Columna P. Enrique Grez López

Posted On 2021-10-08 In Artigos de Opinião, Coluna - P. Enrique Grez López

Laços de família. Quando os vínculos se emaranham

Pe. Enrique Grez, Chile •

Lacci (Laços de família, 2020) é um filme sobre seres humanos comuns. Não se trata de uma pequena proeza nestes tempos, quando os ecrãs nos mostram apenas histórias de super-heróis ou narrativas pouco credíveis de superação. —

Este filme presta homenagem à tradição do realismo em que os protagonistas não são sequer as pessoas, mas as relações entre elas. O nome do filme fala disto: laços de família. É um jogo subtil de palavras em italiano: lacci são os laços que ligam as pessoas. Mas os lacci também são atacadores de sapatos. E o filme dá-nos uma cena cativante quando Aldo ensina a filha a atar os sapatos de uma forma que, é ao mesmo tempo ridícula e terna.

Esta é a história de uma família e das suas feridas, de como o amor foi despedaçado, mas também dos afectos contraditórios que ressurgem nas cicatrizes do passado. A história é contada vezes sem conta durante uma hora e quarenta minutos que dura o filme. Somos atraídos para o drama através dos olhos dos pais, dos filhos e de algumas testemunhas ao longo de um período de décadas.

Lazos - Lacci - Ties

Fotograma do filme tirado de imdb.com

A questão de saber se estes laços valem a pena

Isto não é um filme cor-de-rosa. Já no início do filme, os laços, os “românticos” laços pessoais , transformam-se numa fonte de dor e até de loucura sem fim. Tal como em tantos outros filmes, perguntamo-nos se estes laços valem o esforço. Receio que a resposta sartriana (o inferno são os outros) continua a ser tentadora e este filme, como quase todo o cinema contemporâneo, rende-se talvez demasiado facilmente à lógica do sem sentido. Apesar disso, a história utiliza nuances e apresenta os laços familiares como uma realidade complexa em que as simplificações são de pouca utilidade quando se trata de falar sobre o que nos une e nos separa. Nestes laços encontramos também ingenuidade, cumplicidade e esperança.

Os retratos

Os diálogos são bons, mas esta é uma história contada sobretudo através de imagens, corpos em movimento, salas cheias de livros, fotografias e utensílios de cozinha, tapetes e persianas, plantas e pedras de paralelepípedos. As janelas dos apartamentos mostram-nos os becos de Nápoles e os parques de Roma, que se tornam cenas privadas da vida familiar. Lacci também tem os seus ripostes. O elenco é fantástico, mas a transição das personagens através dos actores que as interpretam poderia ter sido melhor tratada. Algumas cenas parecem contrastar excessivamente com a linha do enredo e exacerbar o enredo de vingança.

O melhor do filme são os retratos. Não é só porque as personagens são bem construídas. Ao destacar os retratos, refiro-me sobretudo à forma como os rostos são filmados. O estilo comunica um notável calor e respeito pelas relações familiares. Quando a câmara pára ao lado de um desses rostos, desejamos que fique lá mais alguns segundos para admirar a vida que se passa naquela pele, para desvendar toda a energia emocional que habita naqueles olhos.


Lacci Lazos

Fonte: Wikipedia

Ficha Técnica
DIRECTOR: Daniele Luchetti
ANO:  2020
TÍTULO: Lacci (Laços de família, Ties)
PAÍS: Itália
ELENCO: Alba Rohrwacher, Luigi Lo Cascio, Laura Morante, Silvio Orlando, Giovanna Mezzogiorno,   Adriano Giannini
GÉNERO: Drama familiar
GALARDÕES: Abertura da 77º Edição do Festival de Veneza, Prémio ao Elenco

 

 

 

 


ADVERTÊNCIA:
O autor desta coluna não classifica os filmes de acordo com uma avaliação moral do seu conteúdo. Também não sugere idades mínimas de visualização. Em geral, estes são filmes para adultos. Sugere-se a verificação dos critérios de orientação disponíveis nas plataformas.

Original: espanhol (7/10/2021). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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