Posted On 2015-06-26 In Vida em Aliança

Notícias dos Padres de Schoenstatt na Nigéria

NIGÉRIA, por Pe. Juan Pablo Catoggio, superior dos Padres de Schoenstatt na Nigéria •

Por estes dias assumiu funções o novo governo da Nigéria. Há 16 anos que o país vive democraticamente. Esteve no governo um partido – PDP, partido popular democrático –, que desta vez perdeu as eleições. Agora ganhou uma coligação – o APC, All Progressives Parties. Tudo aconteceu num limpo processo democrático, as eleições e a transição. O presidente anterior, Jonathan Goodluck, é cristão (não católico), o novo, Muhammadu Buhari, é muçulmano. Os grandes dramas da Nigéria são a corrupção descontrolada a todos os níveis e as suas consequências na moral e na economia, e a insegurança e a violência, especialmente – mas não só – pelo grupo fundamentalista e terrorista Boko Haram, que faz atrocidades no norte do país: mata por tudo e por nada, arrasa com aldeias, sequestra meninas e mulheres, obrigando os sobreviventes a procurar refúgio noutros lados. O governo anterior foi absolutamente incapaz de fazer algo e por isso as expectativas atuais são grandes. Buhari é militar reformado, tem 73 anos e foi nos anos 80 a 90 presidente de facto, de mão muito dura. Alguns temem alguma islamização e que governe ditatorialmente. Mas tem fama de ser moralmente muito íntegro. Duas frases dele: “Se a Nigéria não matar a corrupção, a corrupção matará a Nigéria” (pode-se aplicar a muitas situações, certo?). E ao assumir disse: “pertenço a todos, e não pertenço a ninguém” (para dizer que não o manipulará nenhum grupo em particular). A palavra mágica da sua campanha: Change! Mudança!

Mas há que dizer que Boko Haram perdeu muita força e está em retirada, foram duramente combatidos estes últimos meses por forças conjuntas de vários países vizinhos (Nigéria, Niger, Chad e Camerún) e sofreram muitas baixas.

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Celebra-se a vida

Participei nestes meses em três funerais, dois deles de pais de dois padres da comunidade. É algo impressionante. O funeral celebra-se duas semanas depois da pessoa ter falecido, em geral mais tarde ainda. Pois nenhum familiar próximo pode faltar, e além disso há que fazer muitos preparativos. É um evento familiar e de toda a “village”. Certamente mais importante que um casamento ou qualquer outra celebração familiar. Celebra-se a vida: o falecido é recordado e honrado, publica-se um folheto, com uma breve biografia, testemunhos, palavras de homenagem de muitas pessoas, etc. Festeja-se durante vários dias, antes e depois do funeral, onde se recebe e há que alimentar a todos os que vêm. Fazem-se posters com a fotografia da pessoa, distribuem-se recordações, a família veste-se a rigor, todos com o mesmo tecido, homens e mulheres. Quando o defunto é trazido da morgue e no próprio enterro, a família chora e expressa a sua dor, Nos outros momentos, antes e depois, o clima é muito mais de festa e celebração.

Certamente isto tem que ver com a veneração dos antepassados e por isso também o profundo respeito aos mais velhos e anciãos, característico desta cultura. Os mais velhos e os antepassados são a história, a memória, as raízes. De algum modo continuam vivos em nós. Os cristãos enterram os seus na sua “village”, na própria casa, no jardim, não importa que tenham vivido sempre noutra cidade ou no estrangeiro nem onde tenham morrido: no final voltam à sua terra, às suas origens. Por isso a própria terra, o terreno, é sagrado – não há família sem uma parcela de terreno. E outra curiosidade: o túmulo com o tempo desaparece, ou seja, não há nenhum sinal exterior – nem lápide nem cruz -, simplesmente a terra, e com o tempo crescem plantas por cima e nada indica que haja uma campa.

