Posted On 2015-03-14 In Francisco - Mensagem

Ano Santo da Misericórdia – Desafio da cultura de Aliança

VATICANO, Ir. M. Elizabet Parodi. Acabo de chegar da Basílica de S. Pedro. Estava à cunha, como sempre que há alguma Liturgia celebrada pelo Santo Padre. Hoje, no segundo aniversário do início do seu Pontificado, o Papa Francisco presidia uma Celebração Penitencial. Durante a Homilia, em que falava do Deus que nunca se cansa de nos perdoar, anunciou que tinha tomado uma decisão: com palavras que saíam do mais profundo do seu coração disse que proclamava um “Ano Santo da Misericórdia” que terá início na Festa da Imaculada Conceição, em Dezembro deste ano. As suas palavras comoveram quem as escutou; o aplauso espontâneo que ressoou na Basílica foi a maneira de o demonstrar.

Um Ano Santo que tem a marca da Mensagem nuclear do seu Pontificado: a Misericórdia de Deus está no centro da sua visão de Deus, da sua visão da Igreja e da sua visão das relações humanas. A Igreja “em saída” é Aquela que não pode guardar para Si o amor de um Pai que deseja chegar a cada filho. A cultura do encontro é a concretização dessa experiência de misericórdia no âmbito das nossas relações.

O anúncio parece-me um desafio para nós. O Santo Padre volta a abrir-nos o seu coração de Pai, como, quando dialogou connosco em Outubro para, nos interpelar na nossa missão.

Na festa da Aliança de Amor colocámos o Símbolo do Pai no Santuário Original. Não foi mais um acto entre outros, nem um souvenir para recordar o Jubileu. O Padre Kentenich ofereceu esse Símbolo como expressão da nossa missão, fruto maduro da Aliança de Amor: o olhar do Pai simboliza que, a gratuitidade do Amor Misericordioso de Deus é a base e o centro da Cultura de Aliança; que essa cultura nasce de uma forma nova: de O descobrir (a nova imagem do Pai, costumava chamar-lhe o Fundador); de nos vermos a nós próprios (a partir da dignidade que nos oferece esse olhar de misericórdia) e, da urgência de a transparecer para que os outros se encontrem com Deus, em nós.

O Ano Santo da Misericórdia é um desafio que se entrelaça com a Aliança de Amor que renovámos no Jubileu e, que expressámos no Símbolo que colocámos no Santuário Original.

O Santo Padre conta connosco! Como nos disse há cinco meses, a Cultura de Aliança é experiência concreta de solidariedade, é Cultura do Encontro que não pode crescer sem a gratuitidade da Misericórdia de Deus para connosco e de nós para com os outros. Cultura de Aliança, Cultura da Misericórdia.

Palavras do Santo Padre

 

Também este ano, na vigília do quarto Domingo da Quaresma, nos reunimos para celebrar a liturgia penitencial. Unimo-nos a tantos cristãos que, em todas as partes do mundo, acolheram o convite a viver este momento como sinal da bondade do Senhor. De fato, o Sacramento da Reconciliação permite recorrer confiantemente ao Pai para ter a certeza de seu perdão. Ele é verdadeiramente “rico de misericórdia” e a estende com abundância àqueles que recorrem a Ele com coração sincero.

Em todo caso, estar aqui para fazer a experiência de seu amor é, em primeiro lugar, fruto da sua graça. Como nos recordou o apóstolo Paulo, Deus jamais cessa de mostrar ao longo dos séculos a riqueza da sua misericórdia. A transformação do coração que nos leva a confessar os nossos pecados é “dom de Deus”, é “obra sua” (cfr Ef 2,8-10). Ser tocados com ternura por sua mão e plasmados pela sua graça permite-nos, portanto, aproximar-nos do sacerdote sem temor pelas nossas culpas, mas com a certeza de ser por ele acolhidos em nome de Deus, e compreendido apesar de nossas misérias. Saindo do confessionário, sentiremos a sua força que dá novamente a vida e restitui o entusiasmo da fé.

O Evangelho que ouvimos (cfr Lc 7, 36-50) nos abre um caminho de esperança e de conforto. É bom sentir sobre nós o mesmo olhar de compaixão de Jesus, assim como o percebeu a mulher pecadora na casa do fariseu. Neste trecho duas palavras retornam com insistência: amor e juízo.

