Posted On 2013-03-10 In José Kentenich

As Cartas do Carmelo, o Santuário Original e a Inscriptio

ÁFRICA DO SUL, Sarah-Leah Pimentel. Quando a 2 de fevereiro a Família Schoenstatteana recebeu a notícia de que as negociações do Santuário Original paralisaram, muitas pessoas tentaram interpretar o que isso poderia significar. O que daí resultou foi a necessidade de aprofundar o nosso compromisso para com a Aliança de Amor e trazer ainda mais contribuições para o Capital de Graças – confirmado esta semana pela mensagem da Presidência Geral. Outra ideia dominante foi o facto de o Santuário Original estar acorrentado. Este segundo pensamento fez relembrar a experiência do Pe. Kentenich na prisão de Coblença e a sua decisão – a Inscriptio – a 20 de Janeiro de não aceitar nenhuma intervenção humana como meio de escapar ao campo de concentração em Dachau.

Poderemos talvez adquirir um conhecimento mais profundo sobre o que é esperado de nós enquanto família schoenstatteana refletindo nos textos das cartas do Carmelo – as cartas que o Pe. Kentenich escreveu da prisão de Coblença entre outubro de 1941 e Fevereiro de 1942. As Cartas do Carmelo são tão importantes hoje quanto foram há 70 anos atrás e poderão, talvez, ajudar-nos a despertar em nós um chamado a viver a Inscriptio pela libertação do Santuário Original.

Anos jubilares são anos de sofrimento

Numa carta às Irmãs de Schoenstatt a 5 de Janeiro de 1942, o Pai Fundador diz-lhes que “quem quer que conheça a história da Família saberá que os anos jubilares sempre foram anos de sofrimento e provação”. Estas palavras tocam-nos hoje a nós. Em pouco mais de um ano estaremos a celebrar os cem anos da nossa fundação. Se seguirmos as marcas da nossa história torna-se claro que os acontecimentos em torno do Santuário Original são sinais da divina providência de Deus. Neste momento poderemos ainda não ver o bem que pode resultar disto, mas o Pe. Kentenich lembra-nos o “quão bom será quando, mais tarde, pudermos ver a forma como a sabedoria de Deus nos conduziu neste tempo” (Carta de 28 de novembro de 1941).

Noutra carta às Irmãs de Maria a 22 de Dezembro de 1941, o nosso fundador diz às Irmãs que “vocês podem observar como Deus sempre faz uso deste aprisionamento pelo bem individual e da Família como um todo”. Se tomarmos a analogia que muitas pessoas têm usado nas passadas semanas de que o Santuário Original está acorrentado, então também poderemos confiar que Deus está a permitir este aprisionamento para o nosso bem.

Chamados a viver a Inscriptio

Então, qual deverá ser a nossa resposta? Uma vez mais, o Pe. Kentenich refere a história da Família de Schoenstatt. Na sua carta de 5 de janeiro de 1942, o Pe. Kentenich afirma que cada prova sofrida foi “apenas por um breve período de tempo” porque “estávamos suficientemente preparados… a Família respondeu a cada golpe com uma rendição mais profunda e confiante: primeiro através da Carta Branca, depois pela coroação e, mais recentemente, pela Inscriptio”.

Ao nos encontrarmos no limiar de um grande jubileu, o centésimo aniversário da nossa fundação onde renovaremos a nossa Aliança de Amor e re-fundaremos Schoenstatt para a próxima geração e para os próximos cem anos, somos quiçá chamados a relembrar as palavras da Ata de Fundação nas quais Maria nos impele a provar “primeiro que me amais realmente, que levais a sério o vosso propósito”. Talvez só aí o Santuário Original será libertado. O Pe. Kentenich diz o mesmo sobre a sua própria liberdade: “conheço apenas um meio de ser libertado: a Família deve levar a sério a Carta Branca e a Inscriptio (19 de janeiro 1942).

