Posted On 2019-12-08 In Madrugadores

Trinta anos a madrugar – um novo modo de ser Igreja

CHILE, Luis Alberto Bravo •

Que experiência extraordinária! Meio milhar de homens ajoelhados aos pés do Santíssimo Sacramento, em silêncio, sem telemóveis, sem barulho, sem queixas, sem protestos, sem risos nervosos. Se eu tivesse um ouvido melhor, só teria ouvido 580 corações baterem com emoção acelerada com este encontro pessoal com a nossa Mãe e o Seu Filho. O Espírito Santo soprou sobre os Madrugadores, enchendo-os de nova vida, entusiasmo e sentido de grupo. Não se trata de um evento local, mas de um abraço americano. Participaram 80 comunidades de todo o Chile, de Arica a Coyhaique e de seis países: Argentina, Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Porto Rico e México, somando mais de 580 participantes, sob o lema “Façam a Sua luz brilhar diante dos Homens”. Bandeiras, banners, uniformes (alguns coloridos, outros mais formais) deram a pitoresca nota do conjunto, em que se comemora e celebra o 30º aniversário da fundação de Os Madrugadores.

De carro, camioneta, metro-comboio, de todo o Chile e de outros países.

Alguns chegaram de carro, outros de camioneta ou metro-combóio. Bem preparados com planos e indicações,  estavam presentes à hora do almoço de sexta-feira, sendo recebidos em torno da mesa como convém a esta grande família de irmãos que somos.

Daqui gostaríamos de prestar especial homenagem aos irmãos Madrugadores vindos do estrangeiro que, apesar de, segundo a sua própria confissão, muitos lhes terem pedido que não viajassem, decidiram fazê-lo com a confiança de que Deus assim o queria. A contribuição de todos eles sempre transborda de entusiasmo e alegria contagiante. Vida pura! Como dizem os costa-riquenhos.

Ser agentes de mudança para a sociedade

As actividades oficiais começaram com uma Missa de manhã cedo no sábado, presidida por Monsenhor Fernando Ramos, Administrador Apostólico e Bispo de Rancagua, que, na sua mensagem, sublinhou o grande sinal de esperança para a Igreja que esta corrente de vida representa, que apesar dos momentos difíceis que o Chile, a Sua Igreja e outras organizações atravessam, a convicção dos Madrugadores, fidelidade e decisão de serviço nas mãos de Maria nos reúne repetidamente em tantos lugares santos para sair para o mundo e ser testemunhas do amor de Deus e ser agentes de mudança para a sociedade.

 

Painel

Uma igreja fiel, profunda, determinada, diversificada, mas unida, coração da sociedade

Após o pequeno-almoço reparador, Octavio Galarce falou-nos da sua visão dos Madrugadores com base na sua história. A mudança experimentada em cada dez anos é evidente. Como, do simples acto de se reunirem no Santuário para rezarem de manhã para não incomodar ninguém, tornou-se o que é hoje, com mais de 140 comunidades no Chile e outras 150 comunidades que estão presentes na América e na Europa. Como, do Santuário de Schoenstatt de Rancagua, foram conquistadas Paróquias, Ermidas e outros lugares de graça, tornando-se património da nossa Igreja.

O que nos esperará nos próximos 10 anos? Pessoalmente, acredito que este modo de viver a fé será a luz ao fundo do túnel. Ela representa o novo modo de ser uma Igreja fiel, profunda, determinada, diversificada, mas unida, o coração da sociedade. Será a forma como o Senhor poderá chegar a todo o tipo de famílias e realidades. Como Octavio indicou, é para isso que servem os 15 dias entre cada Madrugada para conquistar o mundo.

 

Painel

Painéis com Testemunhos

Houve também dois painéis baseados em testemunhos de experiências dos Madrugadores. O primeiro deles foi sobre o que a Madrugada me deu, composto por: Erwin Sánchez, da Paróquia de San Juan Bautista em Temuco; Pe. Tomás Carrasco, Pároco da Paróquia da Sagrada Família de Los Angeles; Guillermo Plaza, de La Serena-Coquimbo; e Carlos Alfaro, coordenador das comunidades da Costa Rica.

O segundo painel de testemunhos foi sobre os desafios colocados pela Madrugada em relação aos próximos anos, composto por: Roberto Horat, fundador desta corrente de vida na Argentina; José Ramón Ortiz, fundador desta corrente de vida em Porto Rico; Orlando Valle, coordenador diocesano das comunidades da Diocese de Valparaíso; Ramiro Bravo, co-fundador dos Madrugadores Rancagua, a primeira comunidade.