Encontro de seleção

2014-10-31-13-01-nigeriaVou contar-vos algo sobre a comunidade que lhes chamará a atenção e que talvez não entendam. Na semana da Páscoa tivemos, como todos os anos, a “Selection meeting”. De que se trata? Em cada ano recebemos umas 300 a 350 cartas de pedidos de rapazes que se interessam por ingressar na comunidade. O mesmo, mais ou menos, ocorre com quase todas as comunidades religiosas e dioceses. De entre estes muitos interessados, muitos são rejeitados de entrada, seja pela idade (muito novos ou mais velhos), seja por resultados escolares, – nós exigimos algo mais do que se pede para ingressar na universidade -, ou por outros motivos.

Convidamos cerca de 30, não mais, para este “encontro de seleção”: ficam cinco dias durante os quais conhecem algo de Schoenstatt e da comunidade, e nós a eles, através de várias dinâmicas e atividades, e em várias entrevistas pessoais com os padres. Depois, rezamos muito ao Espírito Santo, e segundo a impressão dos estudantes mais velhos que nos acompanham toda essa semana e o intercâmbio entre os padres, decidimos a quem aceitamos esse ano. No máximo são 10, muitas vezes não chegamos a esse número. No ano passado estive como “observador”, mas este ano participei ativamente, e foi realmente uma experiência forte.

Muitos de vós perguntarão: porque é que tantos rapazes se interessam pelo sacerdócio? ¿Será para sair de uma muito baixa condição social e de ter melhores possibilidades na vida? É normal pensar isto. Mas posso assegurar-vos que talvez alguns o queiram, mas não muitos, de certeza que não é a maioria. Porquê então? Na verdade, é um mistério e só Deus sabe. Mas sem dúvida a explicação pode ser dada pela profunda religiosidade das pessoas, das famílias. Quase todos estes rapazes foram à missa todos os dias desde crianças! E rezavam, todos os dias, o terço em família, à noite, e comentavam o evangelho. Além disso o sacerdote é socialmente reconhecido e muito bem visto, e certamente é atrativo para muitos. Mas consta-me que os seminaristas que temos poderiam ter uma boa posição social e uma boa carreira se não estivessem aqui – como, de facto, acontece com os seus irmãos. Outra pergunta que podem fazer: e como sabem a quem selecionar ou não? A verdade é que em muitos casos, apesar de ser um conhecimento muito breve, resulta claro e fácil tomar a decisão, seja sim ou não. Noutros casos é um salto no vazio e confiamos no Espírito Santo. De qualquer modo, logo que ingressam iniciam um longo caminho de discernimento. Estudam quatro anos de filosofia – nos quais vão conhecendo Schoenstatt mais a fundo – antes do noviciado de dois anos, para depois continuar com mais quatro anos de teologia e mais um de prática e formação interna.

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Mês de Maria

Por último, uma vivência do Movimento. Na Nigéria celebra-se o mês de Maria em maio, e em geral celebra-se com muita devoção em todos os lados. Nós temos um programa especial no Santuário, todas as terças e quintas-feiras à tarde, e termina com uma grande cantata em honra da Virgem. Esta foi na quinta-feira, 28 de maio, no átrio frente ao Santuário. Depois de um tempo de adoração e de um terço em comum, começou a cantata. Convidámos cerca de 8 coros da cidade (do seminário, da universidade, de paróquias), realmente muito bons. Estiveram presentes cerca de 400 pessoas numa bonita tarde. Canto, música e dança é a linguagem dos africanos! Assim expressam a sua fé.

Amigos, creio que é suficiente para compartilhar algumas das minhas vivências por aqui. Agradeço-vos as vossas orações, sei que muitos me acompanham com a sua oração. Saibam que o sinto muito visivelmente. Também eu me lembro muito de vocês e levo-vos ao Santuário

Recebam o meu afeto e bênção do Santuário de la Victoria,

Pe. Juan Pablo

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Todas as fotos: 18.10.2014 no Santuário de Ibadan, Nigéria

Original: Espanhol – Tradução: Maria de Lurdes Dias, Lisboa, Portugal

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