CMT

Posted On 2020-11-26 In Casa Mãe de Tuparendá, obras de misericórdia

Ser um educador na CMT: a história de um valente em seus 9 meses de programa

PARAGUAI, CMT, Ani Souberlich •

Hoje queremos contar um pouco mais sobre a vida de um participante da Casa Madre de Tupãrenda e o que significa ser um educador em suas diferentes etapas. Para isso, Julio nos permite contar sua história, seu processo de mudança durante sua estadia na CMT, através do relato de cada um dos seus educadores. —

Equipo de CMT

Equipe da CMT

HABILIDADES COMPORTAMENTAIS (1° e 2° mês no programa)

Educadora: Lourdes Palacios

CMT

Habilidades comportamentais

Ser um educador na CMT vai além de simplesmente transmitir conhecimento e experiência a um participante. Quando eles chegam ao programa e você vai conhecendo os detalhes de sua vida, do seu passado e presente, você descobre um mundo que é estranho àquilo a que estamos acostumados. Surgem os desafios, não apenas de conseguir a atenção, surpreender ou motivar o participante, mas também de acompanhar as mudanças em seu ambiente, e assim tirar o melhor de cada um dos jovens. O que se segue é uma pequena parte da história de um deles em sua passagem pelas Habilidades Comportamentais, a área pela qual sou responsável por liderar.

Em suas primeiras semanas, eu via um menino tranquilo, mas não muito preocupado em assistir ao programa e suas consultas no Centro Nacional de Prevenção e Tratamento da Dependência (CENPTRA) pontualmente. No período de adaptação, isto é até normal, por assim dizer.

Então começamos a conversar e definir os indicadores que tinha que melhorar se quisesse conquistar a pulseira vermelha e ficar no programa. O tempo não esperava por nós. Continuamos conversando e descobri um menino com grandes aspirações, mas um pouco afastadas de sua realidade. Era o momento de “tirá-lo de sua nuvem”  para que voltasse a pisar terra firme.

Continuava estudando para terminar o ensino médio, estudávamos durante as horas de descanso ou fazíamos as tarefas de pesquisa ou guarani (momento em que chamávamos minha irmã, que entende mais do que eu, para poder fazer bem a tarefa). Ele quis ser independente desde o início, conseguimos estabelecer prioridades e então, sem perceber, já estava terminando seu período de formação em minha área.

Isto não me impediu de continuar a colaborar com ele da maneira que pudesse, porque ser educador na CMT não é apenas cumprir o que o programa estabelece em um horário fixo das 8:00 às 15:30 horas. Não, às vezes significa atender o celular nos finais de semana ou à noite quando o participante precisa esclarecer dúvidas ou precisa conversar sobre algo que lhe aconteceu e não sabe como lidar com a situação. Às vezes é ir onde mora (NR: quarto ou local que aluga para morar), à saída do trabalho e ajudá-lo a verificar o chuveiro no banheiro porque não funciona ou instalar prateleiras na parede para ter um lugar para colocar suas roupas. É também dar-lhe uma cuia e uma bomba para que possa beber um mate ou tererê e, assim, passar as horas onde mora, onde vive sozinho e continua se esforçando e lutando para permanecer no caminho correto. Isto é suficiente para saber que fizemos o melhor que podíamos como educadores de plantão e isso preenche nossas almas.

 

HORTICULTURA (3° e 4° mês no programa)

Educador: Víctor Guerrero

CMT

Horticultura

Julio iniciou sua formação em horticultura testando sua capacidade física, trabalhando na manutenção da horta e cultivando novas experiências. Quando ele já estava familiarizado com as tarefas, a COVID-19 chegou ao país, tivemos que fazer uma pausa na formação presencial e o trabalho à distância foi colocado em prática. A ideia era que cada participante pudesse cultivar uma pequena horta em sua própria casa. Isso foi difícil, porque Julio não tinha um quintal quando se mudou com sua mãe para uma casa alugada. Lá ele só podia preparar o fertilizante em um saquinho onde recolhia os restos de frutas e vegetais misturados com a terra, a fim de seguir as instruções dadas por seu educador pelo whatsapp. Também aproveitava a oportunidade para colocar em dia seus trabalhos escolares.

