Kritik

Posted On 2020-11-18 In Artigos de Opinião, José Kentenich

Carta aberta à redação de schoenstatt.org

Por Inge Wilhelm, Alemanha •

Nas últimas semanas tenho acompanhado alguns artigos na página schoenstatt.org com crescente espanto. As reflexões formuladas no artigo da redação “Um momento de discernimento” (29/10/2020), sobre a publicação do livro da Sra. von Teuffenbach, me surpreenderam, para dizer o mínimo. E culminam com a “Carta aberta à Sra. von Teuffenbach” de Paz Leiva (14/11/2020). O artigo termina com um agradecimento à Sra. von Teuffenbach pelo trabalho que ela realizou. Como conclusão, diz: “Melhor a verdade, por mais difícil que seja, do que viver com dúvidas e desconfianças“. Isso me deixou sem palavras! —   

Sim, trata-se da verdade! 

A Sra. von Teuffenbach é historiadora da Igreja, uma profissão que requer qualificações científicas. Sobre a abertura dos arquivos do pontificado de Pio XII, ela escreveu um artigo em um jornal católico (nota editorial: Deutsche Tagespost de 2 de julho de 2020) sobre acusações de abuso contra o fundador do movimento de Schoenstatt, uma exposição que carece de padrões científicos em muitos aspectos. As acusações coletadas por ela (a ponto de apontar um abuso sexual) baseiam-se em documentos que não são designados com precisão para que suas citações possam ser verificadas, nem essas fontes são colocadas num contexto mais amplo. Além disso, sua exposição me lembra mais o estilo da imprensa sensacionalista, que sob o slogan “o sexo vende” quer aumentar a circulação do jornal. As acusações são confirmadas em um segundo artigo. Agora aparece um livro com novos documentos que pretende ser “uma publicação explicativa dos documentos encontrados”. A autora dedica esta publicação, segundo ela mesma expressa, à irmã M. Georgina Wagner e às suas corajosas (sic) irmãs da comunidade (citado por schoenstatt.org em 29/10/2020). *

A este respeito gostaria de salientar o seguinte como historiadora: 

“Uma publicação explicativa” deveria utilizar-se de “ferramentas” técnicas. Qualquer aluno de um curso superior de história aprende como devem ser tratados os textos que servem como fonte:

  1. Por exemplo, o contexto histórico no qual um documento foi produzido deve ser explicado e a forma de pensar e as peculiaridades idiomáticas devem ser colocadas em seu contexto temporal.
  2. A motivação do autor deve ser investigada. Com que intenção foi escrito o texto? (No caso concreto, isto significa: O que/quem levou as irmãs a testemunharem contra o padre Kenteniche e quais motivos havia?
  3. Igualmente, a veracidade das declarações também deve ser verificada com base em outros documentos. “Audiatur et altera pars”, foi assim que os romanos o formularam (“o outro também deve ser ouvido”).

Conclusão: Na ausência destas condições, todas as outras interpretações e avaliações de uma fonte são baseadas em suposições e especulações, e as acusações nelas contidas prejudicam, em determinadas circunstâncias, de forma grosseira, a integridade da pessoa atacada (seja quem for).

Para visualizar isso em um exemplo inocente: Se alguém tem como fonte apenas o relato da expulsão dos vendedores do templo (Mt 21,12-17), sem incluir qualquer outra análise ou comparação, talvez chegue à conclusão, com base nesse relato, de que Jesus era uma pessoa violenta e causador de problemas, que colocava em perigo a propriedade e a segurança daqueles que visitavam o templo. Do ponto de vista dos vendedores do templo, esta caracterização negativa pode até mesmo ser agravada.

É exatamente isso que faz a Sra. von Teuffenbach!

Por isso, dificilmente, surgirá em mim um agradecimento à essa autora.

As seguintes conclusões podem ser úteis nesta discussão:

  • As acusações contra o padre Kentenich não têm, de forma alguma, relevância criminal.
  • Nenhuma editora de renome em questões teológicas publicou o livro da Sra. von Teuffenbach. Isto é significativo.
  • Até agora, nenhum dos documentos publicados contém uma prova clara das acusações contidas neles.

Disso pode-se deduzir:

  1. Está excluída qualquer outra especulação sobre possíveis “delitos” do fundador. Não é apenas na legislação de imprensa que a presunção de inocência se aplica até que se prove o contrário. Reflexões como as que foram apresentadas, tanto nos artigos mencionados no início, como no artigo de Manuel de la Barreda Mingot de 13/11/2020, considero que questionam, desnecessariamente, a integridade do fundador.
  2. Antes de continuar a colocar em circulação tentativas de interpretação, é necessário aguardar o trabalho das comissões formadas em Tréveris e em Schoenstatt, as quais se comprometeram com um exame crítico das fontes.
  3. Deve-se ressaltar de uma perspectiva autocrítica que, devido a um instinto incompreendido de proteção da instituição da Igreja e de alguns de seus representantes (bispos, sacerdotes, religiosos), o movimento de Schoenstatt levou muito tempo para lidar com os processos em torno ao “exílio” do fundador. Estou curiosa para ver se escândalos de outro tipo não vêm à tona.
  4. Por último, mas não menos importante: Naturalmente a questão central e que nos afeta a todos é: O que o Deus da vida quer nos dizer com estes desafios? Qual é a mensagem de Schoenstatt que novamente é colocada no centro das atenções através das publicações da Sra. von Teuffenbach? Só podemos encontrar uma resposta a esta e a outras perguntas em um diálogo além das fronteiras das comunidades. Para isto, schoenstatt.org poderia/deveria oferecer uma plataforma.

 

Saudações cordiais,

Inge Wilhelm

 

* Ainda não há uma tradução ao português, mas a autora (alemã) da carta aberta cita o título oficial do livro, não um texto redigido por schoenstatt.org. 
Nota: No texto original, a autora utiliza citação análoga dos artigos mencionados/questionados. Para facilitar a busca, acrescentamos os links (=citação digital). A responsabilidade (também legal) por todas as declarações é exclusivamente da autora. Distanciamo-nos expressamente da desqualificação feita da editora científica Traugott Bautz GmbH, entre outras, editora da Biographisch-Bibliographisches Kirchenlexikon, bem como do questionamento da competência científica da Dra. von Teuffenbach.

 

Aqui a declaração mais recente da Presidência Geral sobre o assunto:

Não temos medo da verdade

Original: Espanhol (17/11/2020). Tradução: Luciana Rosas, Curitiba, Brasil

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1 Responses

  1. Antônio says:

    Essa carta me parece uma tentativa de negar as evidências apresentadas, desqualificando o trabalho da historiadora e dizendo: temos que esperar os verdadeiros historiadores apresentar seu trabalho. Se não fosse essa historiadora alemã, ainda estaria em segredo toda essa história. É hora de assumir: padre Kentenich teve seus defeitos e a algumas pessoas fez mal. Sua obra continua, talvez necessite purificar alguns aspectos, mas é de Deus. E o padre Kentenich não é aquela figura impecável e imaculada que se apresentou.

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