PARAGUAI, Pe. Antonio Cosp. No dia 23 de fevereiro, três dias antes de viajar para Roma, 35 Sacerdotes de Schoenstatt da Região do Pai (Argentina, Itália, Nigéria, Paraguai e Uruguai) nos encontramos com o Cardeal da Cúria Arquidiocesana de Buenos Aires. Eu estava agradecido por poder concelebrar pela primeira vez com ele e em sua própria catedral. Vínhamos de F. Varela em diversos carros e horários diferentes. Ele recebia cada grupo já na porta e nos conduzia a uma sala simples. Após uma breve introdução, ele se colocou à disposição para dialogar. Foram cerca de mais de três horas de profunda vivência. Fizemos várias perguntas a ele – menos se ele, ou qual ele achava, seria o Sumo Pontífice. Porém, perguntamos qual deveria ser o perfil do próximo pontífice, ao que ele respondeu: “um homem que reze, que reze… um homem que creia, que creia profundamente em Jesus Cristo, que Ele está aqui!”… Bento deixou sua missão afirmando claramente que Cristo é quem conduz a Igreja.
Pe. Juan Pablo Catoggio, nosso superior regional até o final de 2014, escrevia: “Perguntou-me se realmente já cheguei a viver um tempo eclesial tão intenso, de renovação tão forte, como em poucos dias estou vivendo. Quando o visitamos, Bergoglio se referiu a alguém que comparou a renúncia de Bento – que qualificou não como insanidade, mas como um forte ato de governo – com a convocação de João XXIII para o Concílio, em razão do impacto e o chamado à conversão e à reforma”. Acredito que não se enganou.
Francisco é um nome-programa
O primeiro Papa latino-americano, argentino, o primeiro Papa jesuíta, o primeiro Papa Francisco. A primeira vez em muitas coisas. Fala-nos de ‘novidade’. Em continuidade ao Concílio Vaticano II, Francisco é diferente em muitas coisas e trará novidades, uma renovação muito necessária e muito esperada. Estou tomando consciência de que vivemos um tempo de profundas mudanças, de uma onda de renovação na Igreja… tão necessária e tão esperada! Que seu exemplo nos arraste a sermos todos um pouco mais ‘franciscanos’. Francisco é um nome-programa. É o anseio de uma Igreja pobre e para os pobres. Francisco recebeu o chamado de Deus: “Francisco, cuida da minha igreja! Reconstrói minha Igreja!” Francisco representa a radicalidade do Evangelho, a partir da simplicidade e da pobreza. Em sua breve intervenção nas congregações gerais da semana passada – nem sequer usou os 5 minutos que tinha à disposição – expressou aos cardeais que a Igreja deve mostrar o rosto de Cristo. “Bergoglio poderia ser definido como um jesuíta a quem Deus converteu em um franciscano” – disse a deputada Lilita Carrió.
Pastores com cheiro de ovelhas
Os primeiros gestos de nosso Papa Francisco já são revolucionários: desarmam com sua simplicidade e naturalidade. Ele mesmo se inclinou para que o povo de Deus rezasse por ele, para que Deus o abençoasse. Durante alguns minutos, o mundo fez silêncio e rezou por ele. Por isso, como ele já disse muitas vezes, precisamos de “pastores com cheiro de ovelhas”, próximos das pessoas, simples, humildes. O “ano da corrente missionária” de nossa Família de Schoenstatt – rumo a 2014 – nos conduz, por meio dessas circunstâncias tão particulares, a “amar ainda mais à Igreja”, como nosso Fundador, que também exerceu sua autoridade como serviço e entrega, mostrando que o verdadeiro poder do amor é exercido renunciando a ele, deixando-se despojar dele, como aconteceu em Dachau e em Milwaukee.