Esta ideia é tão importante que o Pai Fundador a repete na carta ao Pe. Menningen a 20 de janeiro de 1942: “Certifica-te que a Família leva a Carta Branca e a Inscriptio a sério… então eu serei libertado”. A 9 de fevereiro, acrescenta: “a minha liberdade é a liberdade de toda a Família”. Podemos dizer a mesma coisa hoje: a liberdade do Santuário Original é a liberdade da toda a Família.

No entanto, para obter esta liberdade temos de lutar da mesma maneira que o Pe. Kentenich apelou às Irmãs de Maria e à Família de Schoenstatt a render-se inteiramente à vontade de Deus. Na sua carta às Irmãs de Maria a 28 de outubro de 1941, lembra que “viver a Inscriptio acontece na vida do dia-a-dia” quando Deus pede a nossa rendição e “nos leva à escola do sofrimento”.

Chamados a nos unirmos como uma só Família e a lutar por um objetivo comum

Vista à luz da divina providência e no contexto da nossa história de Schoenstatt, a situação da nossa Família e do Santuário Original faz sentido. Mas talvez também perguntemos: porquê? E, porquê agora? Especialmente numa altura em que parecia que as negociações do Santuário Original iam tão bem! De novo podemos olhar para as palavras do Pai Fundador nas Cartas do Carmelo nas quais ele explica que precisamos de nos unir como Família ÚNICA e lutar por um objetivo comum. Na sua carta ao Pe. Muehlbeyer logo após o início do ano de 1942, o Pe. Kentenich escreve que

“nós próprios temos que estar de pé na cruz e pender na cruz, temos que padecer uma morte dolorosa e miserável: livres de nós mesmos, livres dos nossos egos, no espírito da Inscriptio”.

O Pe. Kentenich refere que a razão para isto é que

“então estaremos preparados… a Família ter-se-á rendido incondicionalmente a Deus e partirá na sua viagem para distâncias e profundidades intermináveis. Se queremos usar este novo ano tão seria e profundamente para nós próprios e para a comunidade, teremos de dar as poucas forças restantes inteiramente para a nossa própria Família. De outro modo, as fundações tornar-se-ão frágeis…”

“As fundações tornar-se-ão frágeis”! Se vamos renovar a Aliança de Amor como Família Internacional de Schoenstatt e preparar o terreno para os próximos cem anos precisamos de fortalecer as nossas fundações. Precisamos mostrar à nossa MTA que realmente levamos a nossa Aliança de Amor a sério e que realmente valorizamos a nossa fonte de graças: o santuário.

A Quaresma enquanto tempo de viver o espírito da Carta Branca e a Inscriptio

Ao entrar na terceira semana da Quaresma encontramo-nos, provavelmente, numa altura propícia para nos questionarmos: Estamos nós, como uma só Família unida entre si, preparados para viver a Carta Branca e a Inscriptio? Estamos prontos para lutar mais arduamente do que nunca pela nossa santificação e abraçar a cruz que Deus nos enviou, de forma a podermos oferecer muitas contribuições ao Capital de Graças, para a corrente de graças que jorra do Santuário Original e, por sua vez, de todos os santuários filiais, santuários-lar, santuários no trabalho e santuários-coração do mundo? Estamos preparados para render o nosso egoísmo, os nossos desejos, as nossas vidas a Maria como resgate pelo Santuário Original e como presente para as futuras gerações de filhos de Schoenstatt que virão depois de nós, para que as palavras do Documento de Fundação se tornem verdade em nós a 18 de outubro de 2014 tal como foram para os primeiros soldados há cem anos atrás?

“Não podemos, sem dúvida, realizar uma ação apostólica maior, não podemos legar aos nossos sucessores uma herança mais valiosa, do que mover Nossa Senhora e Rainha a estabelecer aqui, de maneira especial, o seu trono, a distribuir os seus tesouros e a operar milagres da graça. Imaginais onde quero chegar: gostaria de transformar este lugar num lugar de peregrinação, num lugar de graças para a nossa casa, para toda a província alemã e talvez para ainda mais além.”


Original: Inglês – Tradução: Maria Miguel Vidreiro da Rocha, Aveiro, Portugal

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *