Alianza de Amor

Posted On 2022-12-06 In Vida em Aliança

Falar da Aliança de Amor é falar de Schoenstatt

PARAGUAI/MÉXICO, Juan Ramón Santoyo Reyes, Noviço •

Estamos a 20 de Outubro em Tupãrenda, está a chover. Já passaram dois dias desde a celebração do 18 de Outubro aqui no nosso Santuário ‘Nação de Deus, Coração da América’. Pela minha parte, preparo-me para escrever uma pequena reflexão que tem vindo a amadurecer nos últimos dias, sobre a Aliança de Amor. —

Durante o tempo prévio ao dia 18, até agora, surgiram-me várias memórias vitais, algumas definições diferentes para descrever a Aliança, bem como certas ideias sobre como abordar um assunto que parece tão amplo, e ao mesmo tempo tão simples. Falar da Aliança de Amor é falar do próprio Schoenstatt, é falar de Deus e da Igreja, é falar de quem, ajoelhado perante a Mãe de Deus, Lhe dá o seu coração; é falar de ti e de mim, porque já experimentámos em primeira mão que Maria nos ama e leva a sério as Suas promessas.

Já me perguntei várias vezes, como cheguei aqui?

Desde que cheguei ao Noviciado dos Padres de Schoenstatt, tenho experimentado muitas mudanças na minha vida. Deixar a minha casa, o meu país e o meu modo de vida significou para mim um salto mortal onde a única coisa que me impulsionava era uma ideia predilecta, a minha vocação. Eu quero ser padre. A cada dia que passa, apercebo-me das implicações desta decisão, ou melhor ainda, deste apelo que Deus me fez. Já me perguntei várias vezes, como cheguei aqui? Parece surreal pensar que há quase 11 anos atrás, eu nem sequer me considerava católico, e agora não posso considerar a minha vida separada de Deus, ou de Maria. O que aconteceu no meio? O que me trouxe até aqui? Antes de mais, estou firmemente convencido de que fui trazido aqui pela profunda experiência do amor de Maria, da Sua Aliança comigo e dos seus cuidados maternais. Em segundo lugar, fui trazido aqui por todos aqueles que fizeram família comigo no Movimento, e por tantos outros que, para mim, são heróis sem capa e sem nome. A minha vocação é o fruto do seu trabalho, dedicação e amor.

Ao longo do meu tempo na Juventude de Schoenstatt, vi tantos a entrar e a sair. Muitos daqueles que começaram o caminho comigo já não estão, e outros que nunca pensei que fossem meus amigos, tornaram-se vínculos fortes e duradouros. Poderia parecer que havia (e ainda há) aqueles de nós que “sobreviveram”, aqueles que “permaneceram fiéis”. Na altura, esta realidade trouxe consigo uma tentação subtil, outra questão: para que serve tudo isto, para que serve dar a vida nos Ramos, nos apostolados, nos grupos se, passado algum tempo, a maioria deles se vão embora? Talvez possamos pensar que no final não conseguimos mudar nada, que somos mais uma espécie de excepção, e que falhámos com tantos. Foi precisamente este sentimento, esta memória de tantos jovens que passaram por um momento de desilusão ou desencanto com Schoenstatt, com a nossa fé, que marcou parte da minha experiência de Aliança este ano. Qual é o significado de tudo isto?

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“Mãe, permite-me partilhar esta experiência, quanto mais não seja com mais uma pessoa”

Esta foi a resposta que Deus me deu nos últimos dias:

Oferecemos as nossas vidas porque acreditamos num mundo onde o Amor é o principal vínculo unificador entre as pessoas. A Aliança que Deus selou connosco no baptismo, nós renovamos através da nossa Aliança de Amor com Maria. Isto faz de todos nós membros de uma grande família, a Igreja, e dentro desta, Schoenstatt.

Lembro-me de quando fiz a minha promessa. Disse a mim mesmo: – “Mãe bendita, deixa-me partilhar esta experiência, mesmo que seja apenas com mais uma pessoa”. – Para mim, tal foi o milagre no meu coração, tão grande foi a alegria, que dar a minha vida por mais um teria sido suficiente. Em Schoenstatt tinha experimentado um lar, um verdadeiro lugar onde Maria me olhava e falava comigo, onde diferentes pessoas saltavam juntas ao som do hino de “Franz Reinisch”. Penso que nos faz bem viver nesta atitude mais filial. Não damos as nossas vidas por números, não damos as nossas vidas por grandes jogadas de xadrez, damos as nossas vidas para que outros possam experimentar estes fortes vínculos que transformaram as nossas vidas, sem nos preocuparmos demasiado com, onde podem levar ou quando chegarão.