Um ato notável de sua vida. Sendo jovem, encontrou-se circunstancialmente com um sacerdote que não conhecia e que lhe transmitiu uma espiritualidade tão profunda que lhe fez decidir-se por confessar-se com ele. “Nessa confissão, aconteceu algo raro, não sei o que foi, porém, mudou minha vida; eu diria que me pegaram com a guarda baixa”. Mais de meio século depois, ele interpretou assim: “Foi a surpresa, o estupor de um encontro. Me dei conta de que me estavam esperando. Isso é a experiência religiosa: o estupor de encontrar-se com alguém que está esperando você. Para mim, a partir daquele momento, Deus é aquele que você “busca”.Buscamos Deus; porém, Ele nos busca primeiro. Queremos encontrar Deus, porém Ele nos encontra primeiro”. É tempo de missão, é tempo de nova evangelização. Jesus quer “buscar” a muitos, por meio de seus muitos vigários.
Minha reflexão pessoal
Não é motivo de preocupação para Cristo que sua família, a Igreja, envelheça. O envelhecimento faz parte do ser humano. O que preocupa Cristo – e muito – é que não rejuvenesça. Bento, inspirado, renuncia e dá lugar a uma nova juventude que, desde o dia 13 de março, traz aroma de primavera. Pedro é o primeiro vigário de Jesus Cristo, “ele que substituiu outro”. Cada batizado é também vigário de Jesus. A eleição de Bergoglio, para ser Francisco, vigário do Senhor, nos chama a darmos um ar de juventude entusiasmada em nossa vida de cristãos, que também somos outros Cristos. Nossa tarefa é contagiar muitos pela paixão de nossa fé. Sermos divinos por graça é muito. Contagiar cada minuto aos outros com essa santa essência… é nossa tarefa de missionários! É uma nova hora de Caná! A partir de nossos Santuários-lares, oferecer o melhor vinho: a aliança atraente com Maria e Cristo, a Eucaristia, o Espírito Santo.
Três pérolas de Bergoglio
O que você diria aos divorciados que vivem em uma nova união?
“Que se integrem à comunidade paroquial, que trabalhem ali, porque eles podem ajudar muito na paróquia. Que procurem ser parte da comunidade espiritual, como aconselham os documentos pontifícios e o Magistério da Igreja. O Papa mostrou, assim, que a Igreja acompanha os casais nessa situação. É verdade que, para muitos deles, lhes dói não poderem comungar. O que falta, nesses casos, é explicar-lhes bem como tudo deve ser. Existem casos que acabam sendo mais complicados. É uma explicação teológica que alguns sacerdotes expõem muito bem e as pessoas entendem”.
Aborto e direitos da mulher
“Ele situou a batalha contra o aborto na batalha em favor da vida, já a partir da concepção. Isto inclui o cuidado da mãe durante a gestação, a existência de leis que protejam a mulher após o parto, a necessidade de se garantir uma alimentação adequada para as crianças, como também oferecer uma atenção sanitária ao longo de toda uma vida, o cuidado com nossos avós, afastando completamente a eutanásia. Sim, existe uma conceito que deve ser respeitado, existe uma vida para ser cuidada”.
Jornalista: Muitos dizem que a proibição do aborto é uma questão religiosa.
“Vamos pensar… A mulher grávida não leva em seu ventre uma escova de dentes; muito menos, um tumor. A ciência ensina que, desde o momento da concepção, o novo ser já tem todo seu código genético. É impressionante. Não é, portanto, uma questão religiosa, mas, sim, uma questão claramente moral com base científica, porque estamos na presença de um ser humano”.
Educação sexual
“A Igreja não se opõe à educação sexual. Pessoalmente, acredito que deve ser amplamente oferecida em todas as etapas de crescimento das crianças, adaptada a cada etapa. Na verdade, a Igreja sempre transmitiu educação sexual, embora eu aceite que muitas vezes não foi feito de forma adequada. O que acontece é que, atualmente, muitos dos que levantam as bandeiras da educação sexual a concebem separada da pessoa humana. Então, em vez de se contar com uma lei de educação sexual para a plenitude da pessoa, para o amor, se acaba caindo em uma lei para o genital. Essa é nossa objeção. Não queremos que a pessoa humana seja degrada. Nada além disso”.
(O jesuíta. Conversas com o cardeal Jorge Bergoglio, SJ, Sergio Rubin e Francesca Ambrogetti, Editora Vergara)
Tradução para o Português: Maria Rita Fanelli Vianna – São Paulo / Brasil
Fonte: Tuparenda, 5/2013