Entrevista a Vicky Ramírez e Claudio Ardissone, schoenstatteanos, Paróquia Sagrados Corações de Jesus e María, Asunción, Paraguai
“A nossa experiência pastoral na paróquia…” Quantos casais de Schoenstatt poderiam dar um testemunho começando com estas palavras? Se se trata do desejo e da exigência do Papa Francisco com Schoenstatt, com todos os Movimentos, a resposta deve ser: todos. “A nossa experiência pastoral na paróquia…” Para Vicky Ramirez e Claudio Ardissone, pais de dois filhos, a resposta é clara. E é também uma fonte de grande alegria.—
Estamos felizes por ter obtido a seguinte entrevista com eles, com perguntas sobre o discurso proferido pelo Papa Francisco no dia 25 de Janeiro, que já é objecto de várias entrevistas, intercâmbios e reflexões entre schoenstatteanos.
Mais uma vez o Papa Francisco (no seu discurso à Rota Romana) sublinha a importância do “trabalho pastoral do catecumenado pré e pós-matrimonial”. Além disso, ele exige que os casais se encarreguem deste trabalho pastoral. Qual é a vossa experiência nesta matéria? A responsabilidade dos casais pelo cuidado pastoral dos noivos é algo habitual no vosso ambiente, ou mesmo algo único ou exótico?
A nossa experiência pastoral na paróquia baseia-se no trabalho com pais de crianças que se preparam para a reconciliação e a Primeira Comunhão, e na catequese da Confirmação para um grupo de jovens de 15-17 anos.
De 15 em 15 dias temos encontros de catequese para os pais, aos quais damos os mesmos temas que os seus filhos vão receber. É uma catequese cujo objectivo é que os pais sejam os primeiros catequistas dos seus filhos.
Nesta tarefa, temos tido grandes satisfações, pois os pais dizem-nos que apreciam o espaço porque podem encontrar-se com Deus e consigo próprios.
Nas nossas avaliações, ouvimos expressões como “espero a semana inteira por este encontro” ou “aqui conheci a Virgem Maria” ou “é um espaço de terapia espiritual” ou “um momento de paz na semana” ou “uma oportunidade e uma bênção que nos são dadas” ou “um espaço único e maravilhoso para nos encontrarmos espiritualmente connosco próprios”. E talvez o mais comovente seja o testemunho de um casal que salvou o seu casamento graças a esta catequese.
Aqui no Paraguai, não é comum haver uma Pastoral de Noivos nas paróquias. Na verdade, acho que os temos bastante abandonados. Refiro-me ao acompanhamento de casais que vivem um noivado, mas que ainda não têm planos para se casarem. Agora, desde Março, em conjunto com outro casal, estamos a fazer uma incursão numa Pastoral que oferecerá cinco encontros para noivos em 2020. Estes encontros são destinados a casais de 20 anos de idade ou mais, noivos há mais de 6 meses, e não é o curso pré-matrimonial.
O curso pré-matrimonial funciona bastante bem em geral, mas não é uma actividade pastoral das paróquias, é uma tarefa levada a cabo pela Arquidiocese, que se encarrega de preparar os Guias dos casais, aproveitando principalmente os Movimentos.
Quais são as reacções dos noivos ou dos jovens casais a estar com um casal ou casais na Pastoral pré-matrimonial?
Nós ainda não temos experiência nesta área. Mas, o que nós, como casal, vivemos, já há 25 anos, foi uma experiência muito agradável e aprendemos muito com o nosso Casal Guia, coisas que recordamos e colocamos em prática até hoje.
Na sua alocução à Rota Romana, o Santo Padre, a partir do exemplo do casamento de Priscilla e Áquila, diz que “os casais, que o Espírito certamente continua a encorajar, devem estar prontos “a sair de si mesmos e a abrir-se aos outros, a viver a proximidade, o estilo de viver juntos, que transforma cada relação inter-pessoal numa experiência de fraternidade”. Como é vivida essa atitude no trabalho apostólico que vocês fazem como casais?
Sentimo-nos entusiasmados e muito empenhados, pois esta experiência exige preparação, organização, estudo, criatividade e acima de tudo, responsabilidade.
Estamos conscientes de que, ao assumirmos uma tarefa apostólica de acompanhamento de outros casais e de outros irmãos e irmãs em geral, devemos ser coerentes com o estilo de vida que projectamos, de modo a não prejudicar as expectativas ou a confiança que eles depositam na Igreja e em nós, tudo isto implica sempre um grande desafio, e faz-nos crescer.
É uma grande alegria darmo-nos em cada encontro porque podemos partilhar as nossas experiências de vida com outros casais e, ao mesmo tempo, aprender com eles.
A confiança e a consagração ao Espírito Santo guiam-nos para que os encontros sejam uma experiência especial.
“A Igreja é enviada a levar o Evangelho para as ruas e para alcançar as periferias humanas e existenciais. Faz-nos lembrar o casamento de Aquila e Priscilla”, diz Francisco aos Bispos e pastores. Pela vossa experiência, porque é que os casais podem levar o Evangelho para as ruas melhor do que os outros e como o fazem? Porque é que chegam melhor às periferias humanas?
Acreditamos que o casal tem melhor empatia porque reflecte a imagem de mãe e do pai que a maioria das pessoas tem ou teve e apoia o exemplo da família tradicional.
O casal é mais “humanizado” pela convivência diária e pela educação dos filhos, pelo trabalho diário que nos faz estar em contacto com o mundo, dando-nos a referência da nossa sociedade.
Um casal que se compromete com uma tarefa apostólica deve tomar o pulso às pessoas ou às comunidades que servem, para transmitir a fé na sua própria linguagem, para a tornar credível e, acima de tudo, alcançável.
Casais em movimento “é o que nossas paróquias precisariam, especialmente em áreas urbanas, onde o pároco e os seus colaboradores clericais nunca terão tempo ou força para chegar aos fiéis que, embora se declarem cristãos, não frequentam os sacramentos e estão privados, ou quase privados, do conhecimento de Cristo”, diz Francisco. Quais são as experiências que vocês têm nesta área?
Concordamos definitivamente que os párocos não podem chegar pessoalmente a toda a paróquia. Por isso, é muito importante que os sacerdotes aprendam a delegar tarefas para se chegar a toda a comunidade.
A Pastoral Familiar da nossa paróquia está bem organizada, atribuindo funções e tarefas aos seus membros, em tarefas apostólicas, caritativas e administrativas. Cada um é preparado e formado para cumprir o seu serviço e assim se forma um grupo no qual todos se sentem confortáveis e satisfeitos, onde se encontram exemplos e a diversidade que só uma paróquia pode dar.
Na nossa paróquia, o pároco delega e confia as tarefas e isso faz que os casais estejam em movimento.
Desfrutamos da confiança e amizade com o pároco e tentamos acompanhá-lo o mais possível.
Que outro aspecto do discurso vos faz pensar no vosso trabalho, em modo de confirmação ou exigência?
Acreditamos que as paróquias devem oferecer mais serviços e de forma permanente, e para isso é necessário incorporar constantemente mais casais nas tarefas pastorais. Portanto, há necessidade de um “plano de marketing” que encoraje e atraia casais.
Pela nossa experiência, acreditamos que as pessoas querem trabalhar nas suas paróquias, mas pensa-se que os colaboradores são um “clã” do pároco onde é muito difícil entrar.
O movimento gera mais movimento e isso dá muita vida, alegria e muitos frutos.
A entrevista foi feita pelo Pe. José María García
Original: espanhol (29/2/2020). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal