Posted On 2013-05-16 In Vida em Aliança

Ontem Cardeal Bergoglio, hoje sua Santidade Francisco

PARAGUAI, Pe. Antonio Cosp. No dia 23 de fevereiro, três dias antes de viajar para Roma, 35 Sacerdotes de Schoenstatt da Região do Pai (Argentina, Itália, Nigéria, Paraguai e Uruguai) nos encontramos com o Cardeal da Cúria Arquidiocesana de Buenos Aires.  Eu estava agradecido por poder concelebrar pela primeira vez com ele e em sua própria catedral.  Vínhamos de F. Varela em diversos carros e horários diferentes.  Ele recebia cada grupo já na porta e nos conduzia a uma sala simples.  Após uma breve introdução, ele se colocou à disposição para dialogar.  Foram cerca de mais de três horas de profunda vivência.  Fizemos várias perguntas a ele – menos se ele, ou qual ele achava, seria o Sumo Pontífice.  Porém, perguntamos qual deveria ser o perfil do próximo pontífice, ao que ele respondeu: “um homem que reze, que reze… um homem que creia, que creia profundamente em Jesus Cristo, que Ele está aqui!”…  Bento deixou sua missão afirmando claramente que Cristo é quem conduz a Igreja.

Pe. Juan Pablo Catoggio, nosso superior regional até o final de 2014, escrevia: “Perguntou-me se realmente já cheguei a viver um tempo eclesial tão intenso, de renovação tão forte, como em poucos dias estou vivendo.  Quando o visitamos, Bergoglio se referiu a alguém que comparou a renúncia de Bento – que qualificou não como insanidade, mas como um forte ato de governo – com a convocação de João XXIII para o Concílio, em razão do impacto e o chamado à conversão e à reforma”.  Acredito que não se enganou.

Francisco é um nome-programa

O primeiro Papa latino-americano, argentino, o primeiro Papa jesuíta, o primeiro Papa Francisco.  A primeira vez em muitas coisas.  Fala-nos de ‘novidade’.  Em continuidade ao Concílio Vaticano II, Francisco é diferente em muitas coisas e trará novidades, uma renovação muito necessária e muito esperada.  Estou tomando consciência de que vivemos um tempo de profundas mudanças, de uma onda de renovação na Igreja… tão necessária e tão esperada!  Que seu exemplo nos arraste a sermos todos um pouco mais ‘franciscanos’.  Francisco é um nome-programa.  É o anseio de uma Igreja pobre e para os pobres.  Francisco recebeu o chamado de Deus: “Francisco, cuida da minha igreja! Reconstrói minha Igreja!” Francisco representa a radicalidade do Evangelho, a partir da simplicidade e da pobreza.  Em sua breve intervenção nas congregações gerais da semana passada – nem sequer usou os 5 minutos que tinha à disposição – expressou aos cardeais que a Igreja deve mostrar o rosto de Cristo.  “Bergoglio poderia ser definido como um jesuíta a quem Deus converteu em um franciscano” – disse a deputada Lilita Carrió.

Pastores com cheiro de ovelhas

Os primeiros gestos de nosso Papa Francisco já são revolucionários: desarmam com sua simplicidade e naturalidade.  Ele mesmo se inclinou para que o povo de Deus rezasse por ele, para que Deus o abençoasse.  Durante alguns minutos, o mundo fez silêncio e rezou por ele.  Por isso, como ele já disse muitas vezes, precisamos de “pastores com cheiro de ovelhas”, próximos das pessoas, simples, humildes.  O “ano da corrente missionária” de nossa Família de Schoenstatt – rumo a 2014 – nos conduz, por meio dessas circunstâncias tão particulares, a “amar ainda mais à Igreja”, como nosso Fundador, que também exerceu sua autoridade como serviço e entrega, mostrando que o verdadeiro poder do amor é exercido renunciando a ele, deixando-se despojar dele, como aconteceu em Dachau e em Milwaukee.

