Posted On 2010-04-17 In Schoenstatteanos

Quando treme a terra: um testemunho pessoal

P. Raúl EspinaPe. Raúl Espina. O dia 26 de fevereiro foi para mim um dia muito normal. À noite tive um encontro com alguns novos seminaristas de nossa comunidade de Santiago, em que tratamos de diversos assuntos. Depois fui deitar-me sem haver antes contemplado e admirado a magnífica noite e a lua cheia. Acordei de repente! A terra está tremendo, disse comigo.

 


Interiormente, dizia comigo: tenho de manter-me calmo. Já irá passar, pois trata-se de um novo tremor como já inúmeras vezes o vivenciaste. Porém, desta vez, enganei-me. Levantei-me, recordando-me de todos os cuidados a tomar em caso de terremoto: agasalhar-se e calçar sapatos. Depois, sair prestamente de casa, se possível e for mais seguro que estar em casa, e esperar…

Chile después del terremotoEncontrava-me no segundo andar, e tudo se movia como ainda até então o não havia vivenciado. De repente, caiu a energia elétrica, e, na escuridão, cheguei ao primeiro andar. Entretanto, estava estupefato como eu cambaleava da esquerda para a direita, quando descia rapidamente as escadas. Ao mesmo tempo, pude escutar vozes, o estilhaçar dos vidros das janelas e um incrível e inconfundível barulho que emanava do interior da terra. Nesta altura, tive medo. Dois minutos e 45 segundos foi tempo que tudo isso durou.

Como frágil é a vida

Se a terra treme como nós chilenos vivenciamos em 27 de fevereiro derradeiro, pode-se então constatar como frágil é nossa vida e como estamos expostos à natureza; em tais situações, pensa-se em todos os entes queridos, em todas aqueles que talvez nesse instante encontrem a morte, pensa-se em Deus, que permite tal catástrofe… De imediato, pensei em meus pais, que já são idosos e vivem sozinhos, em nossas irmãs e suas crianças, em meus irmãos que vivem no sétimo andar de um edifício, em minha avó, 90 anos de idade, que vive nos Andes… Não havia a possibilidade de telefonar, pois, ao longo de várias horas, a rede telefônica encontrava-se sobrecarregada. Só às 6:00h, tomei então conhecimento de que todos estavam bem. Sem embargo, nessa ocasião soube que o terremoto havia causado terríveis danos em outras cidades e que até um tsunami havia atingido a costa chilena…

Iglesia en Chile después del terremotoFaz-se aqui menção de um pequeno testemunho de uma jovem senhora que nessa noite se encontrava alhures em Santiago. E eis o que ela nos narra acerca do que vivenciou volvido o terremoto: “Já havia voltado a energia elétrica, assim como a água, mas de aspecto de água impotável. Nos apartamentos, tanto o telefone, o televisor quanto a Internet não funcionavam, de sorte que não era possível estabelecer contato com ninguém, sendo até difícil saber como estavam os demais, e estabelecer contato com os familiares para lhes dizer que estava bem.”

Só quando na noite de sábado 27 de fevereiro vi as primeiras imagens transmitidas pela televisão é que me dei conta dos danos causados, assim quanto do sofrimento das pessoas, pois praticamente 80% da população chilena havia sido atingida pelo terremoto. Certamente que nessas horas alguns de nós não conseguiram conter as lágrimas ante tal catástrofe.

As crianças que ele não conseguiu salvar

Além das terríveis narrações dos sobreviventes, tomamos outrossim conhecimento de atos heróicos empreendidos por algumas pessoas. Na região flagelada pelo tsunamis, um camponês foi buscar seu cavalo e partiu para resgatar pessoas da água conseguindo assim salvar algumas delas. Ao lhe perguntarem se estava feliz por isso, respondeu que se alegrava pelos sobreviventes, mas não poderá olvidar os gritos de três crianças que se encontravam dentro de um carro no meio da água e que dele não conseguiu aproximar-se.

Pude ainda vivenciar como os jovens no próprio dia 27 de fevereiro logo ofereceram seus préstimos a todas as possíveis organizações de auxílio. E com a maior naturalidade, andavam pelas ruas oferecendo auxílio: arrecadaram doações de roupas, gêneros alimentícios e água. Outros partiram de imediato para as cidades devastadas. Infelizmente os meios de comunicação social pouco falaram a respeito desta incrível magnanimidade de tantos jovens.

Hoje acompanhamos o Senhor em Sua Via-Sacra, por outra, em nossa via-sacra. Simão Cirineu chama-nos à atenção de ainda que tragamos nossa cruz, devemos ao mesmo tempo assistir outrossim a demais pessoas. Muito amiúde nossa vida é abalada por tremores, sejam estes internos ou externos, parecendo que tudo se desmorona reduzindo-se a ruínas. Talvez isto seja bom acontecer, a fim de que sintamos que nossa vida, a bem dizer, a Deus pertence. Ele é nossa rocha e salvação. Nele depositamos nossa confiança, ainda que o caminho tenha de passar pela cruz.

Um sinal da ressurreição

No Chile principiam os trabalhos de reconstrução do país; os chilenos dirigem o olhar rumo ao futuro, por outra, rumo a um futuro melhor. Não poderíamos nós interpretá-lo qual sinal da ressurreição, assim como colocar nossa vida entre esse sinal?

O Presidente da Conferência Episcopal chilena tirou a seguinte conclusão do ocorrido: “Em face de tal supremacia da natureza, reconquistamos o que vive no coração de todas as pessoas: colocar-se à disposição dos outros. Isto nos leva ao essencial, que não consiste em amealhar bens em excesso, senão no amor, na entrega e no magnânimo serviço prestado aos mais fracos.”

Este testemunho foi dado pelo Padre Raúl Espina, conselheiro da Direção-Geral dos Padres de Schoenstatt, durante a recitação da Via-Sacra na Sexta-Feira Santa de 2010.

Tradução: Abadia da Ressurreição, Ponta Grossa, PR, Brasil

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