Finalmente, depois de terminada a quarentena total, pudemos retornar à CMT e iniciar os trabalhos presenciais. Realizamos tarefas específicas para recuperar a horta após quase 3 meses de ausência. Cada um de nós, tanto participantes quanto educadores, tínhamos que trazer nosso lanche da manhã e almoço, pois não tínhamos dinheiro suficiente para pagar o refeitório. No primeiro dia, Julio só pôde trazer 2 ovos cozidos e pão e então percebemos que as coisas não estavam indo tão bem com sua mãe. Foi quando o incluí no meu cardápio diário. Quando eu trazia algo para o lanche da manhã, sempre incluía uma porção extra para compartilhar com ele e, junto com os outros educadores, também compartilhávamos nossos almoços para garantir que ele se alimentasse melhor.

 

CONFECÇÃO TÊXTIL (5° e 6° mês no programa)

Educadora: Magdalena Llano

CMT

Com Magdalena, Educadora da Confecção

Julio chegou à área motivado e educado, assumindo a responsabilidade de cumprir sua freqüência e pontualidade no programa e nas reuniões estabelecidos no CENPTRA, mas ainda tinha dificuldades no relacionamento com seus pais e padrastos, pois nessa época, ainda vivia com sua mãe e padrasto em um pequeno quarto. Lá não tinha um lugar próprio para descansar, dormia no chão, não recebia uma boa alimentação e tudo isso repercutia em seu estado de ânimo. Com tudo isso, seu desempenho educacional não foi afetado, mas emocionalmente ele não estava bem.

Um dia, trabalhando em seu Plano de Desenvolvimento Individual (PDI), entre lágrimas contou o que realmente sentia e as necessidades pelas quais estava passando. Disse que passou o fim de semana inteiro sem comer, porque a mãe saiu de casa sem avisar e sem deixar nenhuma comida para ele, mesmo sabendo que seu filho não tinha dinheiro. Por esta razão, a CMT sugeriu novamente sua independência para que pudesse se mudar para um quartinho de aluguel. Com muito medo e dúvidas sobre a mudança, sobre o que a mãe diria e se ele seria realmente capaz de sustentar o pagamento do aluguel, tomou coragem e deu esse importante passo: três dias depois dessa conversa, Julio mudou-se para um quarto de aluguel com uma mochila e duas sacolas de supermercado, nas quais cabiam todas as roupas que tinha. No início estava cheio de incertezas e obstáculos para conseguir oficialmente o lugar, as chaves e, assim, mudar-se definitivamente.

Mas onde dormiria se não tinha sequer um colchão? Pela divina providência, tínhamos um colchão usado que havia sido doado para a CMT e algumas outras coisas pequenas. Tínhamos que conseguir todas as outras coisas. Os membros da equipe CMT procuraram em suas próprias casas e trouxeram algumas coisas para doar: lençóis, cobertores, travesseiro, material de limpeza, uma colher, um garfo, uma faca, um prato, um copo. Também lhe emprestamos uns banquinhos de madeira de palete que foram construídos na CMT, e assim, suprimos suas necessidades básicas.

Mas não era suficiente, tínhamos que ajudá-lo a cobrir sua alimentação fora da CMT. Julio tinha que levar para a janta uma porção do que restava do almoço na Casa. Nos finais de semana nos revezávamos entre os educadores para levar-lhe as refeições. Além disso, é importante ressaltar que ainda estávamos em quarentena inteligente por causa da COVID-19 e, por essa razão, estávamos sem o apoio financeiro do Estado. Então, para economizar dinheiro, Julio caminhava 6 km até a CMT todos os dias.

CMT

Confecção

PANIFICAÇÃO (7° e 8° mês no programa)

Educadora: Rossana Insfran

Con Rosi Educadora de Panaderia

Com Rosi – Educadora da Padaria

Quando Julio chegou à padaria, tinha muitos problemas com sua auto-estima. Dizia que era muito lento e que não iria conseguir. Pouco a pouco, fomos trabalhando sua agilidade no trabalho, sua paciência, sua perseverança para realizar as tarefas ou técnicas. Por exemplo, refinar as massas ou a batida para fazer bolos foi um verdadeiro desafio para ele porque nunca o havia feito antes.

Em seu plano de gastos, acomodamos suas necessidades e pouco a pouco fomos comprando eletrodomésticos para equipar seu quarto. O que mais o motivou a continuar foi que “do céu caiu” uma madrinha que, vendo suas excelentes notas na escola, sem hesitar decidiu ajudá-lo, justamente quando Julio estava prestes a deixar seus estudos, já que estuda em uma escola particular. A esperança voltou, matriculou-se de novo e até hoje continua com suas tarefas escolares e segue em frente.

