Posted On 2016-10-01 In Schoenstatteanos

Rezando com Jorge Morales um último Pai-Nosso eucarístico, em Bellavista

CHILE, por Tita Andras e Maria Fischer •

jorge-morales

Na Festa do Santíssimo Nome de Maria, 12 de setembro de 2016, teve lugar o funeral de Jorge Morales. Ele é um conhecido filho de Schoenstatt, em Bellavista, desde a primeira hora da missão deste Santuário. É um dos cofundadores de Schoenstatt no Chile, e companheiro de caminho de Mario Hiriart.

Jorge Morales Retamal foi advogado especialista em direito laboral, Académico na Universidade do Chile, Diretor do Trabalho durante o governo de Patricio Aylwin, no retorno à democracia, membro do conselho superior do Conselho de Defesa do Estado (CDE), cúpula integrada por 12 membros, todos especialistas em diversas áreas, e Assessor do mesmo CDE até ao final.

O seu cunhado, o Pe. Joaquín Alliende Luco, pregou no seu funeral em Bellavista, partindo de cada frase do Pai-Nosso.

Homilia na Eucaristia do funeral de Jorge Morales

Pe. Joaquín Alliende Luco

Escolhemos o Evangelho desta Eucaristia, retirando-o do Sermão da Montanha, em S. Mateus. A liturgia da Igreja escolheu deste evangelista as palavras do Pai-Nosso.

O Abba de Jesus, o nosso Pai, é o Pai de Jorge Morales Retamal… Sofremos com a partida de Jorge. Mas também nos faz rezar, adorar a esse Jesus que tomou a nossa carne no ventre da Virgem Maria. Sim, esta dor que partilhamos faz-nos unir profundamente ao Coração Humano da Trindade, porque “o Verbo se fez carne” e a carne se fez Verbo. Aqui está a única e última síntese de humanidade e fé cristã!

O padre José Kentenich, no seu carisma próprio, recorda-nos que Deus fala connosco através da história. Jorge é uma personalidade muito nobre da história de Schoenstatt, no Chile. É um chileno, um advogado. É o esposo de María Luisa, é um patriarca com os seus filhos e netos. É também um contemporâneo de mudanças radicais na história da Igreja, do mundo, do Chile e de Colchagua. De Doñihue e Pichilemu. De Cáhuil e das margens do Nilahue. E do chamado “catolicismo social” de San Alberto Hurtado e do Cardeal Raúl Silva. É um dos cofundadores de Schoenstatt no Chile, companheiro de caminho de Mario Hiriart e do Pe. Hernán Alessandri.

“Pai-Nosso”, Jorge viveu como batizado, e por isso, como homem terreno. Fraterno e cívico. Com ele queremos, hoje e aqui, dizer “nosso”, mas antes, exclamar: “Pai, Abba”, que significa pai querido, mas dito com voz de criança em aramaico. Dizemos: “Abba, paizinho, meu querido paizinho”.

“Santificado”, que significa “glorificado”. Santificado seja o teu Nome de Pai,  porque Jorge tem biografia de filho, e agora, é-o para sempre. Santificado seja o teu Nome, por o teres dado a María Luisa, a cada filho, a cada neto, e à sua bisneta.

Glorificada seja a tua Sabedoria, porque Jorge apressou o teu Reino, quando lutou pelos trabalhadores do Chile, pelos seus sindicatos. Quando combateu por eles, e redigiu leis em prol dos operários e funcionários, depois do retorno à democracia.

Santificado seja o teu Nome, porque a escola espiritual de José Kentenich plasmou a sua biografia de batizado, de confirmado, e a existência eucarística e matrimonial. Agradecemos pelo óleo santo que o ungiu antes do último combate da sua fidelidade contra o Demónio.

“Venha a nós o vosso reino”, um reino no etéreo, nem vago, nem confuso. O reino de Jorge começava por María Luisa, Paula, Jorge, Francisca, Pilar e Jimena. E pelos esposos de cada um deles e pelos filhos e netos, pelos vizinhos, pelos clientes do seu gabinete de advogado, pelos camponeses por onde passa o Nilahue, pela sua paróquia, pela sua diocese de Santiago, pela Igreja dos Papas dos nossos tempos tão cruciais. Isto é “solidariedade de destinos” como dizia José Kentenich.

“Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”. A voz de Cristo tornou-se mais perentória no Getsemaní, quando a angústia enchia a sua alma, e clamou: “Abba, afasta de mim este cálice… mas não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lc 22, Mt 26, Mc 14).

Ontem e hoje, temos vindo a dizer, cada um no seu próprio tom de voz: “faça-se a tua vontade”, porque a tua vontade é que morramos “em Cristo”, para ressuscitar na felicidade do céu.“Faça-se agora a tua vontade”,na partida de Jorge.

