Posted On 2016-03-29 In Artigos de Opinião

Tríduo de Misericórdia

Pe. Óscar Iván Saldivar, Tuparenda, Paraguai, Domingo de Páscoa •

Queridos irmãos e irmãs:

“O Senhor ressuscitou verdadeiramente, aleluia”[1]. Com esta antífona, inspirada nas palavras dos discípulos: «É verdade! O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!» (Lc 24,34), a Liturgia da nossa fé convida-nos a celebrar e a viver a Ressurreição de Cristo, início da nossa própria ressurreição.

Mas ainda não tinham compreendido…

O Evangelho que proclamámos nesta celebração (Jo 20, 1-9) relata-nos os primeiros momentos daquele «primeiro dia da semana» em que Maria Madalena e os discípulos encontraram o sepulcro vazio.

Pedro e João viram «as ligaduras no chão, e também o sudário» que tinha coberto a cabeça de Jesus (Jo 20, 6-7). À sua frente encontravam-se os sinais de que efetivamente o Crucificado tinha ressuscitado: o sepulcro vazio e as ligaduras e o sudário enrolados. Contudo «ainda não tinham compreendido que, segundo a Escritura, Ele devia ressuscitar de entre os mortos» (Jo 20, 9).

Na realidade, para os discípulos de Jesus, todos os acontecimentos que aconteceram em torno ao seu Mestre desde a “cena pascal” eram difíceis de assimilar e de compreender em toda a sua profundidade. Era difícil compreender que Aquele que «passou fazendo o bem e curando todos os que tinham caído no poder do demónio» (Hch 10,38) tinha sido suspenso no madeiro. Era difícil compreender que Aquele que tinha sido misericordioso com os homens não tivesse recebido misericórdia no momento da sua paixão e morte na cruz. Sim, «ainda não tinham compreendido que, segundo a Escritura, Ele devia ressuscitar de entre os mortos» (Jo 20, 9).

Tríduo de misericórdia

Também a nós, muitas vezes, é-nos difícil compreender o Mistério Pascal de Cristo. Nestes dias santos celebrámos o Sagrado Tríduo Pascal da paixão, morte e ressurreição de Jesus.

Se lembrarmos as celebrações que vivemos, recordaremos como na Quinta-Feira Santa, vimos Jesus passar no meio de nós lavando os nossos pés e as nossas feridas, recordaremos como Jesus quis ficar no meio de nós, e da nossa vida, no Pão e Vinho consagrados: «é a Páscoa do Senhor», Páscoa de misericórdia (Ex 12,11b).

Na Sexta-Feira Santa tomámos consciência de que na cruz «Ele suportava os nossos sofrimentos e carregava as nossas dores» (Is53,4), e ao fazê-lo libertou-nos, curou-nos, salvou-nos. «Pelas suas feridas fomos curados» (Is 53,5). Assim, a Cruz de Cristo voltou a brilhar aos nossos olhos com toda a sua luz e manifestou-se como o que realmente é: sinal de misericórdia que cura, misericórdia que é amor até ao fim (cf. Jo 13,1), misericórdia que é capaz de assumir a morte.

Mas precisamente, assumindo a nossa morte Jesus mostrou-nos o alcance da misericórdia de Deus: trata-se de “uma potência especial do amor, que prevalece sobre o pecado”[2] e a morte. “O Filho de Deus na sua ressurreição experimentou de maneira radical em si mesmo a misericórdia, ou seja, o amor do Pai que é mais forte que a morte.”[3] Sim, a misericórdia que Jesus nos deu ao entregar a sua vida na cruz, recebeu-a de volta das mãos do Pai na ressurreição.

À luz do Mistério Pascal de Jesus Cristo têm um novo sentido as palavras do sermão da montanha: «Bem aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» (Mt 5,7). Bem aventurados os que entregam a sua vida pelos outros, porque receberão “A plenitude da vida na ressurreição,” [4] Assim todo este Tríduo Pascal que temos vivido revela-se-nos como Tríduo de misericórdia e a Páscoa como plenitude da misericórdia divina.

Testemunhas da ressurreição, testemunhas da misericórdia

Somente crendo na misericórdia compreenderemos o Mistério Pascal de Jesus Cristo e poderemos ser testemunhas da sua ressurreição, testemunhas da sua misericórdia. Somente crendo na misericórdia poderemos entregar as nossas vidas no dia a dia apesar de todas as fadigas e de todos os obstáculos, sabendo que quem entrega a sua vida no amor a recuperará plenamente na ressurreição. Somente crendo na misericórdia poderemos sempre de novo voltar a começar, sabendo que a ressurreição de Jesus nos permite sempre um novo início. Somente crendo na misericórdia poderemos vencer o rancor com o perdão, sabendo que a misericórdia é amor que prevalece sobre o pecado e a infidelidade.

Assim, para nós, cristãos “o Cristo pascal é a encarnação definitiva da misericórdia, o seu sinal vivo”[5] e a sua fonte. E depois destes dias santos somos chamados a ser testemunhas da sua ressurreição, testemunhas da sua misericórdia. O que celebrámos devemos agora vive-lo com alegria e confiança.

A Maria, Mater Misericordiae, pedimos-lhe que a misericórdia que experimentámos na Páscoa de Jesus Cristo nos dê as graças necessárias para que na nossa vida quotidiana possamos ser «misericordiosos como o Pai» (Lc 6,36). Amén.

Regina Coeli
Regina coeli…
[1] Antífona inicial da Missa do Domingo de Páscoa
[2] JOÃO PAULO II, Dives in misericordia 4.
[3] JOÃO PAULO II, Dives in misericordia 8.
[4] MISSA ROMANO, Plegaria Eucarística para diversas circunstâncias I.
[5] JOÃO PAULO II, Dives in misericordia 8.

Original: espanhol. Tradução: Maria de Lurdes Dias, Lisboa, Portugal

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