Posted On 2019-11-17 In Aliança solidária, Schoenstatt em saída

“…chegou a hora do Teu amor”

ESPANHA, Maria Paz Leiva •

O sábado, 9 de Novembro, amanheceu nublado, algo pouco frequente em Madrid, onde desfrutámos de muitos dias de céu azul intenso. Era o dia da Almudena, Padroeira da cidade. Uma pequena imagem de Maria, que, muitos anos antes da queda do Muro de Berlim, apareceu no dia 9 de Novembro, quando uma parte da muralha da cidade desabou. Foi aí escondida pelos devotos madrilenos, para evitar que os mouros (que invadiram e passaram 700 anos na Península Ibérica) a profanassem. Diz-se que a imagem apareceu ladeada por duas velas acesas. —

 

Ainda não tínhamos feito planos para celebrar a festa, quando começaram a chegar notícias do Chile: uma Piéta mutilada, um Sagrado Coração nas mãos de um homem encapuçado, um vídeo com risadas de quem o leva, quando vêem que tiram a Mãe de Deus da igreja e atrás um São José… uma imagem da Mater de Schoenstatt a arder e um rapaz a destruir um passeio para arrancar pedras.

As memórias do que os meus pais me contavam, que quando crianças viveram a Guerra Civil Espanhola, acumularam-se na minha mente. A raiva invadiu-me, uma raiva profunda. Por que o fazem? Que mal lhes fizeram estas imagens? Para eles nada mais são do que madeira ou gesso, estuque e tinta; para outros, uma simples folha de papel emoldurada. Por que atacam os cristãos?

O Evangelho diz-nos, perante uma bofetada, para darmos a outra face. O que é que damos quando sentimos a nossa alma pisada? Pensei no que faria se tivesse o rapaz com o macete e a picareta cara a cara, o destruidor de calçadas. Não me veio nada de bom à cabeça. Pelo contrário, veio-me um monte de coisas más.

…e decidi ir para a rua

Lembrei-me: “então a minha aliança suscita todas as forças:  dizendo a mim própria…” (Rumo ao Céu, estrofe 590) e decidi ir para a rua. Decidi ir à procissão que se realizava no centro da cidade. Estava muito frio e ventoso. A procissão foi muito lenta. O nosso Cardeal saúda e estende a mão a todos aqueles que se aproximam, que são muitos. A procissão não avança.

E eu, a pé firme, estava gelada. Passei um mau bocado, mas deu-me tempo para parar de pensar nos encapuçados e no rapaz com o macete e a picareta. Pensei nos seus pais, talvez inconscientes da barbárie dos seus filhos e preocupados com uma existência de precariedade e sofrimento, e rezei por eles. Rezei por estas famílias.

Pensei na imagem que ia em procissão e naqueles que a esconderam na parede. Agradeci por eles.

Pensei no Muro de Berlim e nos muitos muros que existem. Pensei numa Espanha quebrada que iria às urnas no dia seguinte e rezei por nós. Rezei pelo futuro de Espanha.

Novamente me lembrei: “Chegou a hora do teu amor” (Rumo ao Céu, estrofe 590). É difícil amar quem nos magoa, muito difícil. Mas quando voltei para casa, pensando no que a minha Aliança desperta em mim, imaginei que, se me deparasse com o destruidor de calçadas, iria falar com ele. Tentaria “pôr-me na pele” dos seus pais e explicar-lhe-ia a quantidade de coisas bonitas que poderia esculpir com essa habilidade que demonstrou usando o macete e a picareta. Voltei para casa com uma alma mais serena e com a alegria de ter acompanhado a Santíssima Virgem por Madrid naquela fria manhã.

Original: espanhol (13/11/2019). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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