Posted On 2020-05-21 In A Aliança de Amor Solidaria em tempos de coronavírus

Não podemos deixar que as pessoas durmam na ponte

PARAGUAI, Maria Fischer em conversa com Juan Vicente Ramírez •

“Já estamos a chegar aos últimos pacotes de comida”, comentou Juan Vicente Ramírez, Vice Presidente da Câmara de Comércio de Ciudad del Este, membro da Comunidade Internacional de Empresários e Executivos de Schoenstatt (CIEES). “Ainda temos 4.500 kits de comida para este mês, e aí acabam”. Acabam não porque ele e os outros tenham perdido o desejo de agir solidariamente, mas porque já cumpriram a sua missão. “Agora chegaram os programas de assistência governamental para os mais necessitados. Quando lhe disse que durante estes quase dois meses, até à chegada da ajuda estatal, salvaram milhares de famílias em Ciudad del Este, ele disse que simplesmente fizeram o que é preciso fazer quando se vê uma necessidade, e que já estão com outra urgência… —

 

Ponte Internacional da Amistad. Fonte: Wikipedia. De Ekem, CC BY-SA 3.0,  https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=2915114

A situação devido à pandemia do COVID-19 e às consequentes medidas de protecção é difícil em todo o mundo, mas especialmente nos países mais pobres, como o Paraguai, e para as famílias que vivem de um trabalho que já não podem fazer.  O Paraguai decretou uma quarentena sanitária e mantém o encerramento das suas fronteiras com o Brasil, a Argentina e a Bolívia para conter a propagação do Coronavírus. No entanto, em Ciudad del Este, localizada na “fronteira tripla” entre Paraguai, Brasil e Argentina, quase todos vivem do fluxo de mercadorias entre as fronteiras e o seu encerramento, explicou Juan V. Ramírez, significará a morte de empresas na zona. Afirmou que não existem alternativas imediatas para salvar a situação, mas que a implementação de uma plataforma virtual de vendas está actualmente a ser analisada.

“Em 30 anos que aqui estou, nunca houve um momento de crise desta dimensão em Ciudad del Este e estamos realmente preocupados, mas estamos a ver as possibilidades que nos restam “, disse, “segundo as indicações que recebemos do governo, a reabertura das fronteiras é quase impossível até Agosto ou Setembro”. Isso seria decretar a morte de Ciudad del Este, não há como resistir, não há fórmula para salvar isto”.

É por isso que a iniciativa de distribuir alimentos àqueles que perderam os seus rendimentos de um dia para o outro era tão urgente. “No condomínio onde vivo distribuímos 2.000 kits nos dois meses e na Câmara de Comércio seriam 15.000 kits no total. Agora, explica, o Governo está a conceder 90 dólares a mais de 1,2 milhões de pessoas e aos empregados um subsídio de desemprego único de 180 dólares, e agora vão ver se conseguem lançar uma segunda ronda de apoios. A experiência que mais impressionou Juan Ramírez é que, uma vez chamados à acção, centenas de empresários, que também lutam pela sobrevivência das suas empresas, uniram forças para sair em auxílio dos que necessitam.

Agora, esta parte da campanha de solidariedade, a distribuição de alimentos, está terminada. Mas o acto de solidariedade ainda não terminou.

 

Procurar Albergues

Após o encerramento das fronteiras, cerca de 3.000 cidadãos repatriados do estrangeiro entraram no Paraguai, na sua maioria do Brasil, e foram obrigados a cumprir a quarentena sanitária nos albergues. A Ponte da Amizade, que liga Ciudad del Este (Paraguai) a Foz de Iguazú (Brasil) através do rio Paraná, está diariamente repleta de pessoas que procuram regressar ao território paraguaio. Estão a escapar à perigosa propagação do vírus no Brasil, onde mais de 14.000 pessoas morreram e 200.000 foram infectadas, na sua maioria no Estado de São Paulo (54.329), onde centenas de paraguaios trabalham e vivem. Dos menos de 800 infectados no Paraguai, 80% provêm do Brasil, especificamente de São Paulo, onde muitos paraguaios ficaram desempregados devido à pandemia e agora procuram regressar a casa, mas não são autorizados a entrar. Juan Ramírez observou que muitas pessoas ficam na Ponte da Amizade, que liga e agora separa o Brasil do Paraguai, e passam a noite lá ao ar livre, à chuva e com baixas temperaturas.

Assim, a grande campanha de solidariedade da Câmara de Comércio continua a dar uma mão, ou especificamente um lugar para ficar, a estas pessoas “da ponte”. Num esforço conjunto, criaram um armazém com colchões, mesas, chuveiros, comida e tudo o mais necessário para que mais de 200 pessoas pudessem lá permanecer durante as duas semanas de quarentena. No dia seguinte, o mesmo cenário foi vivido na ponte, pelo que criaram a Escola Libanesa como um abrigo para 80 mulheres e seus filhos. Como algumas pessoas têm problemas de saúde, como a diabetes, também recolhem medicamentos para elas. “Estamos a fazer tudo o que podemos para que, todos juntos, possamos sair desta pandemia que nos toca viver agora como cidade”, diz. “Quando tiver outros empreendimentos sociais, aviso-vos.”

Original: espanhol (17/5/2020). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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