Um ato notável de sua vida.  Sendo jovem, encontrou-se circunstancialmente com um sacerdote que não conhecia e que lhe transmitiu uma espiritualidade tão profunda que lhe fez decidir-se por confessar-se com ele.  “Nessa confissão, aconteceu algo raro, não sei o que foi, porém, mudou minha vida;  eu diria que me pegaram com a guarda baixa”.  Mais de meio século depois, ele interpretou assim: “Foi a surpresa, o estupor de um encontro.  Me dei conta de que me estavam esperando.  Isso é a experiência religiosa: o estupor de encontrar-se com alguém que está esperando você.  Para mim, a partir daquele momento, Deus é aquele que você “busca”.Buscamos Deus; porém, Ele nos busca primeiro.  Queremos encontrar Deus, porém Ele nos encontra primeiro”. É tempo de missão, é tempo de nova evangelização.  Jesus quer “buscar” a muitos, por meio de seus muitos vigários.

Minha reflexão pessoal

Não é motivo de preocupação para Cristo que sua família, a Igreja, envelheça.  O envelhecimento faz parte do ser humano.  O que preocupa Cristo – e muito – é que não rejuvenesça. Bento, inspirado, renuncia e dá lugar a uma nova juventude que, desde o dia 13 de março, traz aroma de primavera.  Pedro é o primeiro vigário de Jesus Cristo, “ele que substituiu outro”.  Cada batizado é também vigário de Jesus.  A eleição de Bergoglio, para ser Francisco, vigário do Senhor, nos chama a darmos um ar de juventude entusiasmada em nossa vida de cristãos, que também somos outros Cristos.  Nossa tarefa é contagiar muitos pela paixão de nossa fé.  Sermos divinos por graça é muito.  Contagiar cada minuto aos outros com essa santa essência… é nossa tarefa de missionários!  É uma nova hora de Caná!  A partir de nossos Santuários-lares, oferecer o melhor vinho: a aliança atraente com Maria e Cristo, a Eucaristia, o Espírito Santo.

Três pérolas de Bergoglio

O que você diria aos divorciados que vivem em uma nova união?

“Que se integrem à comunidade paroquial, que trabalhem ali, porque eles podem ajudar muito na paróquia.  Que procurem ser parte da comunidade espiritual, como aconselham os documentos pontifícios e o Magistério da Igreja.  O Papa mostrou, assim, que a Igreja acompanha os casais nessa situação.  É verdade que, para muitos deles, lhes dói não poderem comungar.  O que falta, nesses casos, é explicar-lhes bem como tudo deve ser.  Existem casos que acabam sendo mais complicados.  É uma explicação teológica que alguns sacerdotes expõem muito bem e as pessoas entendem”.

Aborto e direitos da mulher

“Ele situou a batalha contra o aborto na batalha em favor da vida, já a partir da concepção.  Isto inclui o cuidado da mãe durante a gestação, a existência de leis que protejam a mulher após o parto, a necessidade de se garantir uma alimentação adequada para as crianças, como também oferecer uma atenção sanitária ao longo de toda uma vida, o cuidado com nossos avós, afastando completamente a eutanásia.  Sim, existe uma conceito que deve ser respeitado, existe uma vida para ser cuidada”.

Jornalista: Muitos dizem que a proibição do aborto é uma questão religiosa.

“Vamos pensar… A mulher grávida não leva em seu ventre uma escova de dentes; muito menos, um tumor.  A ciência ensina que, desde o momento da concepção, o novo ser já tem todo seu código genético.  É impressionante.  Não é, portanto, uma questão religiosa, mas, sim, uma questão claramente moral com base científica, porque estamos na presença de um ser humano”.

Educação sexual

“A Igreja não se opõe à educação sexual.  Pessoalmente, acredito que deve ser amplamente oferecida em todas as etapas de crescimento das crianças, adaptada a cada etapa.  Na verdade, a Igreja sempre transmitiu educação sexual, embora eu aceite que muitas vezes não foi feito de forma adequada.  O que acontece é que, atualmente, muitos dos que levantam as bandeiras da educação sexual a concebem separada da pessoa humana.  Então, em vez de se contar com uma lei de educação sexual para a plenitude da pessoa, para o amor, se acaba caindo em uma lei para o genital.  Essa é nossa objeção.  Não queremos  que a pessoa humana seja degrada.  Nada além disso”.

(O jesuíta.  Conversas com o cardeal Jorge Bergoglio, SJ, Sergio Rubin e Francesca Ambrogetti, Editora Vergara)

Tradução para o Português: Maria Rita Fanelli Vianna – São Paulo / Brasil

Fonte: Tuparenda, 5/2013

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