler, a meditar, a discutir.
“Não tenhais medo, lançai as redes. Não vivais acusando «isto é pecado, isso aí não é pecado». Vinde todos… depois falamos. Mas, primeiro, sintam o convite de Jesus, depois virá o arrependimento e enfim a proximidade de Jesus. Por favor, não transformem a Igreja numa alfândega: aqui entram os justos, os que estão em ordem, os que estão bem casados… todos os outros lá fora. Não. A Igreja não é isto. Justos e pecadores, bons e maus, todos, todos, todos. Será depois o Senhor a ajudar-nos a resolver este assunto. Mas todos. De coração vos agradeço, irmãos e irmãs, a atenção prestada, apesar de aqui ou ali vos ter aborrecido; agradeço-vos tudo o que fazeis, o exemplo, sobretudo o exemplo sem alarde, e a constância: esse levantar-se todos os dias para começar de novo ou para continuar o que se começou”.
Discurso do Santo Padre no encontro com as autoridades, a sociedade civil e o Corpo diplomático
Original: castelhano (3/8/2023). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal