Posted On 2019-12-02 In Vida em Aliança

Agua Santa: “Família fundadora sempre”, também em tempos de crise

CHILE, Marita Miranda Bustamante •

Nada foi fácil quando se construiu o santuário Cenáculo de Fundação, que acaba de cumprir 50 anos. Em 1968 houve um forte sismo que provocou uma racha no lado esquerdo da parede principal. Ou se reparava e continuava a obra ou começava-se de novo. Optou-se pela reparação, que demorava menos tempo para que fosse possível que o próprio P. Kentenich abençoasse o santuário. —

Primeira imagem da Mater entronizada no Chile, pelo Padre Klepper na Paróquia San Luis Gonzaga do Cerro Alegre em Valparaíso

Este era um desejo muito forte nesse tempo. De facto, a oração de conquista do novo santuário terminava dizendo: “Permite que o nosso pai fundador possa abençoá-lo, para que a partir daqui Schoenstatt cumpra a missão na nossa Igreja diocesana, em todo o Chile”. Contudo, no domingo 15 de setembro, depois da missa, os schoenstattianos de Agua Santa e do mundo souberam que o Padre Kentenich tinha falecido, horas antes, na Alemanha.

Em 1968 o mundo e o país também sofriam mudanças. Tal como hoje, em plena efervescência social. Assim referiu o P. Juan Pablo Rovegno, diretor do Movimento no Chile e vocação de Agua Santa na missa dos 50 anos: “Este santuário também surgiu num tempo de mudanças profundas a nível da Igreja e da sociedade: O encerramento do Concilio Vaticano II, a irrupção do pensamento social cristão comprometido, o aparecimento de ares revolucionários, desde Paris até Havana, no meio da Guerra Fria, os neo imperialismos e os poderes totalitários. Um tempo de efervescência social e de grandes transformações a nível mundial. Nesse cenário, o santuário surgiu como um atelier de formação do homem novo e da nova comunidade, para responder a partir dessa experiência ao desafio social que vivíamos como Igreja e nação”.

Por isso, a crise atual, deve ser uma segunda conversão, “que nos leve a essa necessária conversão pessoal e comunitária, com consequências sociais, que o tempo e a crise que vivemos exigem”. E, frente a esta crise, há que seguir o modelo de Maria, que, depois da Anunciação, se pôs a caminho e foi ao encontro da sua prima. Assim, “o nosso pai (fundador) fala da Mater como a primeira revolucionária e, do Magníficat, como o canto de revolução dos pequenos e pobres frente aos prepotentes e soberbos”.

 

Um santuário austero

Assim era o altar até 1972

Quando se construiu este santuário, em Agua Santa havia uma família pequena, muito unida e consciente da sua historia, que remonta ao ano de 1935, com a chegada dos palotinos à paróquia de San Luis Gonzaga, no Cerro Alegre de Valparaíso, e a primeira entronização da Mater em terra chilena. Depois, esta historia confirmou-se com a visita do P. Kentenich e a assinatura, em 1947, da Ata de Fundação de Schoenstatt no Chile, junto a um grupo de senhoras que cinco anos antes tinham oferecido as suas vidas a Deus para salvar a do fundador, que estava no campo de concentração, quase a ser enviado para a câmara de gás.

Esta família foi para Viña em 1965 e no ano seguinte adquiriu o terreno de Agua Santa 777. Quando se abençoou o  santuário, estava vazio no seu interior. Só tinha o quadro da Mater e o tabernáculo. Para a juventude, isto não só se devia ao custo que era comprar os ornamentos que toda a réplica do Santuário Original devia ter, mas era, sobretudo, um sinal de austeridade no meio de um mundo e de um país que clamavam, tal como hoje, maior justiça social. Por isso os jovens defenderam com decisão a ideia de um santuário sem decoração.

Contudo, em 1972, quando se cumpriram 25 anos da assinatura da Ata de Fundação, María Elisabeth Schmäh, do Instituto Nossa Senhora de Schoenstatt, depois de vender uma valiosa coleção de selos, doou a Agua Santa o altar e todos os símbolos dos santuários filiais. Desde então, estabeleceu-se uma aliança do santuário com os membros do instituto, as frauen, que se materializou nessa época em quatro vocações de Viña para o instituto, segundo relatou Felipe Young, coordenador da Comissão de Historia da Equipa Jubileu.

 

Celebrar no meio da crise?

Justamente a riqueza da historia deste santuário motivou a família de Agua Santa a preparar-se com muita antecipação. Com o lema “Família fundadora sempre”, a equipa do jubileu orientou um grupo imenso de comissões e de voluntários que se preocuparam com a celebração, com a preparação interior, com a investigação e realização de entrevistas e com o financiamento. Houve uma exaustiva recompilação histórica, que ficou materializada numa grande linha de tempo, que começa em 1935 até à data. Compôs-se um hino e gravou-se o disco “50 anos de música”. Realizaram-se vigílias nos santuários-lar e também ateliers de espiritualidade, em que todos os padres, as irmãs, os casais, as profissionais e as crianças – terminaram tirando os sapatos (literalmente) para plasmar a sua marca neste jubileu. Também se dedicou ao jubileu uma corrida desportiva municipal, que nos deu a oportunidade de vestir a camisola do nosso santuário e anunciar esta festa pela cidade de Viña del Mar.

No 18 de outubro passado tivemos a missa de aliança e depois houve vigília em diferentes santuários-lar, para partilhar as experiências pessoais em torno do santuário, a menos de um mês da grande celebração. Quando terminámos e cada um regressava a suas casas e voltava a olhar o telemóvel, percebemos que o país já não era o mesmo. Haveria então razões para celebrar?

Uns dias depois reuniram-se a equipa do jubileu e o conselho de famílias para tentar escutar a voz de Deus no nosso tempo. “O nosso lema do jubileu “Família fundadora sempre”. Iluminados por essa frase, depois de conversar e discernir, pensámos que tínhamos que ser fiéis à nossa historia, porque a partir desta terra as fundadoras ofereceram as suas vidas no altar para salvar a vida do P. Kentenich no campo de concentração de Dachau. Assim se selou a nossa missão de fundadores e agora é o momento de nos colocarmos à disposição para ajudar a fundar e a construir um Chile com verdadeira paz”-explicou Guillermo Novoa, chefe da equipa do jubileu.

Seguimos então em frente, rezando desta vez para que ninguém deixasse de ir à celebração por medo e para que diminuísse a dor do nosso país. A razão para celebrar era que tínhamos muito que agradecer e uma imensa missão a cumprir.

 

Sob o sol e as cinzas

No dia anterior ao festejo houve uma jornada de adoração. Ao cair da tarde, como sinal de esperança, quatro jovens da Juventude Masculina Universitária selaram a sua aliança de amor.

Assim chegou o sábado, 16 de novembro, um dia caloroso, igual àquele domingo de há 50 anos, mas desta vez sob um céu cinzento e coberto de cinzas, enquanto eram consumidos 2.000 hectares num incêndio que outra vez devorava Valparaíso.

Logo que entravam, os peregrinos recebiam a revista comemorativa, uma bandeira, uma bolacha em forma de Santuário que dizia “50 anos” e um autocolante com o seu nome, que nos permitiu conversar e conhecer.

Iniciámos com uma oração pelo Chile e pela verdadeira paz. Em seguida, os visitantes podiam assistir a uma mostra audiovisual, no museu Memorias de Fundação, com documentos e relíquias da historia de Schoenstatt no Chile e do santuário e na Nave del Tiempo Jubileo 50, uma experiência 3D, onde 251 pessoas puderam viver o processo de construção e a bênção, com cintos de segurança incluídos.

Na Eucaristia, onde concelebraram mais de 20 sacerdotes, ofereceu-se o capital de graças do ano, convertido em denarios que se deram aos presentes. A Mater foi novamente entronizada no santuário, enquanto todos agitavam as suas bandeiras e o coro Voz de Comunhão e o coro de famílias cantavam. “Elegi-te para levar muito longe esta bandeira”, uma canção que se compôs para a celebração dos 10 anos, em 1979.

À tarde, tivemos o Aguapalooza, um concerto que começou com Chile Gospel, agrupamento nacional que cultiva este género de música cristã. Depois, continuou com a Banda Misericordia Joven, das Filhas da Misericórdia, para terminar com a apresentação musical do P. Enrique Da Fonseca, que descobriu a sua vocação em Agua Santa, e de um grupo de seminaristas do Colegio Mayor P. José Kentenich.

Depois do envio, restaram a alegria e a gratidão, mas também a tarefa para os próximos 50 anos. Como disseram no final da missa os chefes do jubileu, Guillermo Novoa e María de los Ángeles Miranda: “Espera-nos um país ferido, dorido pela injustiça, pelo sangue, onde falta a paz de Cristo, que não é tranquilidade, mas sim verdade e justiça, onde todos nos olhamos nos olhos como irmãos e irmãs, apesar de não levarmos todos o mesmo cartaz. Fora destas portas seguras começa a nossa missão de fundadores e por isso celebramos. É uma festa de envio, de apóstolos dispostos a entregar a vida, talvez não como mártires, mas como lutadores da vida diária”.

 

Testemunhos

“Quero agradecer a todas as pessoas que nos acompanharam e que desfrutaram connosco deste dia de céu, no qual pedimos com muita força pela tão ansiada paz no nosso país. Foi uma grande alegria partilhar tantas recordações inesquecíveis à luz da nossa Mater e do nosso santuário Cenáculo de Fundação”.

Cristina Farías, Equipa Jubileu

“Durante todo o ano sempre suspeitámos e pensámos que este dia ia ser maravilhoso e de muita alegria e festa. A verdade é que superou todas as minhas expectativas.

Ter trabalhado no jubileu foi um ato de gratidão profunda à Mater por toda a sua fidelidade comigo, o seu carinho maravilhoso, esta relação de Mãe e filha onde a Mãe nunca, nunca abandona. Isso foi o que eu agradeci. Tudo o que pudéssemos ter feito, a preocupação, girava em torno do agradecimento”.

Paulina Glatzel, equipa do jubileu e chefe do Ramo das Senhoras

 “Para mim, o jubileu dos 50 anos foi a alegria de trabalhar e partilhar com toda a família de Agua Santa, criar grandes vínculos e percebi como nos pode unir tanto um mesmo ideal, esse ideal de família e como o fomos trabalhando durante o ano”.

Gonzalo Pérez, Equipa Jubileo e chefe da Juventude Masculina Universitária

 

 

 

Original: espanhol. 22.11.2019. Tradução: Maria de Lurdes Dias Lisboa, Portugal

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