“O Pão nosso de cada dia nos dai hoje”. No deserto, o maná durava ao povo de Israel um só dia. Não se podia armazenar. Era, estritamente, um pão quotidiano. Assim também acontece com o alimento de cada lar, porque todo o homem vive dia a dia. Alimenta-nos, Pai, hoje com o teu Pão. Dá hoje a tua Casa do céu a Jorge. Oferece-lha neste Ano Santo da Misericórdia.

“Perdoai as nossas ofensas”. A ofensa é, antes de tudo, uma rutura entre duas pessoas, entre duas liberdades capazes de amar e dar carinho, ou de odiar. O pecado é um golpe, é uma ofensa ao íntimo   Amigo, ao Pai justo e misericordioso. Pai infinito, perdoa hoje a Jorge todas as ofensas contra a tua delicada e generosa bondade.

“Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Soube que algumas vezes, Jorge se sentiu ofendido por alguém. Sou testemunha de que perdoava sempre. Jorge está hoje a voltar como filho pródigo à tua Divina Misericórdia. “Pai, agora abraça-o, abraça-o com força!”

“E não nos deixeis cair em tentação” de crer que Jorge morreu para sempre. S. João Paulo II exclamou muitas vezes: “A noite não tem a última palavra. O pecado, a dor, o pranto, a separação, a morte… não têm a última palavra!”

Muitos contemporâneos nossos não conseguem professar a fé em Jesus Cristo. Outros, deixam-se arrastar pela angústia, e a esperança é asfixiada. Muitos amigos de Jorge viram-no levantar-se, com valentia, quando caía, viram-no corrigir-se e implorar a Tua benevolência… Senhor, perdoa-o agora, na força desta Eucaristia!

“Mas livrai-nos do mal”, do mal e do Maligno. E agora, nesta terra santa da Santíssima Virgem, hoje, enxuga as nossas lágrimas, consola-nos.

“Amén”, dizemos, sim. A cruz de Cristo é a conjunção dos braços abertos a todos e a toda a realidade. Também é a vertical de um homem posto de pé frente ao horizonte. É a vertical de Cristo ressuscitado, quando saltou nesse Domingo da sua postura de sepulcro. A cruz é o mais divino sobre o cosmos e a história. É o que mais emociona, é a ternura do Pai para com o seu Filho no Espírito Santo ressuscitador.

Jorge era cristão, beijou a cruz até ao final. Acreditava e vivia na chamada “Cruz da Unidade”, símbolo glorioso que nasceu nesta terra Bellavista. Ele sempre viu Jesus com Maria e Maria com Jesus, tal como os contemplamos na Cruz da Unidade. Entre ambos ergue-se um cálice, com sangue e água divinas, único manancial vitorioso para sempre.

Queridos irmãos, estamos rezando com Jorge este último Pai-Nosso eucarístico em Bellavista. Levamos a sério um ensinamento do sacerdote que consagrou esta terra a Maria. Ele disse-nos “Todo Schoenstatt, a sua pedagogia, a sua espiritualidade… tudo, também o santuário, nos foram dados para que possamos rezar bem o Pai-Nosso”. E isso basta-nos.

Pessoalmente, não conheço um texto mais consolador que as linhas de um poema, ditado por José Kentenich, no demoníaco campo de concentração de Hitler: Dachau. Em poucas palavras se descreve a chegada ao céu de um filho de Deus. É alguém que se sente sujo… mas chega com a confiança de uma frágil criança. A oração kentenijiana é esta:

“Quando o Esposo me convidar para as núpcias

e no céu me cumular de amor;

quando a Mãe com orgulho

me conduzir ao Pai

o filho que na terra

lhe causou tanta alegria:

então a minha aliança

suscita toda as forças:

“Chegou a hora do teu Amor!” (Rumo ao Céu, 599)

“Quando o Esposo me convidar para as núpcias”, quer dizer, a morte do filho reconciliado é uma festa de boda.

“Quando o Esposo me cumular de amor”… então será quando a Virgem Maria “me conduzir com orgulho ao Pai”. Com orgulho? E Deus, hoje está orgulhoso de Jorge? Sim, está muito orgulhoso do seu pequeno filho Jorge.

O fundador de Schoenstatt acrescenta algo válido para toda a pessoa em paz com Deus… “com orgulho me conduzir ao Pai, a mim, que na terra Lhe dei tanta alegria”.

Escuta bem, Jorge, recordamos-te hoje, como a um velho schoenstattiano de Bellavista. Agora, precisamente quando estás a entrar na Casa definitiva, podemos dizer-te: Sim, Jorge, a Mater conduz-te “com orgulho ao Pai”. Sim, a ti, seu filho “que Lhe deu na terra tanta alegria”. Sim, Jorge, “chegou a hora do teu grande amor”. Amén.

Video (de SchoenstattVivo): Jorge Morales sobre Mario Hiriart

Un artículo de Jorge Morales: hijo ilustre de La Florida (schoenstatt.org 2005, fuente: Vínculo)

Original: espanhol. Tradução: Maria de Lurdes Dias, Lisboa, Portugal

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