Há o amor da mulher pecadora que se humilha diante do Senhor; mas antes ainda há o amor misericordioso de Jesus por ela, que a impele a aproximar-se. Seu choro de arrependimento e de alegria lava os pés do Mestre, e seus cabelos os enxugam com gratidão; os beijos são expressão de seu afeto puro; e o unguento perfumado derramado com abundância atesta como Ele é precioso a seus olhos. Cada gesto desta mulher fala de amor e expressa seu desejo de ter uma certeza inquebrantável em sua vida: a de ter sido perdoada. E Jesus lhe dá essa certeza: acolhendo-a demonstra-lhe o amor de Deus por ela, justamente por ela! O amor é o perdão são simultâneos: Deus lhe perdoa muito, tudo, porque “muito amou” (Lc 7,47); e ela adora Jesus porque sente que n’Ele há misericórdia e não condenação. Graças a Jesus, seus muitos pecados Deus os deixa para trás, não os recorda mais (cfr Is 43,25). Para ela, então, tem início uma nova estação; renasceu no amor para uma vida nova.

Esta mulher verdadeiramente encontrou o Senhor. No silêncio, abriu-lhe o coração; na dor, mostrou-lhe o arrependimento por seus pecados; com seu choro, apelou à misericórdia divina para receber o perdão. Para ela não haverá nenhum juízo a não ser o que vem de Deus, e este é o juízo da misericórdia. O protagonista deste encontro é certamente o amor que vai além da justiça.

Simão o fariseu, pelo contrário, não consegue encontrar o caminho do amor. Permanece parado na soleira da formalidade. Não é capaz de dar o passo sucessivo para ir ao encontro de Jesus que lhe traz a salvação. Simão limitou-se a convidar Jesus para o almoço, mas não o acolheu verdadeiramente. Em seus pensamentos invoca somente a justiça, e assim fazendo, erra. Seu juízo sobre a mulher o distancia da verdade e não lhe permite nem mesmo compreender quem é o seu hóspede. Deteve-se na superfície, não foi capaz de olhar para o coração. Diante da parábola de Jesus e da pergunta sobre qual servo amou mais, o fariseu responde corretamente: “Aquele ao qual perdoou mais”. E Jesus observa: “você julgou bem” (Lc 7,43). Somente quando o juízo de Simão é dirigido ao amor, então ele acerta.

O chamado de Jesus leva cada um de nós a jamais deter-se na superfície das coisas, sobretudo quando temos diante de nós uma pessoa. Somos chamados a olhar além, a nos voltar para o coração para ver de quanta generosidade  cada um de nós é capaz. Ninguém pode ser excluído da misericórdia de Deus; todos conhecem o caminho para ter acesso a ela e a Igreja é a casa que todos acolhe e a ninguém rejeita. Suas portas permanecem escancaradas, a fim de que aqueles que foram tocados pela graça possam encontrar a certeza do perdão. Maior é o pecado e maior deve ser o amor que a Igreja expressa para com aqueles que se convertem.

Caros irmãos e irmãs, pensei muitas vezes sobre como a Igreja possa tornar mais evidente a sua missão de ser testemunha da misericórdia. É um caminho que se inicia com uma conversão espiritual. Por isso decidi convocar um Jubileu extraordinário centralizado na misericórdia de Deus. Será um Ano Santo da Misericórdia. Queremos vivê-lo à luz da palavra do Senhor: “Sede misericordiosos como o vosso Pai” (cfr Lc 6,36).

Este Ano Santo terá início na próxima solenidade da Imaculada Conceição e se concluirá em 20 de novembro de 2016, Domingo de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do universo e rosto vivo da misericórdia do Pai. Confio a organização deste Jubileu ao Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, a fim de que possa animá-lo como uma nova etapa do caminho da Igreja em sua missão de levar a toda pessoa o Evangelho da misericórdia.

Estou certo de que toda a Igreja poderá encontrar neste Jubileu a alegria para redescobrir e tornar fecunda a misericórdia de Deus, com a qual todos somos chamados a dar consolação a todo homem e toda mulher de nosso tempo. Desde já o confiamos à Mãe da Misericórdia, a fim de que volte para nós o seu olhar e vele sobre nosso caminho.

Original italiano: Tradução, Lena Castro Valente, Lisboa. Portugal

Homilia do Papa: Tradução Rádio Vaticana

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