Cristo

Posted On 2023-03-07 In Vida em Aliança

O que teria feito a Conchita?

ESPANHA, Luis Enrique Zamarro •

A liderança na União está consubstanciada no serviço. Se são (nós somos) um corpo de elite, é na luta diária pela santidade; e pela entrega generosa aos outros. —

Há cerca de três meses atrás, mudei-me para um novo local de trabalho. Do parque de estacionamento ao escritório há uma igreja que está aberta às sete e meia da manhã (pelo menos). Desde então, tenho entrado todas as manhãs e tenho retomado a oração de Laudes de que sempre gostei tanto; é uma forma maravilhosa de começar o dia a louvar a Deus com os salmos.

Na saída, mesmo ao lado da porta, há uma talha em tamanho natural de Cristo crucificado. Os pés, trespassados por um prego, são colocados a uma altura que lhes permite serem beijados ou tocados. No início nem sequer reparei nele. Gradualmente fiz contacto visual com a imagem e contemplei-o de forma fugaz. Saltando a minha natural contenção acabei por parar por um momento e tocar os pés (Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus vivo, tem piedade de mim). Depois saio para a rua para enfrentar o dia.

No passeio fora da igreja, encontro frequentemente um homem a pedir ajuda. Ele é relativamente baixo, de ombros estreitos, barbudo e parece ter pouco mais de quarenta anos. Nesta altura do ano, usa um chapéu de cor indeterminada e um casaco de cor vermelho intenso de meia-estação com sinais claros de que não é lavado há muito tempo. Nunca ando com dinheiro, nunca. Por isso costumo passar por este homem com alguma pressa, acenando fugazmente, com algum gesto de desculpa por não o poder ajudar; quase sem o olhar nos olhos. Se eu não lhe podia dar dinheiro, que é o que ele obviamente precisava, não sabia o que mais poderia fazer.

Mas não se pode tocar nos pés de Cristo e fugir

Na quinta-feira passada, como faço todos os dias, voltei à igreja, rezei novamente as Laudes e, ao sair, voltei-me como faço todos os dias para tocar os pés de Cristo crucificado na imagem. À porta da igreja, fui confrontado por este homem. Não houve fuga possível. Disse-lhe bom dia e gaguejei um pedido de desculpas por não lhe poder dar dinheiro. Não sendo de todo óbvio para mim, iniciei uma conversa, dizendo-lhe como estava frio. Ele respondeu que sim, estava muito frio e perguntou-me imediatamente se lhe podia pagar um café quente.

A algumas dezenas de metros de distância há um café que oferece café para levar. Caminhámos até lá; abre às oito da manhã e chegámos uns minutos mais cedo. A conversa decorreu naturalmente. Ela disse-me que tinha quatro filhos, que era da Roménia, que vivia numa casa em muito más condições e que não tinha trabalho aqui porque não tinha documentos. Que iria brevemente para Itália para trabalhar como agricultor nas batatas. A conversa foi interrompida quando a loja abriu. Comprei os cafés e disse adeus.

No caminho para o escritório, como uma inspiração do Espírito Santo, um pensamento espontâneo encheu-me a mente:

  • Que teria feito a Conchita?
  • Ter-lhe-ia perguntado o nome.

De facto, Conchita ter-lhe-ia perguntado o seu nome, os nomes dos seus filhos, e ao despedir-se dele, ter-lhe-ia dito que rezaria por ele para que se saísse bem em Itália e pudesse ganhar dinheiro para uma vida melhor. Sim, era isso que Conchita teria feito….

mendigo

Ouvir a voz de Deus no outro, no irmão ou na irmã

Quando alguém nos pergunta quais são os traços mais característicos da União, falamos sobre o espírito comunitário e a liderança dos seus membros.

A comunidade, que na União assume a forma da comunidade livre e da comunidade oficial (o objecto dessa tensão criativa que é tanto nossa), é o lugar onde somos formados e educados.

O Curso, a comunidade livre, permite-nos desdobrar a nossa personalidade mais livremente, abrindo-nos aos outros num espírito de fraternidade. A comunidade oficial seria o lugar do trabalho, mas também para o encontro entre gerações e experiências de vida.

O meu grupo oficial é uma bênção de Deus. Permitiu-me descobrir pessoas brilhantes e dedicadas. Os seus talentos iluminam-me, melhoram-me, inspiram-me. E o que tolero menos neles, confronta-me com a minha própria personalidade, com o que vejo de mim próprio neles, com o que tenho de melhorar e corrigir. Eles educam-me na medida em que me sinto amado por eles, nesse amor de doação (ágape) de si próprios.

Porque a liderança na União está consubstanciada no serviço. Se são (nós somos) um corpo de elite, é na luta diária pela santidade; e pela entrega generosa aos outros. São líderes nas frentes onde têm de lutar: no mundo da educação, nas prisões, com os necessitados, aos pés dos doentes, humanizando a ciência e, literalmente, no campo de batalha.

Eles são, em tantas ocasiões para mim, um transparente de Deus. Viver a experiência da Fé Prática na Divina Providência é abrir-se para ouvir a voz de Deus no outro, no irmão.

Assim, se alguém se pergunta porque pensei: o que teria feito a Conchita, e não, o que teria feito Cristo, a resposta é simples: para mim, é a mesma coisa….


Publicado em federacionfamilias.schoenstatt.es

Original: castelhano (5/3/2023). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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