Posted On 2015-04-29 In Schoenstatt em saída

Uma experiência de encontro

PORTUGAL, Lisboa, Juan Pablo Cruz, seminarista dos Padres de Schoenstatt •

Sou Juan Pablo Cruz, seminarista dos Padres de Schoenstatt. Durante o meu tempo de prática em Lisboa surgiu um projeto na juventude masculina que tinha como motivação tentar ser uma resposta às realidades mais desfavorecidas da cidade. Existem muitos projetos missionários que vão ajudar as ex-colónias portuguesas em África, contudo o grande incentivo deste projeto foi ter conhecimento de que havia gente que sofria, como consequência de viver numa situação de pobreza material e social, na própria capital de Portugal.

O Padre Diogo Barata, assessor da juventude, e eu temos acompanhado este projeto desde o inicio pensando em como ajudar a partir da Aliança e da nossa experiência de Schoenstatt.

Com crianças do Bairro e do Colégio Santa Maria

2015-04-01 14.14.00

Em concreto, o projeto conta com dois universitários e um professor do ramo dos homens que vivem em frente ao Bairro 6 de Maio, uma população muito pobre que se caracteriza por uma forte influência de droga. Aí foram desenvolvidas atividades tais como um teatro, coro de missa, campanha da Mãe Peregrina e ultimamente uma pequena escola de Rugby.

Em março, o professor teve a ideia de aproveitar as suas férias indo a uma quinta no norte do país com crianças do Bairro e outros do Colégio Santa Maria (colégio de Schoenstatt, onde ele exerce a sua profissão), eu juntei-me a este projeto que acabou por ser uma grande experiência.

Partimos no Domingo de Ramos depois da missa. Um grupo ia de camioneta e outro de carro, eu fui com os da camioneta junto a cinco do colégio e três do bairro, todos com 12 anos. A viagem durava cerca de 4 horas portanto dava para conversar e cansarmo-nos juntos. Logo desde o inicio viram-se algumas diferenças, os do colégio estavam mais interessados em falar das aulas, professores e da família enquanto que os do bairro sobre as amizades, namoradas e experiências sexuais, portanto tentei conduzir a conversa para temas que os envolvessem a todos sem tomar opção por qualquer grupo.

Não estou aqui para trabalhar”

A ideia que tínhamos era ter sempre atividades que permitissem um são intercâmbio entre todos, tentando sempre unificar e sentirem-se um só grupo. Mas para isto eram necessárias certas regras simples e mínimas para que tudo fosse mais agradável. Uma delas era que tínhamos grupos para lavar pratos. Isto foi um problema, os do colégio aceitaram-na como uma coisa normal, mas os do bairro negavam-se a lavar, havia um sentimento interno nesses rapazes que lhes dizia, estão a prejudicar-me, porque eu e não os outros, eu não vim para trabalhar. Isto trouxe-nos as primeiras complicações. Porém, os do último grupo da lavagem não tiveram problemas, já tinham visto a todos lavar portanto já não tinham dentro de si essa ideia de ficar a perder. Mais, no último dia pedimos voluntários para lavar e ofereceram-se 3 do bairro. Isto para nós significou um grande êxito.

A nossa tarefa era estabelecer regras claras e justas para todos, mas sem perder de vista que tínhamos que atraí-los através de um vínculo real, com gestos concretos e assim ganhar a sua confiança, que soubessem que queríamos o melhor para eles. Assim, não havia espaço para rancor, se algo não resultava, se alguém não queria fazer o mínimo e gerava discórdia ou mal-estar, isso tinha que se traduzir em voltar a explicar a importância dessas pequenas regras e mostrar que a firmeza com que se aplicavam não influíam no carinho e na vontade de ter um bom momento juntos.

Gritos, gargalhadas, entusiasmo são

A maior alegria acontecia no rio. Durante a tarde tínhamos o ansiado momento para ir à água. Apesar de que muitos dos do bairro não saberem nadar, a procura de sapos e o poderem ir à água com boia arrancavam um sorriso e entusiasmo autêntico. Por outro lado, os do colégio saltavam das pedras e nadavam por todas as pequenas lagoas que o rio fazia. Esta atividade era o pagamento que cada um recebia pelo trabalho. Ver que todos desfrutavam e partilhavam, uns ensinavam a nadar a outros, gritos, gargalhadas, entusiasmo são. Tudo isto dentro de uma paisagem paradisíaca e sem outra preocupação que não fosse a de se divertirem.

Para renovar-me no amor aos rapazes

Recordo-me de um momento tenso em que depois de ter ralhado fortemente a um dos rapazes por ter atirado uma pedra a outro e provocar choro e dor, tive outro encontro em que chamei alguns para ajudarem a limpar uma mesa e ninguém o queria fazer. Fiquei tenso, intranquilo, zangado. Então tive que sair para dar uma volta e renovar-me no amor aos rapazes, no perdão, na alegria para continuar a trabalhar com entusiasmo. Foi um voltar a silenciar a alma e dirigir-me a Maria para que Ela que é Mãe me ajudasse a purificar o coração e a intenção.

Houve outro elemento complicado que pudemos ver durante estes dias. A incapacidade para enfrentar uma situação difícil, de esforço, de sacrifício com sentido por parte de alguns do bairro, como a falta de persistência nos jogos. Concretamente nos treinos de rugby e jogos, vimos que os jovens do bairro participavam com entusiasmo, mas se havia momentos de espera, de repetição ou de menor protagonismo amuavam e protestavam. O mesmo ocorreu quando tivemos que trabalhar levando umas pedras para uma construção. Não havia capacidade para fazer um esforço, víamos uma grande debilidade de caráter, uma vontade muito frágil, o esforço está escassamente valorizado, só queriam resultados, mas custava-lhes ver o valor do caminho até eles.

Oração

Também foi bonito ver como se integraram com grande entusiasmo nos jogos da noite, os do colégio já os conheciam, portanto uniram-se para que resultasse bem e os do Bairro estavam impressionados, queriam participar e integrar.-se apesar de terem medo do desconhecido, causava-lhes uma grande adrenalina e isso fazia-os felizes.

Depois dos jogos da noite vinha a nossa oração, aí cantávamos e de pois fazíamos um resumo do dia entregando-o nas mãos de Jesus, terminávamos olhando nos olhos de Maria e agradecíamos ou fazíamos um pedido dependendo de cada um. No último dia este momento teve maior participação, foi bonito ver que tentos os rapazes do bairro como os do colégio queriam agradecer por esta experiência.

… e estão a pensar como fazer o próximo acampamento

Finalmente creio que foi uma experiência muito bonita, de muito trabalho e desgaste, porque tínhamos que estar atentos a todo o minuto, mas com momentos de grandes alegrias e encontros onde construimos boas amizades.

Hoje em dia alguns destes rapazes do bairro juntam-se aos sábados e estão a pensar com fazer o próximo acampamento e a juntar dinheiro para realizá-lo, está é a possível resultante criadora que Deus nos oferece e que continuaremos a acompanhar.

2015-03-31 19.26.04

Original: Espanhol – Tradução: Maria de Lurdes Dias, Lisboa, Portugal

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