Santa Cruz do Sul Santuario

Posted On 2020-11-26 In Aliança solidária, Schoenstatt em saída

Tiraram-nos o Santuário…

BRASIL, RUY ALBERTO KAERCHER •

Os schoenstatteanos e milhares de pessoas da comunidade santa-cruzense e da região, e de outros locais do Estado do Rio Grande do Sul, estão vinculados há mais de quarenta anos ao Santuário da Mãe e Rainha de Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, uma longa tradição, uma história que iniciou bem antes do dia 11 de dezembro de 1977, dia da benção inaugural. Naquele dia a Mãe e Rainha tomou posse daquele lugar de graças, e desde então atuou naquele espaço sagrado, abrigando corações, intercedendo graças, acolhendo enfim todos e todas que para lá se dirigiram para orar, suplicar, chorar, compartilhar suas vidas. —

Lembro-me das palavras da irmã Jacoba Baum (Instituto das Irmãs de Maria de Schoenstatt), quando no dia 07 de outubro de 1975, junto com várias pessoas pertencentes ao Movimento Apostólico de Schoenstatt, em visita ao local, declarou: “É este o terreno que a Mãe escolheu, não precisamos procurar outro.” A área que então foi visitada é o local então pertencente à Prefeitura Municipal, e que através de ato aprovado pela Câmara de Vereadores, e sancionado pelo então prefeito Elemar Gruendling, foi posteriormente (1977) construído o Santuário e a residência das irmãs.

A comunidade santa-cruzense auxiliou na construção do Santuário e este local foi uma aspiração da Família de Schoenstatt de Santa Cruz do Sul (Mães, Obra das famílias, Liga Feminina, juventude, etc.) em união com o Instituto das Irmãs de Maria de Schoenstatt, que se tornaram as portadoras jurídicas do Santuário. Tudo foi conquistado com grande esforço e dedicação da família de Schoenstatt e da comunidade santa-cruzense.  Faço a memória de todos e todas que ajudaram a construir este Santuário, muitos já falecidos.  Faço igualmente a memória das inúmeras romarias, centro de atração de milhares e milhares de romeiros, a última romaria realizada em 2019, reuniu mais de trinta mil pessoas.

Um comunicado e o cisma

No decurso do ano de 2018, irmãs de Maria de Schoenstatt (portadoras jurídicas do Santuário) comunicaram ao Conselho Diocesano da Família de Schoenstatt de Santa Cruz do Sul, sua intenção de se retirarem do local e transferir o Santuário. Esta decisão provocou um “cisma” dentro do Movimento Apostólico, sendo que a maioria dos integrantes do movimento se posicionou contra a ideia. A justificativa apresentada pelas portadoras jurídicas para esta transferência é a insegurança do local e diminuição do número de fiéis que visitam o Santuário.

Lembro que quanto a questão de segurança do local, o próprio movimento apostólico e seus diversos segmentos, já estava atento à situação e se movimentou para a construção de um muro de concreto, e posterior colocação de concertina, bem como câmeras de monitoramento, ambos investimentos importantes.

Em uma das assembleias do Conselho Diocesano da família de Schoenstatt, realizada em junho de 2018, foi constituída uma comissão para estudar e apresentar medidas para melhorar ainda mais a segurança junto ao Santuário e a residência das irmãs. As sugestões foram apresentadas ao Conselho em setembro de 2018, mas não encontraram eco junto às portadoras jurídicas.

A municipalidade de Santa Cruz do Sul, através da Prefeitura Municipal, também manifestou sua preocupação com a situação, e se prontificou a ajudar na questão da segurança do local e outras medidas. Este é um histórico resumido da situação que teve seu deslinde com a Carta Aberta divulgada a população pelos meios de imprensa pelas portadoras jurídicas, recentemente.

É possível reverter a situação?

Mas depois deste breve histórico vamos ao que realmente interessa. Fica uma pergunta, aliás pergunta esta provocada por uma pessoa que não pertence à Família de Schoenstatt, o jornalista Ricardo Düren (em sua coluna no jornal Gazeta do Sul), creio que esta interrogação expressa a opinião e os anseios de muitas pessoas da nossa comunidade.

É possível reverter a situação?

