ALEMANHA, Klemens M. Holländer •
Neste Ano Santo da Misericórdia e como Irmão de Maria de Schoenstatt, decidi pôr-me a caminho para Roma. Mas o que foi que me impulsionou a empreender este projeto? Primeiro, a gratidão por tudo o que consegui na vida e a recuperação da minha saúde. A isto há a acrescentar uma mudança na minha vida profissional. Estas foram as razões para iniciar esta peregrinação, seguindo o chamamento do nosso Papa Francisco. Também houve outros motivos, como o pedido de novas vocações para a nossa comunidade, pela Juventude Masculina da cidade de Espira e por uma jovem mãe muito doente.
Como eu não estava em condições de realizar uma peregrinação desta dimensão, a preparação física era muito importante. Então, comecei a caminhar distâncias cada vez mais longas e a definir um percurso. Em maio chegou o grande dia: iniciei a primeira etapa, cujo destino final era a cidade de Lausana na Suíça. Depois da bênção do peregrino no Santuário Original, parti.
O caminho, assim como a vida, não é uma competência.
Nunca tentes ultrapassar o teu limite, o teu corpo logo te passará a fatura.
Observar, contemplar, parar e desfrutar.
Isto é o que o caminho quer ensinar-te.
A minha primeira paragem foi no centro schoenstattiano de Marienpfalz, o lugar onde fui chamado à minha vocação. Depois, continuei pela Selva Negra ao longo do percurso ocidental para peregrinos, atravessando a Suíça até à ermida de Ranft, onde viveu San Nicolás de Flüe, e a partir daí pelo Caminho de Santiago até chegar ao meu destino, a cidade de Lausana. Devido às temperaturas demasiado elevadas no verão, decidi fazer uma pausa até setembro.
Mas no dia 25 de agosto optei por dar início à segunda etapa. Desde Lausana, parti pela Via Francígena, passando pelo lago de Genebra até ao “Gran San Bernardo” a 2400 m.s.n.m.; entretanto continuei pela mesma Via Francígena até ao Valle de Aosta, passando pela Llanura Padana, depois sobre os Apeninos e através da bela Toscana, para chegar a Lacio. No dia 14 de outubro, por fim, cheguei à cidade Santa de Roma, depois de ter caminhado 2000 quilómetros. Concluí a minha peregrinação com a passagem pela Porta Santa da Misericórdia na Basílica de São Pedro. Durante os últimos quilómetros tornou-se muito difícil para mim controlar as minhas emoções, estava demasiado emocionado.
Peregrinar implica um risco
Pôr-se em marcha por um caminho tão longo implica naturalmente um risco. Tenho de aceitar as minhas debilidades físicas, aceitar os muitos quilómetros diários de percurso com caminhos empinados, pedregosos e asfaltados; para além das condições climáticas, sobre as quais não temos influência. Muitas vezes, tanta chuva, sol, frio ou calor, já não são muito bem-vindos. Será suficiente a minha condição física? Talvez tudo aquilo em que acreditei e experimentei será posto em causa ou talvez me inunde uma imensa alegria. Conseguirei sempre encontrar o caminho correto e um lugar adequado para dormir? Encontrarei gente nova, bons lugares, novos pensamentos e sentimentos? Talvez vá viver acontecimentos que me levem mais além do que tinha imaginado.
E sim, esta deve ser uma peregrinação com todas estas perguntas, caminhando com Deus e com a Mater. Durante este tempo, propus-me analisar toda a minha vida, com o fim de tirar conclusões. Para isto seriam necessários: o longo caminho, a solidão e o encontro, a oração e a meta. Tinha a esperança de um tempo de reflexão e oração, que me aproximassem do céu e me trouxessem novas forças para continuar outra vez a vida diária. Do mesmo modo, desejei dias de solidão e dias de união, que me ensinassem a aceitar-me a mim mesmo e aos outros tal como são. Também tinha uma grande vontade de estar em contacto com a natureza. Por isto e muito mais, posso dizer que a viagem, ao longo deste caminho, converteu-se numa profunda aventura religiosa.
Com profunda gratidão pude conseguir tudo isto e levá-lo através da Porta Santa da Misericórdia, em São Pedro, e ao Santuário Original.
No caminho sê sempre tu mesmo, isto é tudo.
Não conta nem o papel que desempenhas na tua comunidade, nem o teu dinheiro, nem o teu passado.
Tu estás “só” mas “és tu próprio” o que entra em contacto com os outros, assim podes dar e também receber.
É uma linda experiência num mundo onde, muitas vezes, vivemos como prisioneiros de um papel ou de uma imagem.
Original: Alemão. Tradução: Maria de Lurdes Dias, Lisboa, Portugal