Depois de cada painel com brilhantes exposições, realizou-se um encontro pessoal de reflexão em grupo (no total foram 72 grupos de 8 Madrugadores cada um), para o qual foram levados os ensinamentos aprendidos e as impressões da realidade de cada um, com intercâmbios criativos de experiências, interesses e preocupações. Foi muito interessante e formativo conhecer pessoas de origens e experiências tão diferentes; partilhar os seus sentimentos sobre as questões que foram levantadas – muitas vezes muito mais profundas do que se poderia esperar – e ver como, com todo o respeito possível, cada opinião ou sugestão foi acolhida.

 

O divino e o humano

Ao mesmo tempo, desde o início da Missa de sábado até à oração da manhã de Domingo, foi mantida aberta uma capela para Adoração do Santíssimo Sacramento. Durante 24 horas ininterruptas, cada comunidade esteve diante do Senhor, pelo menos durante uma hora, colocando o coração nas Suas mãos, com devoção e recolhimento. Com silêncio, Terços, cânticos, leituras, e até mesmo lágrimas, Deus quis estar pessoalmente perto de cada um de nós. Um grande tempo de graça que, sem dúvida, mudou a vida daqueles que viveram esta experiência.

Durante essa noite, desfile de estrelas. Saxofones, trutrucas (instrumento musical mapuche NT), guitarras, coros, tambores subiram ao palco. Alguns com canções nostálgicas, outros de louvor e outros, para animar o espírito. Diferentes sotaques e carismas se manifestaram para o beneplácito daqueles de nós que tanto desfrutaram de graças e dons artísticos.

Juntamente com o nascer do sol, a oração da manhã. Com a Adoração de toda a comunidade e as palavras sentidas do Pe. Tomás Carrasco, conseguiu-se um clima de recolhimento total. Pouco a pouco abrimos as nossas almas para louvar o Senhor, reconhecendo-O nos acontecimentos da nossa vida e da nossa história.

 

Peregrinação ao local de fundação e envio

Chegou a hora de ir em peregrinação ao Santuário de Rancagua, onde tudo começou. Partimos em 12 camionetas de Picarquin para reconhecer o lugar da fundação. A cerimónia foi presidida pelo Pe. Carlos Cox, que soube tecer o que sentimos neste Encontro com o que vivemos nestes últimos 30 anos à sombra do Santuário, juntamente com a nossa Mãe. Foi muito emocionante e avassalador. Novamente as bandeiras voaram e os cânticos encheram a atmosfera. Um grande abraço de paz entre nós selou esta reunião. A comunidade de Rancagua recebeu-nos com um pequeno-almoço fraterno para recuperarmos forças e podermos aquilatar este grande momento.

De volta a Picarquín, a Missa final de envio do Pe. Juan Pablo Rovegno foi muito comovente. No início ele homenageou as nossas mulheres, representadas por Patricia Collado, esposa de Octavio, a quem fez entrega de uma imagem da Virgem da Candelária, pelos seus incondicionais, companhia e apoio. Uma delicadeza da sua parte para quem torna possível a nossa corrente de vida e nos apoia quando as nossas próprias forças vacilam.

 

A música

Transversalmente a todas as actividades do Encontro, a música. Os cânticos do coral da comunidade de Puerto Montt não só valorizaram cada momento, mas também uma demonstração de talento e dedicação que nos deixou admirados. A qualidade musical deste grupo foi excelente. Se realmente quem reza cantando, reza duas vezes, desta vez foram três.

A pôr em destaque a colossal organização do encontro. Tudo muito bem planeado e preparado, desde as comunicações prévias até aos mínimos pormenores. Local muito bem escolhido. Os tempos fluíam à medida que o espírito soprava, sem exigências exageradas de prazos de cumprimento, mas sem languidez. Café disponível em todos os lugares e em todos os momentos, às vezes até com biscoitos, cortesia da casa. A comida também vale a pena mencionar. Boa, variada e abundante, bem servida.

O Chile despertou

Dizem que o mundo mudou, que o Chile acordou. De facto, vivemo-los durante estes três dias, em que as diferenças de país, origem, profissão ou inclinação política não importavam, mas sim o que é mais transcendente. Se houver um despertar, espero que seja este, no qual, como diz a canção, “…… Aqueles de nós que fomos estranhos, em Maria somos irmãos”.

Em que, o mais importante é a pessoa e a sua realidade e não apenas a sua própria; em que, em vez de endurecer o coração e destruir, todos nós nos arriscamos a suavizá-lo e a construir um país mais fraterno, mais colaborador, uma comunidade que seja, efectivamente, uma cópia feliz do Éden, uma comunidade de Maria. Por isso Adsum, “Aqui estou, Senhor”.

 

Página: www.madrugadores.cl (em espanhol)

 

 

 

Original: espanhol (17/11/2019). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

 

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