paternidad

Posted On 2022-02-07 In José Kentenich

Só se é fiel ao profeta, se se é criativo e ousado ao mesmo tempo

Pe. Guillermo Carmona, Argentina •

“As acusações de Julho de 2020 abalaram-nos e suscitaram muitas reacções – negação, defesa, ingenuidade, crítica, desânimo, respostas técnicas e de investigação… Mas talvez a melhor resposta seja descobrir nelas o incentivo para crescer no carisma que o Pe. Kentenich descreveu aqui como “dupla paternidade”. Uma formulação que precisa de ser sempre actualizada. É bom lembrar que só se é fiel ao profeta, se se é criativo e ousado ao mesmo tempo”, disse o P. Guillermo Carmona na sua Homilia na comemoração do 70º aniversário do “Santuário do Pai” em Novo Schoenstatt, Argentina. —

Um resumo de quase dois anos marcados por reacções muito diferentes e quase sempre fortes de Schoenstatt – tanto a nível institucional como pessoal – às documentações publicadas desde 2 de Julho pela historiadora Dra. Alexandra von Teuffenbach e divulgadas pelos meios de comunicação social em todo o mundo.

Mais do que um resumo, na realidade. Um impulso para continuar a crescer na relação com o Pe. Kentenich e a concretização e actualização do seu carisma ao serviço das pessoas que precisam de nós.

Partilhamos o texto completo da Homilia, publicado há alguns dias na página web nacional de Schoenstatt Argentina www.schoenstatt.org.ar


Leituras:Génesis 28, 10-19 – Salmo – 127 – Lucas 1, 39-56

Caros irmãos e irmãs na Aliança,

A experiência de Jacob no caminho para Haran, que ouvimos na Leitura da Bíblia, e a designação de Betel – que significa “Casa de Deus” – lembra-nos o momento em que esta terra de Novo Schoenstatt foi também transformada na morada de Deus.

Há setenta anos, Maria visitou-a, tal como visitou a sua prima Isabel. O espanto que surgiu em Isabel também surgiu em nós: “Quem sou eu – quem somos nós – para que a Mãe do Senhor nos venha visitar? A partir dessa visita, nada seria igual nesta terra.

É por isso que, tal como Moisés perante a Sarça ardente, também nós queremos tirar os nossos sapatos, num gesto de profunda reverência.

Sente-se muito respeito e pequenez ao recordar esta iniciativa de Deus há 70 anos atrás. Há uns versos da Menapace que também podemos aplicar aqui:

Há muito sangue na terra
que deve ser respeitada;
são lágrimas e suor,
que lhe deram o seu sal.

É pouco o que parece
e muito o que está por detrás disso;
a fim de o compreender, pára,
irmão para pensar.

“A fim de o compreender, irmão, detem-te a pensar”. Foi para isso que viemos aqui esta tarde. Parámos para pensar sobre as maravilhas de Deus e para as saborear.

Física ou virtualmente viemos para agradecer. Mas também para nos reacendermos no amor. Foi isto que São Paulo pediu a Timóteo: “Reaviva o dom de Deus que recebestes” (2 Tim 1,6)… Reaviva o dom de Deus… Reavivar é reacender, é tornar nova a consciência do dom recebido; e é cuidar para que o fogo – o fogo do primeiro amor – nunca se apague.

Certamente já nos interrogámos várias vezes durante este tempo, que ensinamentos e desafios estão contidos nestes 70 anos do Santuário do Pai? Vários vídeos, Missas e palestras os descreveram.

E todos terão dado uma resposta a esta pergunta, ou tê-la-ão feito. Creio que interpreto os sentimentos de muitos, afirmando que estes 70 anos são um convite para continuarmos a sonhar juntos. Uma das realidades que aprendemos na pandemia é sonhar com coisas melhores. “Quando tudo isto acabar, nada será igual: será muito melhor”, dizia um sugestivo anúncio em Belgrano (!).

Entre as lições e desafios deste aniversário, há três que penso que vale a pena destacar. Partilho-os, sem fingir que são os únicos, ou os mais destacados para todos. (“Tudo o que é recebido é recebido segundo o destinatário”).

Primeiro:

O Santuário do Pai diz-nos que as dificuldades que a Providência nos permite sofrer são oportunidades para continuar a crescer.

Quanto maiores forem as dificuldades, mais podemos contar com a força divina e mais podemos lutar pela entrega de nós próprios. Desta forma, estas feridas serão transformadas em bênçãos.

Sabemos que a bênção do Santuário do Pai não teve lugar num cenário idílico: o pai desterrado, a caminho do exílio, com muita dor na alma e lágrimas nos olhos. Isto é o que temos visto nas fotografias e ouvido nas histórias. Mas, ao mesmo tempo que o seu coração estava a ser esmagado, a sua esperança crescia e ultrapassava todas as amarguras possíveis.

O 20 de Janeiro de 1952 foi seguido por outro 20 de Janeiro de mal-entendidos e solidão. Algumas destas realidades conhecemos; outras sentimos; muitas permanecerão no segredo de Deus e do Pai Fundador.

