CMT

Posted On 2022-06-12 In Casa Mãe de Tuparendá, pastoral prisional

De visita ao Miguel

PARAGUAI, CMT – Pe. Pedro Kühlcke •

Uma criança da rua, com anos de miséria, solidão, droga, roubo… Agora, graças à Casa Mãe de Tupãrenda (CMT), está a realizar o belo sonho que Deus tinha para ele: um emprego estável, uma casa própria, uma bela família: uma vida digna, que ele nunca teria pensado que teria. —

Orgulhosamente detentor dos seus certificados CMT

PPK: Bem, aqui estou eu com o Miguel, visitando-o na sua bela casa, com a sua bela família e recordando os velhos tempos. Diz-me um pouco, como era a tua vida antes, Miguelito?

Miguel: Para lhe dizer a verdade, pa’i Pedro, foi… Sejamos directos: A minha vida foi uma miséria, porque vivia no vício. Durante muito tempo, andei atrás de drogas. Fui “chespirito” (um fumador de crack, uma das piores drogas) durante muito tempo; roubei apenas por isso. Fui duas vezes para a prisão para adultos. Também estive num Reformatório… 

A solidão

PPK: O que é que te levou à droga? 

Miguel: A minha solidão! 

PPK: Solidão? 

Miguel: Sim, eu estava sozinho, ninguém queria estar comigo. Eu não tinha família. 

PPK: Onde vivias? 

Miguel: Na rua. 

PPK: Só na rua… Por quanto tempo? 

Miguel: Muitos anos! Cinco, seis anos ou mais. Desde os meus 12 anos até aos 18 mais ou menos. 

PPK: Sempre sozinho? 

Miguel: Sim, eu estava sempre sozinho. 

PPK: E as drogas eram…? 

Miguel: As drogas eram o meu único amigo, supostamente. 

PPK: Supostamente. 

Miguel: Mas isso matava-me ao mesmo tempo. 

PPK: Matava-te cada vez mais. 

Miguel: Sim! 

Como se deu a mudança?

PPK: E como decidiste mudar? 

Miguel: E eu disse: “Basta, basta, basta de andar por aí assim!” Já que me deram uma oportunidade na Casa Mãe de Tupãrenda, recompus-me e disse: “Vou em frente, vou em frente, posso! Entrei no Soft Skills, foi um desafio e tanto”.

PPK: Foi difícil com a professora Lourdes? Ela é muito exigente. 

Miguel: Foi muito difícil, sim, mas eu sempre a apreciei muito. E depois fui para Horticultura com o Victor, o que foi o melhor! Ele falou muito comigo, ensinou-me também muitas coisas. Estou muito grato a todos os professores da Casa Mãe de Tupãrenda. Porque, graças a eles e ao meu esforço, consegui avançar. Agora tenho a minha família, tenho a minha própria casa, tenho um emprego estável e ainda estou a progredir. 

As drogas vão matar-te

PPK: E como é agora a questão da droga? 

Miguel: A questão da droga, nem sequer se põe, nem sequer a quero cheirar. 

PPK: Há quanto tempo estás limpo? 

Miguel: Três, há cerca de três anos. 

PPK: Isso é bom, como conseguiste isso? 

Miguel: E a verdade é que foi a minha própria decisão. Muitas pessoas dizem que não podem, mas sim pode-se! A vida não tem só a ver com drogas, mas também tem de se pensar por si próprio: não vais ficar drogado durante muito tempo, porque as drogas vão matar-te.

Formar uma família 

PPK: E foste capaz de constituir família? 

Miguel: Consegui constituir uma família. 

PPK: Já não sofres de solidão… 

Miguel: Não, não, não! Tenho a minha família; tenho de vencer pelo meu filho agora, e não quero que ele tenha de passar por aquilo por que passei. 

PPK: O que foi que passaste? 

Miguel: Eu encontrava-me numa situação de rua, estava em situações muito difíceis. Tive muito frio, fome, chuva. Eu não tinha nada com que me cobrir. Discriminação, rejeição… Eu passei por um pouco de tudo na rua.

