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Posted On 2023-04-16 In Francisco - Mensagem

Quem vai anunciar deve mexer-se, deve andar

Papa Francisco. Catequese sobre o zelo apostólico •

“Não há anúncio sem movimento, sem caminho. Não se anuncia o Evangelho parado, fechado num escritório, na escrivaninha ou no computador, fazendo polémicas como “leões do teclado” e substituindo a criatividade da proclamação com o copia-e-cola de ideias tiradas aqui e ali. Anuncia-se o Evangelho movendo-se, caminhando, indo”, disse o Papa Francisco na quarta-feira passada, ao resumir as catequeses sobre o zelo apostólico (ou seja, sobre a razão de ser de Schoenstatt). —

Sentada em frente ao ecrã a ler a catequese de Francisco, penso na minha última visita à Argentina em Março. Viajei de avião, táxi, metro, carro, comboio e com os pés, para fazer o que faço ao longo do ano neste apostolado chamado schoenstatt.org: falar com colaboradores de muitos anos, muitos deles mais amigos do que colaboradores, procurar novos, visitar projectos conhecidos e novos, tomar café, partilhar uma mesa, andar por aí a conversar… Tudo isto também pode ser feito, mais ou menos, virtualmente, com video-conferências ou mensagens WhatsApp ou email. Mas não é a mesma coisa ver quadrados com caras no ecrã ou sentar-se à volta da mesa e “sentir-se presente”. Valeu a pena, cada dia de férias de trabalho, cada quilómetro, cada euro bem gasto.

Não se pode fazer publicidade, não se pode comunicar, sem se mexer. Não se pode falar da crise na Igreja alemã sem ir a uma Vigília Pascal cheia de jovens e famílias para sentir a diferença, para sentir que é possível renovar esta Igreja que muitas pessoas pensam já estar morta ou perto disso.

Não se pode falar em nenhum congresso sobre o compromisso social de Schoenstatt sem abraçar crianças na Casa del Niño nos subúrbios de Buenos Aires, crianças com tanta fé e tanta fome, sem caminhar por colónias de miséria, sem ouvir um jovem toxicodependente na prisão juvenil.

Temos de nos mexer para proclamar. Quanto andou São Paulo. Quanto se mexe Francisco, embora quase não possa andar.

Catequeses. A paixão pela evangelização: o zelo apostólico do crente

10. Testemunhas: São Paulo. 2

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Depois de ter visto, há duas semanas, o impulso pessoal de São Paulo pelo Evangelho, hoje podemos refletir mais profundamente sobre o zelo evangélico à medida que ele mesmo fala e o descreve nalgumas das suas cartas.

Em virtude da própria experiência, Paulo não ignora o perigo de um zelo distorcido, orientado numa direção errada; ele próprio caiu neste perigo antes da providencial queda no caminho de Damasco. Por vezes temos de lidar com um zelo mal orientado, obstinado na observância de normas puramente humanas e obsoletas para a comunidade cristã. «O zelo que alguns – escreve o Apóstolo – demonstram por vós não é bem intencionado» (Gl 4, 17).

Não podemos ignorar a solicitude com que alguns se dedicam a ocupações erradas, inclusive na própria comunidade cristã; podemos gabar-nos de um falso impulso evangélico ao mesmo tempo que perseguimos a vanglória ou as próprias convicções ou um pouco de amor-próprio.

Por isso perguntemo-nos: quais são as caraterísticas do verdadeiro zelo evangélico segundo Paulo? Por isso, parece ser útil texto que ouvimos no início, uma lista de “armas” que o Apóstolo indica para a batalha espiritual. Entre elas está a prontidão para propagar o Evangelho, traduzida por alguns como “zelo” – esta pessoa é um zelante na realização destas ideias, destas coisas -, e indicada como “calçado”. Porquê? Como se relaciona o impulso pelo Evangelho com o que se põe em pé? Esta metáfora retoma um texto do profeta Isaías, que diz: «Que formosos são, sobre os montes, / os pés do mensageiro que anuncia a paz, / que traz a boa nova, e que apregoa a vitória! / que diz a Sião: o teu Deus é Rei» (52, 7).

Também aqui encontramos referência aos pés de um anunciador de boas notícias. Porquê? Porque aquele que vai anunciar se deve mover, deve caminhar! Mas notamos também que Paulo, naquele texto, fala do calçado como parte de uma armadura, segundo a analogia do equipamento de um soldado que vai para a batalha: no combate, era fundamental ter estabilidade de apoio, para evitar as armadilhas do terreno, pois com frequência o adversário disseminava o campo de batalha com armadilhas, e ter a força para correr e mover-se na direção certa. Portanto, o calçado é para correr e evitar todas estas coisas do adversário.

O zelo evangélico é o apoio em que se baseia o anúncio, e os anunciadores são um pouco como os pés do corpo de Cristo que é a Igreja. Não há proclamação sem movimento, sem “saída”, sem iniciativa. Isto significa que não há cristão se não estiver em movimento, não se é cristão se não se sair de si mesmo para se pôr a caminho e levar o anúncio. Não há anúncio sem movimento, sem caminho. Não se anuncia o Evangelho parado, fechado num escritório, na escrivaninha ou no computador, fazendo polémicas como “leões do teclado” e substituindo a criatividade da proclamação com o copia-e-cola de ideias tiradas aqui e ali. Anuncia-se o Evangelho movendo-se, caminhando, indo.

O termo utilizado por Paulo, para indicar o calçado de quantos levam o Evangelho, é uma palavra grega que denota prontidão, preparação, alacridade. É o oposto de desleixo, incompatível com o amor. De facto, noutros lugares Paulo diz: «Sede diligentes, sem fraqueza, fervorosos de espírito, dedicados ao serviço do Senhor» (Rm 12, 11). Esta atitude era a exigida no Livro do Êxodo para celebrar o sacrifício da libertação pascal: «Quando o comerdes, tereis os rins cingidos, as sandálias nos pés e o bordão na mão. Comê-lo-eis apressadamente pois é a Páscoa do Senhor. Passarei nesta noite» (12, 11-12a).

Um anunciador está pronto para ir, e sabe que o Senhor passará de uma forma surpreendente; deve, portanto, estar livre de esquemas e preparado para uma ação inesperada e nova: preparado para as surpresas. Aquele que proclama o Evangelho não pode estar fossilizado em jaulas de plausibilidade ou no “sempre se fez assim”, mas está pronto a seguir uma sabedoria que não é deste mundo, como diz Paulo falando de si: «A minha palavra e a minha pregação não consistiram em discursos persuasivos da sabedoria humana, mas na manifestação do Espírito e do poder divino, para que a vossa fé não se apoie na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus» (1 Cor 2, 4-5).

Eis então, irmãos e irmãs: é importante ter esta prontidão para a novidade do Evangelho, esta atitude que é um impulso, uma tomada de iniciativa, um ir primeiro. É um não deixar escapar as oportunidades para promulgar o anúncio do Evangelho da paz, aquela paz que Cristo sabe dar mais e melhor do que o mundo. E por isso exorto-vos a serdes evangelizadores que se movem, sem temor, que vão em frente, para levar a beleza de Jesus, para levar a novidade de Jesus que muda tudo. “Sim, Padre, muda o calendário, porque agora contamos os anos antes de Jesus…”. – “Mas também, muda o coração: e estás disposto a deixar que Jesus mude o teu coração? Ou és um cristão tíbio, que não te moves? Pensa um pouco: és um entusiasta de Jesus, vais em frente? Pensa um pouco nisto…

 

Coordenação da tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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