ARGENTINA, Maria Fischer •
Começámos a nossa visita onde tudo começou há dez anos, quando Alejandra Pastene e Guillermo Ferreyra, do Instituto das Famílias de Schoenstatt, juntamente com María Pastene e Juan Ignacio Barrena, realizaram o seu sonho e fundaram a Escola “Covenant”, uma escola com pedagogia de Kentenich. A “Covenant”, aliança, pode ser vista na porta da casa onde se encontra o nível inicial ou jardim de infância, e a aliança espera-nos na Ermida, e em cada canto desta casa, em cada pessoa que nos saúda, em cada criança que brinca no jardim. —
Começámos a nossa visita onde tudo começou há dez anos atrás
Olá Maria, uma vez mais queremos agradecer-te pela tua visita e pela bela missão de difundir Schoenstatt e de incendiar corações. Queremos dizer-te especialmente que as tuas palavras sobre a nossa escola não ser um lugar onde a pedagogia Kentenich se desenvolve, mas que é Schoenstatt em si, nos mobilizou, nos moveu, uma vez que tentamos consagrar a nossa vida à missão do nosso Pai Fundador”, comentou-me Guillermo Ferreyra algumas horas mais tarde. Este é o melhor resumo que ele poderia fazer desta visita a 22 de Março, no mesmo dia em que em Roma, na sua catequese semanal, o Papa Francisco nos falou da Igreja que “dialoga com o mundo contemporâneo”, um processo que “implica também a capacidade de mudar as formas de entender e viver a Sua presença evangelizadora na história, evitando o refúgio nas zonas confortáveis da lógica do “sempre foi feito desta forma””.
Nesta escola, os seus fundadores, juntamente com muitos responsáveis e professores – vários dos quais oriundos da Juventude Masculina e Feminina – criaram um Schoenstatt que é uma resposta às verdadeiras questões das famílias, um Schoenstatt que dialoga com o mundo contemporâneo em Gonnet, uma localidade da Grande La Plata com cerca de 23.000 habitantes.
Guillermo Ferreyra, María Fischer, Alejandra Pastene
Há 10 anos atrás começaram com 11 crianças
“Há dez anos atrás começámos aqui, quatro pessoas com um grande sonho e onze pequenitos, na nossa casa paterna”, diz Alejandra, directora do Jardim de Infância e responsável pela Pastoral e ESI (Educação Sexual Integral) e Guillermo, representante legal de “Covenant”. Hoje há 500 alunos, desde o Jardim de Infância ao Secundário, em três edifícios modernos, limpos, cheios de luz, com grandes espaços verdes, e com a presença de Jesus e Maria em cada sala de aula, em cada canto. São Santuários, penso eu. Santuários abertos às pessoas de hoje.
Mais tarde, quando visitámos o edifício que alberga os dois primeiros anos da escola secundária, conhecemos os “fundadores orgulhosos”, aquelas crianças de então. Na Argentina é muito comum misturar alunos da mesma classe após alguns anos. “Pensámos muito no assunto”, disse-me Alejandra, “e decidimos não o fazer”. Parecia mais orgânico que as crianças ficassem juntas com os seus amigos. Com o tempo, eles compreenderam que não são apenas um grupo, mas uma comunidade, e que é por uma razão que eles estão juntos. De uma forma muito simples e orgânica, os alunos de cada ano vêm encontrar e expressar o seu nome, o seu ideal de Curso. Quando estávamos com os “Falcões Peregrinos”, quisemos saber se este ideal era realmente uma coisa própria , por isso perguntámos aos jovens… Qual seria a minha surpresa (e alegria) quando com convicção, orgulho e criatividade eles se revezam para me explicar tudo sobre as grandes e fortes asas dos Falcões Peregrinos, como sabem encontrar o seu caminho nas suas vidas agitadas, procurando ir cada vez mais longe, descobrir algo novo de cada vez, sem nunca se perderem… A mesma coisa acontece no outro curso. É autêntico, totalmente autêntico. A alegria destes jovens a falar do seu ideal e da sua escola é contagiosa. “Gostam de ir à escola? O “Sim”, acompanhado de rostos felizes, fala por si.
Esta pedagogia do Ideal começa no nível inicial, e começa tal como começou há mais de 100 anos entre os alunos do Vale de Schoenstatt, nas mãos de José Kentenich: com histórias reais de pessoas que viveram uma vida que inspira. As salas da casa do Jardim de Infância têm o nome de pessoas excepcionais, e às crianças é mostrada a vida de José Engling, de Barbara Kast… e em vez das fotografias que parecem antigas, foi encomendado a um pintor que fizesse desenhos.
Escola Covenant, La Plata, Nível Inicial
Evangelização através do encontro
“Na realidade de La Plata experimentamos que as famílias começam a aproximar-se da fé através dos filhos, que recebem uma catequese orgânica, com experiências religiosas para além da formação. É isto que Francisco propõe quando nos exorta a regressar ao Kerygma”, diz Guillermo. Eles começam a falar das Missas na escola com o Pe. Tommy Nin Mitchell, da sua aproximação às crianças, da alegria dos alunos mais velhos quando preparam estas Missas para e com os mais novos, das visitas a Santuários próximos como os de La Plata, Sión del Padre, Confidentia ou Novo Schoenstatt para algumas festividades, ou a Santuários mais distantes durante as viagens no final do ano, como o de Córdoba ou Rosário. “Procuramos sempre lugares com Santuários”, disse-me Jeremías Ferreyra, director do Nível Primário. “Partilhamos o sonho de ir ao Santuário Original, no futuro, com os finalistas do ensino secundário” ….
Nas famílias, comenta Guillermo, não há muita vida eclesial ou religiosa. As crianças encontram a fé viva na escola, através de palavras, gestos, canções e formas adequadas à sua idade e às suas preocupações. Os pais das crianças, partilhando momentos na escola, são pessoas que procuram… e encontram respostas para este tempo, no orgânico, na coexistência respeitosa e solidária, na alegria no outro e nos seus dons. Um aluno, devido a dificuldades, teve de cancelar a sua participação na ansiada viagem de fim de ano porque “a minha família não tem dinheiro para isso”. “Enquanto discutíamos entre nós como levá-lo, os pais dos alunos daquela turma arranjaram o dinheiro para a viagem, angariado por todos nós”. Isto soa como o “Homem Novo na Nova Comunidade”? É. É Schoenstatt. É como o Schoenstatt que emergiu e cresceu nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, na vida real. Apenas os “congregados”, os apóstolos deste Schoenstatt são crianças (e os seus professores).
Dá-me as palavras adequadas…
Depois da nossa visita às salas de aula, salas de jantar, cozinhas, Ermidas, Santuários-Lar – incluindo aquele com a imagem abençoada pelo Papa Francisco – sentámo-nos à volta da mesa e começámos a falar….
O grande tema da igreja, assim como de Schoenstatt: as palavras e expressões “habituais”. Agarrarmo-nos a elas, ou procurar novas formas de expressar o mesmo conteúdo, a mesma mensagem? Na Escola Covenant, optam por palavras compreensíveis que chegam ao povo. É sempre uma busca, uma avaliação. É uma escuta das vozes da alma, uma observação dos processos da vida. O que é que Deus, através de Maria da Aliança, está a desenvolver nas crianças, nos jovens, nos pais? Qual das experiências e “respostas” de Schoenstatt podemos e devemos oferecer neste momento? Inflamamo-nos mutuamente quando falamos do facto de que “apenas” Schoenstatt precisa de ganhar vida em mim, para que as palavras adequadas possam brotar do coração.
Pois “o mundo precisa de «evangelizadores que lhe falem de um Deus que eles conheçam e lhes seja familiar» (EN, 76)” . Não significa transmitir uma ideologia nem uma “doutrina” sobre Deus, não! Significa transmitir Deus, que se torna vida em mim: nisto consiste o testemunho; e também porque «o homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres […] ou então se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas» , […] ou se escutam aqueles que ensinam, é porque dão testemunho” (ibid., 41)”, afirmou o Papa Francisco horas antes. Schoenstatt (a Igreja) “A Igreja deve ser uma Igreja que se encontra dialogicamente com o mundo contemporâneo, que tece relações fraternas, que gera espaços de encontro, colocando em acção práticas de hospitalidade, de acolhimento, de reconhecimento e de integração do outro e da alteridade, e que cuida da casa comum que é a criação. Por outras palavras, uma Igreja que dialoga com o mundo contemporâneo”.
Na viagem de regresso, não deixámos de falar do que tínhamos vivido: Vivemos Schoenstatt – nada mais, nada menos.
Original: castelhano (27/3/2023). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal
