Posted On 2019-08-17 In Schoenstatteanos, Vida em Aliança

“Tornar-se um com Ele”: Christian José Abud Sittler

CHILE, Juan M. Molina •

Na quinta-feira, 20 de junho de 2019, na festa do Corpo de Deus, e depois de ter lutado durante muito tempo contra uma leucemia, faleceu Christian, seminarista dos Padres de Schoenstatt. Partilhamos convosco esta descrição escrita por um irmão de curso da sua Comunidade. —

Horas depois de receber por correio eletrónico a aceitação da sua consagração perpétua, Christian José Abud Sittler –ou simplesmente James– partiu para o céu. Aí, seguramente, foi recebido pelo seu amigo Jesus Cristo. Aqui, muitos amigos se despediram dele, irmãos de comunidade e a sua família. Com orgulho e gratidão a ele e a Deus pela nossa amizade, gostaria de dar testemunho do quanto nos ofereceu neste breve, mas intenso tempo partilhado.

Semana da Pobreza

James recebeu dos seus pais uma natural pertença a Schoenstatt em Curicó. Em torno ao seu Santuário “Tierra Joven” marcou a juventude em profundidade pela sua liderança, testemunho religioso e entrega. Prova disso dão, no dia de hoje, amigos seus convidados insistentemente para que conhecessem o Santuário. Tanto é assim que gerações seguintes a James, parafraseando a S. Alberto Hurtado, perante cada opção que deviam tomar se perguntavam: “O que faria James no nosso lugar?” A sua mudança para Santiago aproximou-o do santuário e da juventude de Campanario. Aí também mostrou toda a sua liderança no seu papel de chefe de ramo, enquanto avançava em passo firme nos seus estudos de Economia na Universidade Católica.

Dentro do mundo de Schoenstatt e na sua relação com o Padre Kentenich, identificava-se com o contributo que poderíamos dar no âmbito social. De facto, trabalhou apostolicamente em Puente Alto, uma das comunas mais esquecidas de Santiago, onde James tinha posto o seu coração. Uma vez dentro da Comunidade, essa inquietação social aumentou. Prova disso são os ateliers de estudo do pensamento social do Padre Kentenich que organizou na Universidade Católica. Também  orientou no Colegio Mayor a “Semana da Pobreza”, que nos entusiasmou e desafiou a viver um Sião “pobre e para os pobres”. Sonhava com um Santuário e uma filial em Puente Alto. A sua capacidade de entusiasmar e a sua paixão eram tais que poderíamos crer e imaginar essa possibilidade ao nosso alcance. Sentia-se identificado com o Pe. Hernán Alessandri, a quem visitava tanto no cemitério como no oratório da casa Provincial em Bellavista. Para além da comunidade, nessa mesma linha, alimentava-se dos escritos do Pe. Esteban Gumucio dos Sagrados Corações.

Os homens mais sobrenaturais são os mais naturais

Começou o noviciado em 2012, em Tupãrenda, fazia parte do curso Unum in Christo Sacerdote. Desde esse momento, teve uma especial vinculação com Jesus. O seu maior anseio era identificar-se com Cristo de tal maneira a “tornar-se um com Ele”. A sua personalidade, que buscava o baixo perfil e escapava com força de ser o centro, não impediu que marcasse o Curso desde cedo. Foi chefe de curso entre 2016-2018. Seguramente não foi por acaso que, graças a ele, o seu ideal de curso se tenha incorporado “para sempre” desde a aceitação da sua consagração perpetua. Dentro do curso, ofereceu-nos uma amizade profundamente natural, desfrutando de convívio, futebol e de pintura, dando vida à frase “os homens mais sobrenaturais são os mais naturais”. Nesse mesmo espírito, salientou-se pela sua capacidade de fazer amigos para além do curso e inclusive para além da Provincia. A sua partida, por isso, choca muitos de nós. São muitos os que sentem James como seu amigo, e assim quiseram dar testemunho nestes últimos dias. Mas com a sua partida sabemos que James já não nos pertence: o seu exemplo é para todo o Sião, para todo o Schoenstatt e talvez para mais além. James é de Jesus. E para sempre.

Tenho a convicção de que, de uma forma muito real, vivo no coração dos meus amigos

A sua doença não o mudou. Manteve a paixão por viver que sempre o caraterizou e a alegria serena. Por isso levou todo o seu processo com fortaleza e coragem, sempre olhando o futuro com esperança. Tanto foi assim que, muitas vezes, ele é que animava os outros. Também tinha um humor  agudo, inteligente e contagioso. Na sua essência sempre foi ele próprio, é claro que a doença acelerou processos interiores. Isso permitiu-lhe viver todo este tempo muito unido a Deus e com um crescente espírito filial e fraternal.

Recordava e acreditava muito na Aliança Fraterna em Cristo que selámos no curso em julho de 2016, antes da sua doença Tanto é assim que há um ano, durante o Terciado, dizia-nos: “Tenho a convicção de que, de uma forma muito real, vivo no coração dos meus amigos. Se morrer, sei que continuarei a viver neles. A união continua, inclusive depois da morte, de uma maneira quase mística. Assim, as vidas unem-se e partilhamos um mesmo destino”. Desde a sua doença também tratou de corrigir falsas imagens de Deus e teologias erróneas por trás de frases bem intencionadas que uniam a sua doença a um desígnio de Deus: “Apesar de, sim, ser pecador, não creio que Deus estivesse tão centrado no meu pecado, ou no de algum antepassado. Não acredito nessa ideia de que as nossas doenças são causadas pelos nossos pecados, simplesmente não é essa a experiência que tenho de Deus… Para mim Deus acompanha a vida do homem. Às vezes pode interceder de maneiras claras e diretas, mas em geral, atua no coração das pessoas. Penso que é fiel e nunca nos deixa sós, e mais ainda, sofre com a nossa dor. Sim, Deus sofre e como dizem as escrituras, as suas entranhas estremecem, como uma mãe. Deus é coração, é amor e bondade, não quer a nossa dor”.

Cálice

Há alguns meses recebeu da parte da sua nascente Geração, um cálice. Desta maneira, se expressava a sua atitude de entrega e oferecimento tão sacerdotal com a qual viveu a sua doença. Oferecia pelo seu curso, pela comunidade e pela situação da Igreja que tanto o preocupava. “Sobe o cálice Maria, sobe o vinho da minha vida”, escreveu em forma de canção estando no Noviciado. Esse mesmo cálice estava talhado na sua cruz e foi desenhado na coroa da Mater do curso. Essa era a sua maneira de entender o sacerdócio. De facto, nos últimos dias, quando se levantou a possibilidade de se fazer uma rápida ordenação que cumprisse o grande anseio da sua vida, disse que gostaria muito, mas não tinha muito sentido porque não ia poder servir ninguém e para ele, o sacerdócio era um serviço e não um ‘título’. Com esta absoluta coerência e fidelidade que teve até ao final, parece indicar-nos o caminho para viver o sacerdócio no seu sentido más profundo no meio de tanto e de tantos que lastimosamente desvalorizam o seu valor mais pleno. Nesse sentido, no Noviciado impulsionava-nos a viver um novo sacerdócio “mais próximo, comprometido e singelo para todos, como o de Jesus”.

Nós, os seus amigos, e especialmente o seu curso, damos muitas graças a Deus pelo incomensurável presente da amizade e vida de James, que tanto bem nos fez e que tanto nos ensinou. Seguir as suas pegadas seja a nossa maior gratidão. Caminhamos juntos, unidos em Cristo Sacerdote, a quem James seguramente já contempla, com a esperança e o anelo de nos voltarmos a encontrar no Sião eterno.

 

 

Curso

Fonte: Revista “Vínculo”, Chile

Original: espanhol. 29.07.2019. Tradução: Maria de Lurdes Dias, Lisboa, Portugal

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