Creio ser difícil, pois as portadoras jurídicas estão convencidas que o que fizeram é o certo, e que querem uma outra solução para a localização do Santuário. Respeitamos a decisão das portadoras jurídicas, mas discordamos do modo de como foi gestado e conduzido todo este processo que ao final pretende demolir este Santuário, patrimônio material e espiritual do movimento apostólico de Schoenstatt, e da comunidade santa-cruzense, e transferir para um outro local, ainda não definido. O Santuário é do povo de Santa Cruz, do povo da diocese de Santa Cruz do Sul.

Creio que em respeito a história, a memória das pessoas que conquistaram e construíram o Santuário, bem como em respeito aos milhares de romeiros e devotos da Mãe e Rainha, o local onde hoje se encontra o Santuário, deve ser preservado.

A “capelinha” deve ser mantida, repito, em respeito a história, a memória das centenas de pessoas que entregaram suas vidas e almas a este local. Em respeito aos romeiros e peregrinos, e as milhares de pessoas que acorrem anualmente a este local em busca de paz, oração, e aconselhamento espiritual. Os ornamentos internos já foram retirados (altar, etc), levados a outro local. A imagem do Pai Fundador (estátua) solenemente inaugurada junto ao Santuário por ocasião dos 100 anos da Fundação (2014), também foi retirada do local.

Não podemos deixar ser apagada esta história tão bela da nossa comunidade de Santa Cruz do Sul, colina sagrada, chão abençoado e consagrado, onde o espírito mariano, o espírito do Alto, deve ali permanecer para todo o sempre. Inclusive o Movimento Apostólico deseja que o Santuário e seus arredores sejam declarados patrimônio histórico permanente e inalienável. Se o Santuário for demolido, como é a intenção das portadoras jurídicas, perde a Igreja Diocesana, perde o Movimento Apostólico, perde o romeiro e peregrino, perdemos todos nós.

Uma decisão monocrática: o santuário é fechado

Esta decisão monocrática das portadoras jurídicas, este fechamento do Santuário de Schoenstatt em nossa cidade, é um ato que recebeu e continua recebendo duras críticas não só de membros do Movimento Apostólico de Schoenstatt (que em sua maioria se declaram contra esta decisão), mas também de muitas pessoas da comunidade católica santa-cruzense e regional.

Desde 2018, quando então era o presidente do Conselho Diocesano da Família de Schoenstatt, e que nos foi oficialmente dito, comunicado, que o Santuário seria deslocado do local onde se encontra há mais de 40 anos (44 para ser exato), tenho me declarado contra este ato unilateral da portadoras  espirituais e jurídicas, contrariedade essa manifestada publicamente nas assembleias promovidas dentro do movimento apostólico conforme comprovam as atas destes eventos.

Esta atitude das portadoras jurídicas, e repito, só por elas decidido, feriu no seu âmago os corações, as mentes, os espíritos dos schoenstatteanos locais, feriu os corações do povo santa-cruzense, e vai na contramão  dos ensinamentos do fundador do movimento padre José Kentenich, que se vivo estivesse, certamente não aprovaria a forma como foi e está sendo conduzido todo este processo de trágicas consequências morais e espirituais para os que pertencem ao movimento,  bem como, aos demais devotos da Mãe e Rainha.

Ser Schoenstatt, mas não todo o Schoenstatt

As portadoras espirituais e jurídicas estão se esforçando para justificar o que estão fazendo, e apesar do esforço, utilizando argumentos compreensíveis, mas não convincentes, e que não se sustentam, não convencem com as explicações dadas, o inexplicável. Cabe neste contexto afirmar que, as portadoras jurídicas são Schoenstatt, mas não todo o Schoenstatt (que infelizmente não souberam ouvir), e sim parte dele, e, portanto, deveriam ter conduzido este processo de forma dialogada e colegiada com os demais organismos schoenstatteanos, e não do modo como foi feito.