Onde estariam todos sem o Pe. Antonio? sem todos aqueles que deram as suas vidas?

Oferecemos as nossas vidas porque acreditamos no que temos visto. Em tempos de crise ou de depressão, chega-nos frequentemente um idealismo sem fundamento. Este idealismo, como José Kentenich o utilizou, separa-nos da realidade, transformando o religioso numa colecção de ideias, pensamentos e intelectualismos. Separa-nos dos que nos rodeiam. O realismo, por outro lado, é o que une a fé e a vida, mostra-nos uma realidade objectiva e leva-nos a vê-la a partir da fé. Lembra-nos que, embora nem sempre o vejamos, Cristo, e através dele, Maria, são responsáveis pela multiplicação dos frutos.

Aqui no Paraguai, há alguns meses, o Padre Antonio Cosp, um dos Padres fundadores do Movimento no interior do país, faleceu. Foi com este pano de fundo que, ao caminhar na procissão de entrada para a Missa do dia 18 às 16h, não pensei no calor, mas olhei para os milhares de pessoas de ambos os lados e perguntei-me… Onde estariam todos sem o Padre António? Sem todos aqueles que deram as suas vidas? É engraçado, porque muitos deles provavelmente nem o conheciam pessoalmente, muitos outros são peregrinos de longe que vêm pela primeira vez.

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As nossas acções, as nossas atitudes e a nossa fé transformam o mundo!

Mas será que Maria teria sido capaz de fazer as suas maravilhas se não fosse pela dedicação dos que estão aqui na terra? Sem dúvida, embora as nossas acções sejam concretas e muitas vezes pareçam insuficientes, é a nossa confiança nos frutos que Deus trará que nos mantém em movimento. As nossas acções, as nossas atitudes e a nossa fé transformam o mundo! Oferecemos a nossa vida porque queremos confiar. Nos tempos de hoje, confiar em Deus, confiar na Sua vinda e que Ele encontrará formas de escrever direito por linhas tortas parece um acto de rebelião.

Como Maria, queremos dar um “Sim” fiel que saiba acompanhar Cristo, para unir a Sua vontade à nossa. Queremos ser capazes de O ouvir, de modo a podermos segui-lo. Um amigo meu escreveu-me sobre isto, e reflectiu: “confia [dizia a si próprio], haverá tempo para verificar… Tenho sempre medo que o que penso que funcionará, que outros não gostem ou que não seja obra de Deus, mas confio e confio que Deus põe pequenas intuições nos nossos corações e é assim que Ele nos conduz”.

Esta experiência viva e real de saber que Deus nos fala, que Ele caminha connosco, é também uma das maiores razões pelas quais damos as nossas vidas. Como diz o meu querido amigo, não se trata de dar passos sem rumo, mas de dar passos confiantes porque Deus conduz. Para dizer também que, como Aliados, confiar no meio de tanto movimento, para ser capaz de transmitir calma na tempestade, creio que é também um dos dons mais necessários na Humanidade de hoje.

É um presente poder ter medo de perder, pois significa que amo e sou amado

Terminarei com uma última memória. Aqui em Tupãrenda há um miradouro espectacular, com vista para o nascer do sol. Aí me encontrava um dia com saudades de casa do México, da minha família e dos meus amigos, que são família. É verdade, sinto a falta deles com todo o meu ser porque os amo muito. Mas depois apercebi-me. É verdadeiramente um dom poder ter tantos entes queridos que eu amo. É um presente poder ter medo de perder, pois significa que amo e sou amado. É uma bênção que, sem dúvida, me faz reconhecer que vale a pena servir, viver a Aliança, porque Deus cumpriu as Suas promessas e deu como fruto do servir, de se dar a si mesmo, a alegria.

Qual é o significado de todos os nossos esforços? O significado é, em última análise, Deus; o significado é partilhar o que vivemos; o significado é criar vínculos com os outros e caminhar juntos, amarmo-nos e reconhecer o quanto precisamos uns dos outros; queremos perceber que o significado é ser feliz porque não é óbvio ter algo pelo qual queremos e podemos dizer, Mãe, nada sem ti, nada sem nós!

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Fonte: Revista Tupãrenda, com autorização

Original: castelhano (4/12/2022). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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