Mas o que emergiu de tudo isto? Algo extraordinário: a consciência da pequenez dos filhos, a confiança original e a “victoria patris” – a vitória do pai. Não sem sangue e sem enorme Capital de Graças. Nesta sinergia entre o humano e o divino, o segundo Milagre da Noite Santa tomou forma. “Tudo acontece para o bem daqueles que amam a Deus”, disse S. Paulo.

O que era possível ontem é possível hoje”, diz uma canção alemã, “tudo o que se tem de fazer é tentar. Estamos dispostos a experimentar também? Queremos aplicá-lo a todas as realidades das nossas vidas?

Segundo aspecto:

O Santuário do Pai deve continuar a gerar a comunhão e a unidade da Família de Schoenstatt no nosso país.

Dos quatro sinais que o Pai Fundador atribui a este Santuário – todos eles desafiadores – penso que ser um “sinal de unidade” é de enorme relevância.

Um dos acontecimentos mais significativos na história do Santuário do Pai foi a sua designação como “Santuário Nacional” em 1977. Foi uma designação precedida por muitos momentos de procura de comunhão, que conhecemos e que são descritos num livro sobre a história de Schoenstatt naqueles anos.

A missão nacional, formulada um ano mais tarde em 1978, e a Aliança com o Pai no 50º aniversário do Santuário Nacional em 2002, foram marcos – entre outros – que consolidaram a unidade.

Mas esta unidade continua a ser um desafio. É uma realidade frágil. Vemo-lo na vida conjugal, social, política, eclesial, e também na vida de Schoenstatt… A fadiga e a desilusão surgem; é mais fácil envergonhar-se sozinho… Vemo-lo a nível nacional: o compromisso pela unidade – a superação das fendas – precede os outros enormes desafios do país.

Para que a unidade nasça, temos de descobrir que cada irmão é uma transparência de Jesus e Maria. Ou como diriam os schoenstatteanos paranaenses, ver em cada irmão um sacramental que traz graça, se nos aproximarmos dele com o coração aberto e sem preconceitos.

Também se fala de “sinodalidade” na Igreja. É um sinal dos tempos. No meio da impotência generalizada causada pela pandemia, aprendemos também a mostrar solidariedade na tragédia comum.

É por isso que penso ser uma excelente ideia que as várias Famílias diocesanas e zonais planeiem ir em peregrinação ao Santuário do Pai durante este ano. Será também um sinal poderoso de comunhão nacional.

Em terceiro lugar:

A partir daqui devemos continuar a implorar a graça de crescer no nosso carisma de paternidade e filialidade.

Esta noite ratificamos a decisão de abandonar a atitude vazia, negligente ou superficial de esperar que outros desempenhem o seu papel na nossa missão.

“O carisma – disse-nos o Papa – não é uma peça de museu a guardar em formaldeído, mas sim devemos ‘abri-lo’ para que no encontro com a realidade de cada época, ele se ‘renove’ e, por sua vez, ‘transforme’ a realidade”.

O carisma deste Santuário é a proclamação da paternidade como expressão, um caminho e uma forma segura de alcançar a paternidade de Deus. Foi isto que o Fundador proclamou e experimentou em várias ocasiões. Os textos são-nos familiares. Neste Santuário, manifestou-se a nós como a Causa Segunda e convidou-nos a assumir o risco e a ser cada um de nós – cada uma de nós – uma Causa Segunda do amor misericordioso e fiel do Pai.

As acusações de Julho de 2020 abalaram-nos e suscitaram múltiplas reacções – negação, defesa, ingenuidade, crítica, desânimo, respostas técnicas e de investigação… Mas talvez a melhor resposta seja descobrir nelas o incentivo para crescer no carisma que o Pai descreveu aqui como “dupla paternidade”. Uma formulação que precisa sempre de ser actualizada. É bom lembrar que só se é fiel ao profeta se se for criativo e ousado ao mesmo tempo.

Três aspectos então: dificuldades são tarefas; o Santuário do Pai deve continuar a gerar comunhão na nossa Família argentina; é também um encorajamento constante a arriscarmo-nos pelo carisma da paternidade do Pai e a sua conotação para cada um de nós. Caros irmãos e irmãs, há 70 anos, Maria chegou a Novo Schoenstatt. A Sua visita despertou um sonho no coração do nosso Pai e no coração daqueles que estavam presentes naquela tarde.

O sonho ainda está vivo. Somos a sua carta de apresentação. Uma carta de apresentação que as pessoas de hoje devem ser capazes de ler, ver e sobretudo experimentar. Para se sentir interpretada.

Santuario do Pai. ¡Felicidades!

Obrigado Irmãs de Maria por guardarem a herança.

Obrigado, Padre Fundador, por nos teres abençoado hoje do céu e desde esta terra que te pertence e que te pertencerá sempre.

Contigo, Pai, cantamos a Deus também no coração da Aliada, o nosso Magnificat.

Original: espanhol (5/2/2022). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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