O Movimento Apostólico de Schoenstatt, é a expressão do carisma de seu Fundador, o padre José Kentenich. Toda sua fecundidade brota da espontaneidade da vida inspirada pelo Espírito Santo, o que chamamos de Divina Providência, que sob a proteção da Mãe Três Vezes Admirável, é o alimento da Aliança de Amor que com ela selamos. Schoenstatt possui várias comunidades, todas elas alicerçadas na fidelidade ao Fundador, o que se denomina de “mens fundatoris” (mente do fundador). Para o convívio entre estas diferentes comunidades o padre José Kentenich deixou uma orientação bastante clara: estas comunidades devem viver utilizando-se por assim dizer, de uma nobre concorrência, mas em contínua e mútua promoção. O que aqui está ocorrendo, em Santa Cruz, contradiz a gênese de Schoenstatt. Esta gênese está alicerçada no fato de que Schoenstatt configurou-se, no decorrer da história, a partir do fortalecimento de vínculos, do espírito de família entre seus membros e comunidades. Por isso, as correntes de vida que surgiram em Schoenstatt, têm no aspecto familiar sua maior expressão, pois assim pensou nosso Fundador.

Desafio: um “novo Schoenstatt”

Tal aspecto torna-se claro ao observarmos como tudo começou, a fundação de Schoenstatt, onde a partir de jovens seminaristas revoltados com algumas situações que ocorreram naqueles tempos, através do Fundador e sua pedagogia, um ambiente de profícua unidade deu origem a um Movimento Internacional. Isto se torna evidente também, quando do congresso de Hoerde, em 1919, evento que levou Schoenstatt para fora dos muros do seminário, onde o Fundador fortaleceu a corresponsabilidade ao incentivar a autonomia daqueles jovens entusiasmados.

Aqui em Santa Cruz, os últimos acontecimentos relacionados ao Santuário vão na contramão do espírito familiar. A decisão de mudar o Santuário de local, foi uma decisão unilateral das portadoras jurídicas, desta forma o espírito de família e corresponsabilidade foi desconsiderado. A espontaneidade da vida sobre a qual se fundamenta a Aliança de Amor, foi tolhida, exerceu-se o monopólio da Divina Providência, ou se desejarem, exerceu-se o “uso seletivo da Divina Providência”.

O processo de mudança e transferência do Santuário, aqui empregado, demonstra o ocaso daquilo que foi (para o movimento de Schoenstatt), sua maior fortaleza. Isso que aqui ocorre não é Schoenstatt.  Portanto, finalizo dizendo, devemos nos voltar às origens, nos unir em torno daquilo que nosso Fundador nos aponta como ideal para formar uma família, no real sentido que esta palavra quer expressar. Unindo-nos em torno aos três pontos de contato (Pai, Mãe e Santuário), e desta maneira sermos instrumentos da nova evangelização. Procurar a unidade na diversidade, criar um “Novo Schoenstatt” no efetivo sentido que esta palavra quer expressar. Eis o desafio para a família de Schoenstatt de Santa Cruz do Sul, e acredito para toda a Família do Schoenstatt Internacional.

Fotos: Gentileza Gazeta do Sul, Lula Helfer | Ruy Kaercher | Screenshots MF.


http://www.gaz.com.br/conteudos/regional/2020/11/18/173134-com_duas_irmas_manutencao_do_santuario_passou_a_ser_considerada_inviavel.html.php

http://www.gaz.com.br/conteudos/regional/2020/11/21/173274-possibilidade_de_mudanca_do_santuario_de_schoenstatt_mobiliza_a_comunidade.html.php

http://www.gaz.com.br/conteudos/regional/2020/11/28/173545-ministerio_publico_avalia_a_legalidade_da_venda_do_terreno_do_santuario_de_schoenstatt.html.php

https://www.schoenstatt.org/news-archive/news2004/12dezember/4t1291po-br–santacruz.htm

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2 Responses

  1. Marlene Therezinha Jungblut Ritt says:

    Quando li a carta aberta, eu não acreditei.Chorei!Como é possível que isto esteja acontecendo ! Este local é da Mãe! Como podem tira-la de lá? Vamos continuar rezando para que este local continue a ser um local de graças .

  2. Lena Castro Valente says:

    Não dá para acreditar. As coisas inusitadas, os comportamentos prepotentes que podem ocorrer ferindo gravemente o tecido Familiar, característica da nossa pedagogia, que julgaríamos nunca poderem acontecer… Será que haverá uma solução a contento de todos?

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