Posted On 2013-04-24 In Vida em Aliança

Uma Igreja que sai, missionária e solidária

ARGENTINA, Pe. Javier Arteaga. O Papa Francisco continua a surpreender-nos, alegrando e ensinando com cada gesto com cada palavra. A sua mensagem, simples e clara, é profundamente evangélica, sábia e oportuna. Há uns dias uma mulher dizia-me que a mensagem do Papa interpela-a a uma mudança; um rapaz dizia-me que se sente de novo “parte” da Igreja e que sente uma alegria pela Igreja que há algum tempo não tinha. Hoje li a mensagem que o Papa enviou aos bispos da Argentina reunidos em assembleia plenária. Dizia-lhes: “Que toda a pastoral seja uma chave missionária. Devemos sair de nós próprios para todas as periferias existenciais (…). Uma Igreja que não sai, mais tarde ou mais cedo, adoece na atmosfera viciada da sua reclusão. É verdade também que a uma Igreja que sai pode acontecer-lhe o mesmo que a qualquer pessoa que sai à rua: ter um acidente. Perante esta alternativa, quero dizer-lhes francamente que prefiro mil vezes uma Igreja acidentada que uma Igreja doente. A doença típica da Igreja fechada é a auto referência; olhar para si própria, estar curvada sobre si mesma como aquela mulher do Evangelho. É uma espécie de narcisismo que nos conduz ao mundanismo espiritual e ao clericalismo sofisticado, impedindo-nos de experimentar “a doce e reconfortante alegria de evangelizar.”

Uma Igreja que sai e é solidária

Todos recordamos a tragédia do início do mês que se abateu sobre Buenos Aires e La Plata, que inundou muitos bairros e em poucas horas ceifaram vidas humanas, bens e recordações. Um desastre. No meio de tanta dor e impotência (e raiva pela incapacidade de reação rápida e eficiente do Estado e pelo uso sem vergonha da situação para receita política), o nosso povo reagiu solidariamente, como sempre, pondo o irmão aos ombros. De todas as partes do país chegaram ajudas (e continuam a chegar). Mil variadas formas de ajuda, porque a solidariedade é criativa e esforçada. Aqui vai um testemunho de uma família: “Nós fomos dos que foram afetados de alguma forma, mas no quarteirão havia vizinhos em piores condições e com limitações de vária ordem, física, de companhia, de estrutura de casa, etc. Grande foi a nossa surpresa quando de manhã cedo apareceram dois jovens em nossa casa perguntando: Em que é que podemos ajudá-los? De acordo com a gravidade conduzimo-los a uma vizinha, só, com a casa a cair, sem parentes, sem equipas para tirar água. Eram de City Bell e vinham oferecer a sua colaboração a Tolosa. Sei que durante 8 horas ou mais estiveram a tirar água com baldes. À tarde chegaram mais quatro. Dava gosto vê-los com o seu ímpeto juvenil a ajudar em algo de tanto VALOR. No dia seguinte apareceu uma dezena de rapazes e raparigas do Colégio Estrada de City Bell, oferecendo-se para ajudar, e pedimos-lhes que fossem para lugares próximos em situação mais complicada. Aqui fica o nosso agradecimento a todos esses jovens e o agradecimento dessa vizinha que comentava connosco – quase admirada pela atitude- “sem estes jovens não sei como seria”. Uma Igreja que sai e é solidária…

Uma Igreja que sai e é missionária

No ano da corrente missionária o Pe. Ángel Strada dizia-nos na última Jornada de Delegados que para realizar a missão há que assumir os desafios do nosso tempo: “Maria viveu atenta aos desafios da sua época, não recolhida numa torre de marfim. Nós somos desafiados por profundas mudanças culturais e religiosas.”

A realidade da nossa pátria chama-nos a sair, a dar e anunciar. Como Igreja e Família missionária fazemos eco deste pedido do Papa neste tempo da nossa história, como o fizemos tantas vezes e continuaremos a fazê-lo sempre. Os bispos fizeram ontem este comunicado:” Os bispos argentinos, reunidos na 105ª Assembleia Plenária, consideramos que os projetos de lei que se encontram no Poder Legislativo para regular o exercício da Justiça apresentam aspetos que merecem um profundo discernimento pela importância da matéria que tratam. Por isso é necessário fazer amplas consultas, debates e consensos prévios em consonância com a magnitude das alterações propostas. Entendemos que um tratamento apressado de reformas tão significativas corre o risco de debilitar a Democracia Republicana consagrada na nossa Constituição, precisamente numa das suas dimensões essenciais como é a autonomia dos seus três poderes.”

Creio que é pertinente trazer aqui o seguinte parágrafo do Documento dos Bispos latino-americanos em Aparecida: “Constatamos um certo progresso democrático que se mostra em diversos processos eleitorais. Contudo, vemos com preocupação o acelerado avanço de diversas formas de regressão autoritária por via democrática que, em certas ocasiões, podem tornar-se em regimes de corte neopopulista. Isto indica que não basta uma democracia puramente formal, fundada na limpeza de procedimentos eleitorais, mas que é necessária uma democracia participativa e baseada na promoção e respeito dos direitos humanos. Uma democracia sem valores, como mencionado, torna-se facilmente numa ditadura e acaba atraiçoando o povo. (Doc. Aparecida, nº 74).

Queridos irmãos, neste 18 de abril, peçamos firmemente a Maria, Mãe dos argentinos, que ilumine as mentes, abra os corações e disponha as vontades ao diálogo e à paz. Que os Santuários de Nossa Senhora de Schoenstatt sejam neste tempo focos de unidade, paz e renovação para todo o povo de Deus.

Tempos difíceis exigem maior entrega na Aliança, missionária e solidária.

Original: Espanhol – Tradução: Maria de Lurdes Dias, Lisboa, Portugal


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