PARAGUAI, Cristina Velázquez
Faz três anos que a equipe da Liga da Mulheres Profissionais de Schoenstatt vive o “Igreja em saída”, visitando as reclusas do presídio de mulheres do “Buen Pastor” em Assunção. O “culpado” desta saída audaciosa é o Papa Francisco. —
Até a periferia – a dez minutos do santuário.
Devido às medidas restritivas próprias de um centro de detenção, tivemos que nos adaptar inicialmente ao horário de visitas estabelecido e esperar pacientes na capela do local onde iriam chegar as mulheres interessadas em ter um encontro conosco, com a Mãe e com Seu Filho. Poucas que foram, logicamente muitas delas não nos conheciam e não estavam animadas para buscar a Deus na precariedade de sua situação. Em pouco tempo, demos um passo a mais, fomos o primeiro grupo que se permitiu chegar até os pavilhões, as celas e assim encarnar a missão de ir buscá-las. Até lá levamos a Imagem da Mãe Peregrina e assim, as vezes encontramos a relutância, em mulheres que, deitadas, nos diziam em guarani que se Deus quisesse, Ele as encontraria igual, sentadas, ajoelhadas, ou deitadas… e assim, iniciávamos a oração do terço, improvisávamos uma oração e ao chegar aos pedidos vimos como até o coração mais duro se abria. Pediam pelo mesmo que pede toda a mulher: por seus filhos, por seu esposo, por seus pais. Era duro, sobretudo, escutar os pedidos pelo cônjuge ou pelo filho que também estavam presos ou que haviam saído recentemente da prisão, e elas pediam a Deus que eles não reincidissem. Muitas delas eram conscientes de seus erros e a pena as conduziam a um pensar e arrependimento genuíno.

Buen Pastor
Adoração na prisão
O padre Martín Gómez (agora Diretor do Movimento no Paraguai) muitas vezes as acompanhava e sua presença era muito valorizada por todas. Iniciaram também a Adoração ao Santíssimo dentro da prisão e para elas, estas “apóstolas” de Schoenstatt reuniram fundos e compraram a custódia, de maneira que o Santíssimo tivesse seu espaço neste lugar que tanto o necessitava.
Recordo especialmente “a celebração do batismo no pavilhão “A Esperança”. Ali algumas mulheres selaram sua Aliança de Amor como Missioneira da Campanha do Terço e várias crianças – porque no presídio também estão os filhos pequenos das presas – puderam receber o sacramento do batismo. Isto as encheu de emoção! Decoramos o lugar, levamos um bolo e compartimos com elas a alegria deste sacramento para seus filhos. Uma experiência inesquecível que confio, mudará a vida desses bebês e de suas mães. No presídio, elas conquistaram sete imagens da Mãe Peregrina e uma delas acompanhou a sua missioneira quando saiu em liberdade pouco depois de a receber.
Elas rezam por nós!
Fomos um pouco atrevidas e a companhia do Espírito Santo nos protegeu para que não tivéssemos nenhum problema. Muitas vezes no advertiam que tal lugar era muito perigoso, porém isso não nos deteu. Ao recordar penso que talvez era a Mãe como boa conquistadora a que nos conduzia até o último rincão. Assim chegamos também ao pavilhão onde estão as que tem algum problema de saúde. Privadas de sua liberdade e alem disso doentes, sentiam-se isoladas do mundo e as vezes compartilhavam a tristeza de não receber visitas justificando elas mesmas, explicando-nos que seus familiares também têm suas coisas para fazer, que estão ocupados e que não podem visitá-las.
As mulheres olhavam a imagem da Mãe que as visitava, com um olhar de devoção que somente recordo ter visto nas pessoas que vêem a Virgem passando durante uma procissão, emocionadas, tocadas no seu mais intimo. As despedidas são sempre duras, notava-se nelas a desconfiança de que não voltaríamos, de que também esqueceríamos delas e por isso nos emocionava escutar que nos diziam que iriam rezar por nós, que iam pedir a Deus que nos acompanhasse durante a semana, para que pudéssemos passar-la bem e voltar a visitá-las no próximo sábado… elas rezam por nós!
Temos que seguir, devemos buscar aquele que está sozinho
Durante estes três anos também levaram produtos para a higiene pessoal, roupas, colaboraram na reconstrução do teto que estava caído, porém o mais valorizado era sua presença. Sentiam-se verdadeiros instrumentos e saiam fortalecidas pelo o que entregava, e pelo muito que recebiam. Saíamos muito enriquecidos, valorizando ainda mais o que se tem, valorizando a liberdade e buscando a melhor maneira – nessa liberdade – de abrir o coração, de expandir-lo para chegar ao outro, ao colega de trabalho, ao vizinho, ao familiar, que talvez está tão sozinho como alguma dessas mulheres e está esperando um momento de atenção, um abraço, uma oração.
Admirados pela entrega das “Pro”, celebramos que tenham decidido manter o apostolado.
Fonte: Revista Tuparendã, Paraguai.
Original: Espanhol, 15.06.2018. Tradução: João Pozzobon, Santa Maria, Brasil