O melhor pai do mundo

Juan Miguel CMTPPK: Lembras-te que falámos muitas vezes de que um dia serias o melhor pai do mundo, e que o teu filho nunca sofreria o que sofreste?

Miguel: Sim, eu lembro-me.

PPK: E agora estás a cumprir isso?

Miguel: Estou a cumprir isso agora!

PPK: A cuidar bem do teu filho?

Miguel: Eu tomo bem conta do meu filho!

PPK: Dá-lhe todos os abraços que nunca recebeste?

Miguel: Sim, não lhe falta nada.

PPK: Sê um exemplo para ele?

Miguel: Ser um exemplo! 

Eu sou padeiro

PPK: E como é o teu trabalho?

Miguel: Portanto, é um pouco complicado, mas continuamos.

PPK: É muita luta? 

Miguel: É muita luta! Não é fácil ser um padeiro. 

PPK: E a ganhar dinheiro limpo… 

Miguel: E a ganhar dinheiro limpo! 

PPK: …. é difícil. É pouco dinheiro, mas é dinheiro do suor do teu rosto, não é? 

Miguel: Exactamente! 

PPK: É muito diferente de antes, quando era tudo dinheiro sujo, dos crimes? 

Miguel: Muito diferente, exactamente! Porque todo o dinheiro sujo… Antes, tudo ia para a droga, tudo era para a droga, nada mais. Por muito que roubasse, desaparecia tudo em pouco tempo. 

PPK: Foi inútil. 

Miguel: Foi inútil. 

PPK: E agora, com o suor do teu rosto, tens o teu pequeno pedaço de terra e a tua pequena casa. 

Miguel: Exactamente! 

PPK: E é verdadeiramente teu? 

Miguel: Meu e de toda a minha família! 

PPK: Exactamente! E estás a dar ao teu filho o tecto que não tinhas. 

Miguel: Sim! 

PPK: E o calor da família e o afecto… 

Miguel: …que eu nunca tive. 

De verdade a decisão é deles 

PPK: E o que dirias aos rapazes que estão a pensar em ir para a Casa Mãe de Tupãrenda, para ver se vale a pena deixar as drogas por isso?

Miguel: E… a verdade é que eles têm de tomar uma decisão. Têm de pôr as drogas de lado e pensar fora da caixa. Não olhar apenas para o que está à frente deles. Têm de olhar para além do que está à sua frente, porque algumas pessoas dizem: “Não posso deixar as drogas, não posso deixar!” Isso é mentira! Claro que podem, como eu pude e como alguns dos meus colegas também o puderam fazer. Todos seremos capazes de o fazer; basta que tomem a sua própria decisão, e que sejam honestos em tudo o que fizerem. Porque haverá muitas ocasiões de tentação e queda, mas não é preciso voltar atrás. Eu não! Tenho uma promessa a cumprir, tenho de seguir em frente!

PPK: E estás a ir em frente super bem. 

Miguel: Sim, com toda a minha família! 

Ter Deus no coração

PPK: E ter Deus no coração, ajuda? 

Miguel: Ajuda! 

PPK: Será que esses demónios desapareceram? 

Miguel: Não, não, não! 

PPK: Que prazer! Estás orgulhoso de ti próprio? 

Miguel: Sim, claro que estou! 

PPK: É bom viver assim? 

Miguel: É bom demais viver assim! 

PPK: Mesmo que seja um esforço todos os dias e uma luta… E por vezes, se alguma vez, o dinheiro não é suficiente… 

Miguel: Às vezes não é suficiente, não é, mas vamos continuar na mesma! Como diz o ditado: “Deus aperta, mas não enforca”. 

PPK: Exactamente! Bem, muito obrigado, Miguelito! Que Deus te abençoe e que continues a lutar desta maneira! E a tua vida está cada vez mais bela, não está? 

Miguel: Sim! 

PPK: E o teu filho, está feliz com a família que lhe foi dada? 

Miguel: Exactamente!

Original: espanhol (10/6/2022). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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