Posted On 2013-05-26 In Vida em Aliança

A Igreja não pode fechar-se em si mesma

ROMA, VIS/mda. No âmbito do Ano da Fé, estiveram presentes, em Roma, nos dias 18 e 19 de maio, os movimentos das novas comunidades, associações e congregações leigas que meditam sobre o tema “Creio.  Aumenta a minha fé”.  Mais de 120.000 pessoas lotaram, no dia 18, a Praça São Pedro, à qual o Papa chegou às 17h30 e onde, depois de saudar os peregrinos, deu início à vigília de Pentecostes.

Depois da saudação do Arcebispo Rino Fisichella, Presidente do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização, houve a entronização da Imagem de Maria “Salus Populi Romani”, levada em procissão ao centro da Praça.  Depois de várias leituras, cantos e testemunhos, o Papa Francisco respondeu à quatro perguntas feitas por representantes dos movimentos.  A seguir, publicamos resumidamente as respostas do Santo Padre.

“Como o senhor alcançou em sua vida a certeza da fé e qual caminho o senhor nos indica para vencer a fragilidade da fé?” – foi a primeira pergunta.

R.: “Tive a graça de crescer em uma família na qual a fé era vivida de forma simples e concreta… O primeiro anúncio em casa, com a família.  E isso me faz pensar no amor de tantas mães e avós na transmissão da fé… Não encontramos a fé no sentido abstrato – não.  É sempre uma pessoa que prega, que nos diz quem é Jesus, que nos transmite a fé e nos dá o primeiro anúncio… Porém, há um dia muito importante: 21 de setembro de 1953.  Eu tinha quase 17 anos.  Era o Dia do Estudante… Antes de ir para a festa, passei pela paróquia e encontrei um sacerdote que não conhecia e senti a necessidade de me confessar.  Depois da confissão, senti que algo havia mudado.  Eu não era mais o mesmo… Havia ouvido uma voz, um chamado; estava convencido de que tinha que ser sacerdote.  Essa experiência da fé é importante.  Dizemos que precisamos buscar Deus, pedir perdão a Ele; porém, quando vamos até Ele, Ele já está nos esperando.  Ele chega antes… e isso me deixa estupefato… e assim a fé vai crescendo.  Por meio do encontro com uma pessoa, com o Senhor… Respeito pela fragilidade;  o inimigo mais forte é o medo… Não tenham medo… Somos frágeis e reconhecemos nossa fragilidade… Porém, Ele é mais forte… Se você vai com Ele, não há mais problemas.  Uma criança é muito frágil; mas se está com seu pai e sua mãe, se sente segura… Com o Senhor, estamos seguros… A fé cresce com o Senhor, vem de sua mão”.

A segunda pergunta foi a respeito do desafio da evangelização e o que os movimentos deviam fazer para colocar em prática a tarefa para a qual foram chamados.

R. “Direi apenas três palavras… A primeira é Jesus… Se seguimos em frente com a organização e outras coisas, inclusive bonitas, mas sem Jesus, nada funciona… Jesus é o mais importante… A segunda palavra é oração.  Olhar para o rosto de Deus sim, mas, principalmente, sentir-se olhado por Ele… A terceira palavra é testemunho… A comunicação da fé somente pode acontecer pelo testemunho e o maior testemunho é o amor.  Não com nossas ideais, mas com o Evangelho vivido na própria existência… Não falar tanto, mas falar por meio da vida… pela coerência de vida… que significa viver o cristianismo como um encontro com Jesus, encontro que me leva ao próximo – e não como um ato meramente social… Socialmente, somos assim… somos cristãos, encerrados em nós mesmos…. Não!  Assim, não!  O mais importante é o testemunho”.

A terceira pergunta foi como viver uma Igreja pobre e para os pobres.