Chegou a hora de colocar à prova sua capacidade e fazer seu estágio (9º mês do programa). Foi aceito em um supermercado local. Foram longas horas de trabalho, o que era muito difícil, mas como ele dizia, “nada é impossível; quando se quer, pode-se”. Teve a experiência de trabalhar com pessoas de diferentes personalidades e que testaram também sua tolerância e empatia. Terminou seu estágio com êxito, mas ainda está procurando o emprego tão desejado para continuar pagando suas despesas, já que ele depende de si mesmo.

Con Ricardo y Alicia, abogado y trabajadora social.

Com Ricardo e Alicia, advogado e assistente social.

Nunca soube que tinha algo bom 

Como diretora da CMT, posso observar e acompanhar os casos de cada participante. É importante para mim acompanhá-los de perto, o que me leva a tomar melhores decisões sobre o futuro do participante, pois lembremo-nos de que trabalhamos com pessoas cujas vidas o bom Deus coloca em nossas mãos e que em algum momento Ele nos pedirá contas disso.

Ao voltar no tempo para o dia 02/12/2019, vejo em seus primeiros meses um Julio que era inseguro, necessitando de apoio, com falta de autoconfiança, que não fazia contato visual quando se conversava com ele e com oscilações de humor diante da pressão do trabalho rotineiro.

Hoje vejo um Julio que mantém contato visual enquanto conversa, que se sente confiante em si mesmo e está confiante de que tudo o que ele se proponha a fazer, ele poderá conseguir. Aprendeu a viver consigo mesmo e foi capaz de seguir em frente, mesmo sem o apoio da família.

Julio foi argila que se permitiu ser moldada. Entretanto, vale mencionar que a equipe que compõe o pessoal da CMT é um grupo extraordinariamente humano, onde cada um coloca alma, vida, coração e muitas vezes tempo extra para que cada participante encontre aqui o lar que nunca teve, a família que sempre lhe fez tanta falta. Que cada jovem que chega possa experimentar o sentimento de ser aceito, pela primeira vez, tal como ele é, com suas fraquezas e também descobrir, pela primeira vez, que tem muitas coisas boas, que tem um coração de ouro, mas que nunca lhe foi dito e, portanto, nunca soube que tinha algo bom.

Con Minerva, psicóloga.

Com Minerva, psicóloga.

A lagarta transformando-se em borboleta

Também fazem parte desta equipe maravilhosa:

Minerva Leguizamón, nossa psicóloga, que acompanhou Julio ao longo de seu processo de apoio psicológico, para aprender a lidar com suas emoções, e pode-se dizer que testemunhou “a lagarta transformando-se em borboleta”.

Alicia Gómez, nossa assistente social, quem coleta todas as informações socioambientais que nos permitem ter o histórico familiar do participante e ver a realidade socioambiental na qual vive. Isto implica entrar, na maioria das vezes, em lugares perigosos e, portanto, deve ser acompanhado pelo participante.

No caso do Julio, teve que visitar a casa mais vezes do que o estabelecido, porque esteve na casa do pai e da madrasta, depois com a mãe e o padrasto, e por trás de cada mudança de casa havia “um histórico de maus-tratos”, que tivemos que corroborar para que o apoio, a ajuda fornecida fosse o que Julio realmente precisava naquele momento.

Ricardo Acosta,nosso advogado, quem acompanha os casos jurídicos do participante e, uma vez terminadas, solicita a supressão dos seus antecedentes. No caso do Julio, pôde fazê-lo já durante seu período de estágio.

¿Sabia que um jovem reabilitado

significa que, pelo menos,

3 pessoas por dia

não serão vítimas de algum delito?

Obrigada a todas as pessoas que nos apoiam, com sua contribuição material e espiritual, nesta nobre causa, o que nos permite continuar transformando vidas.

 

Página oficial (ES)

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Doações
Conta bancária no Paraguai
Banco Familiar
SWIFT FAMIPYPAXXX
Conta corrente 50 00408672
Aos cuidados de: FUNDAPROVA RUC 80079669-1

Conta bancária na Alemanha 
Nome: Schönstatt-Patres International e. V.
IBAN: DE91 4006 0265 0003 1616 26
BIC/SWIFT: GENODEM1DKM
Previsão de uso: Pe. Pedro Kühlcke, Casa Madre de Tupãrenda

 

Mais um valente que alcança a meta

Original: Espanhol (22/11/2020). Tradução: Luciana Rosas, Curitiba, Brasil

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