R. “Antes de mais nada, viver o Evangelho é a primeira contribuição que podemos dar.  A Igreja não é um movimento politico, nem uma estrutura bem organizada; não, não é isso… A Igreja é o sal da terra, é a luz do mundo;  é chamada a fazer presente, na sociedade, a semente do Reino de Deus e o faz, em primeiro lugar, com seu testemunho, testemunho de amor fraterno, de solidariedade… Quando se ouve dizer que a solidariedade não é um valor, mas uma ‘atitude primária’ que deve desaparecer… algo não está funcionando… Os momentos de crises, como o atual, não consistem apenas em crise econômica ou cultural.  Trata-se de uma crise do ser humano… O que pode ser destruído é o ser humano… Porém, o homem é imagem de Deus… Nesses momentos de crises, não podemos nos preocupar apenas conosco mesmos, fechados na solidão, no desalento… Por favor, não se fechem em si mesmos, no movimento, com as pessoas que pensam como nós… Sabem o que pode acontecer?  A Igreja fechar-se em si, doentia… A Igreja deve sair de si mesma… Até onde?  Até as periferias existenciais, quaisquer que sejam, porém, sair… A fé é um encontro com Jesus e nós temos que fazer o mesmo que Jesus fez: encontrar o próximo… Temos que sair ao seu encontro e criar com nossa fé uma ‘cultura do encontro’… pela qual possamos falar também com as pessoas que não pensam como nós… Inclusive com os que têm outra fé… Todos têm algo em comum conosco: são imagens e filhos de Deus… Sair ao encontro sem negociar ao que aderirmos.  E há ainda outro ponto importante: com os pobres… Se sairmos de nós mesmos, encontramos a pobreza… Hoje, confirmar que tantas crianças não têm o que comer não é mais notícia – e isso é grave… Não podemos ficar tranquilos… Não podemos ser cristãos engomados, cristãos tão educados, que discutem teologia enquanto tomam chá, tranquilamente… Não!  Precisamos ser cristãos valentes e ir ao encontro das pessoas que são a carne de Cristo… A pobreza, para nós, cristãos, não é uma categoria sociológica ou filosófica ou cultural; é uma categoria teologal.  Poderia dizer que é a primeira categoria porque esse Deus, o Filho de Deus, se rebaixou, se fez pobre para percorrer conosco o caminho.  Esta é nossa pobreza: a pobreza da carne de Cristo, a pobreza que nos trouxe o Filho de Deus, pela sua encarnação”.

A última pergunta foi: “Como ajudar nossos irmãos, quando podemos fazer muito pouco para mudar o contexto político-social?”.

R. “Para anunciar o Evangelho, são necessárias duas virtudes: o valor e a paciência.  Os cristãos que sofrem estão na Igreja da paciência.  Sofrem; hoje, existem mais mártires que nos primeiros séculos da Igreja… É preciso dizer que muitas vezes os conflitos não têm uma origem religiosa; frequentemente existem outras causas, de ordem social ou política e, infelizmente, a adesão religiosa é utilizada como gasolina em cima do fogo.  Um cristão deve saber responder o mal com o bem, ainda que tantas vezes isso seja difícil.  Pretendemos conseguir que esses nossos irmãos e irmãs sintam que estamos profundamente unidos a eles… que sabemos que são cristãos “firmes na paciência”.  Quando Jesus vai ao encontro da Paixão, mostra paciência… Eles experimentam o limite… entre a vida e a morte.  E nós também; essa experiência precisa nos levar a promover a liberdade religiosa para todos.  Todo homem e toda mulher deve ser livre em sua própria fé religiosa, qualquer que seja.  Por quê?  Porque esse homem e essa mulher são filhos de Deus”.

A vigília foi concluída com a profissão de fé, as invocações da oração e do canto Regina Coeli.

Presença da família de Schoenstatt em Roma

Na Praça São Pedro, esteve presente o Movimento de Schoenstatt de Roma – assim conta Eugenio Micini.  Além dos representantes oficiais de Schoenstatt, membros da Equipe 2014 e vários sacerdotes – cerca de 100 membros da Família de Schoenstatt de Roma, que fizeram tremular uma grande bandeira na qual se lia a palavra Schoenstatt, como símbolo de seu serviço à vida da Igreja.

Tradução para o Português: Maria Rita Fanelli Vianna – São Paulo / Brasil

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Homilia do Domingo de Pentecostes

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