Posted On 2020-02-08 In leigos e família

A Igreja é enviada a levar o Evangelho para as ruas e a chegar às periferias humanas e existenciais

Entrevista a Belen Pérez-Alemany e a Cayetano Soler, encarregados do «Fortalecimento Matrimonial” em Espanha •

O Papa Francisco tem o dom da liberdade quando fala a um grupo concreto. Não só se deixa comover e inspirar pelo clima que reina e deixa os discursos preparados para falar espontaneamente; sabe também aproveitar cada audiência e cada ocasião para comunicar a sua mensagem aos presentes e (por vezes ainda mais) aos não presentes… Foi assim no seu discurso por ocasião da inauguração do Ano Judicial do Tribunal da Rota Romana, quando falou sobre o papel dos casais nas paróquias e no serviço às famílias. —

 

Agradecemos ao Pe. José María García, à Paz Leiva e ao Miguel Angel Rubio a ideia de realizarem uma entrevista a um casal da equipa “Fortalecimento do Casamento” em Espanha sobre o tema abordado por Francisco.

Fortalecimento Matrimonial é uma oficina de fim-de-semana na qual, com a Pedagogia de Schoenstatt, e através de diferentes dinâmicas e momentos, marido e mulher se reencontram; e o casal se encontra com Deus, aprofundando, valorizando e fortalecendo a sua relação matrimonial.       

                                                                                                                                                                  

Mais uma vez o Papa Francisco (no seu discurso à Rota Romana) sublinha a importância do “trabalho pastoral do catecumenado pré e pós-matrimonial”. Além disso, exige que faz falta que casais se encarreguem desta Pastoral. Qual é a vossa experiência? A responsabilidade dos casais pela Pastoral de Noivos é algo habitual no vosso ambiente, ou uma coisa única ou exótica?        

No nosso ambiente, vemos isso como algo natural. Temos casais próximos, comprometidos com a tarefa de acompanhar e preparar os noivos. Também fazemos parte de um projecto que está mais no “pós”, porque se dirige a casais com um percurso já no tempo que, procuram fortalecer a união entre eles e com Deus. Nalguns contextos em que estamos activos, no Movimento do qual fazemos parte, na paróquia onde vamos à Missa… há uma oferta dirigida tanto aos noivos como aos casados.

Quais são as reacções dos noivos ou dos jovens casais ao estarem com um casal ou casais na Pastoral pré-matrimonial?

Nos contextos de que falámos anteriormente, aqueles que conhecemos em primeira mão, sentem-se acompanhados e, portanto, escutados, compreendidos, cuidados. Alguns têm dúvidas, preocupações, inseguranças… que obtêm resposta através da experiência partilhada por casais com mais experiência

Mas a nível geral, a preparação para o casamento que se faz em algumas paróquias, muitos jovens noivos vivem-no como uma coisa aborrecida, imposta, não lhe vislumbram sentido e vivem-no como um mero trâmite.

Tem muito a ver com a vivência de fé que estes jovens têm quando começam esta preparação, se esta vivência é dada ou não, a experiência na sua família, no seu ambiente… Como podemos falar a um jovem casal de noivos sobre ter Deus presente no seu casamento, se eles não O têm presente na sua vida, no seu dia a dia, se eles não conhecem Deus?

Tem também a ver com o casal guia: são próximos? acolhem? ouvem? respeitam? ajudam? importam-se?… Ou pelo contrário, os jovens vêem neles um modelo de casamento distante, diferente, desligado da realidade, demasiado idealista, ou demasiado paternalista, ou “estranho”…

No seu discurso à Rota Romana, o Santo Padre, a partir do exemplo do casamento de Priscilla e Áquila, diz que “os casais, que o Espírito certamente continua a encorajar, devem estar prontos “a sair de si próprios e a abrir-se aos outros, a viverem a proximidade, o estilo de viver juntos, que transforma cada relação inter-pessoal numa experiência de fraternidade“. Como esta atitude é vivida no trabalho apostólico que vocês fazem como casais?

Em muitos casamentos, a acentuação existe, assim como a atitude que leva e empurra para “sair”, mas às vezes há “travões”: medos, inseguranças, comparações, a sensação de não “estar à altura”… Outras vezes este travão provém do conforto, da preguiça, da negação do compromisso, do esforço… A realidade vital destes casamentos, o seu verdadeiro momento de vida, os fardos da família, do trabalho, da saúde… também lhes colocam o travão.

Outro grande travão é uma certa “surdez”: a falta de sensibilidade à realidade que nos rodeia, não ouvir o que se passa à nossa volta, não estar atentos aos sinais do ambiente, não escutar as necessidades dos outros… E finalmente, um travão muito grande, por vezes difícil de detectar, é a falta de conhecimento desta acentuação. Não saber que se é útil, não conhecer o talento que se pode dar, não conhecer esse timbre próprio, não o ter descoberto em si próprio…

“A Igreja é enviada para levar o Evangelho para as ruas e a alcançar as periferias humanas e existenciais. Faz-nos lembrar o casamento de Áquila e Priscilla”, diz Francisco aos bispos e pastores. Da vossa experiência: Porquê e como podem os casais levar o Evangelho para as ruas melhor do que os outros? Porquê e como chegam melhor às periferias humanas?

É muito em relação à resposta anterior: a sua realidade, as suas circunstâncias pessoais e vitais, a sua sensibilidade às necessidades, o seu conhecimento de como ser um instrumento, a sua auto-confiança…

Neste sentido, é necessário identificar estes casais, encorajá-los, acompanhá-los, ajudá-los a conhecerem-se a si próprios e a descobrirem em si mesmos esta capacidade de serem testemunhas, despertando esta atitude de dar. É vital que os casais desempenhem um papel de liderança para ajudar outros casais a tornarem-se líderes através da experiência, testemunho, formação e encorajamento.

Um casal pode chegar à periferia se descobrir que é capaz, se souber ouvir, se tiver uma atitude de entrega, se for próximo, acolhedor, se não julgar, se respeitar, se for formado. Também se, se sentirem acompanhados, encorajados, se não estiverem sozinhos, se sentirem que fazem parte de uma equipa que une as suas forças.

Casais em movimento “é o que as nossas paróquias precisariam, especialmente nas zonas urbanas, onde o pároco e os seus colaboradores clericais nunca terão tempo ou força para chegar aos fiéis que, embora se declarem cristãos, não frequentam os sacramentos e estão privados, ou quase privados, do conhecimento de Cristo”, diz Francisco. Quais são as experiências que têm nesta área?

Há um desejo de respostas, de caminhar juntos, apoiados, de fazer parte, de crescer em santidade… mas tem que haver harmonia, trabalho em equipa, sinergias… entre a paróquia, o pároco, e os casais que ajudam. Trata-se de trabalhar para a Igreja. O pároco deve permitir a ajuda, e os casais devem colocar-se à sua disposição. É necessário remar juntos com a mesma dedicação.

Que outro aspecto do discurso vos faz pensar no vosso trabalho, em modo de confirmação ou de exigência?

Há duas frases que nos “tocaram” especialmente. Uma delas é: “No momento em que o missionário chega a um lugar, o Espírito Santo já lá está à sua espera. A outra é: “A Igreja não cresce pelo proselitismo, mas pela atracção”.

Há respostas que não são fáceis de encontrar na sociedade de hoje. É aí que as paróquias entram como um espaço acolhedor, os “casais em movimento” como testemunha de vida e o Espírito Santo como fiador.

 

Foto: iStock Getty Images, CreativaImages, ID 494762352. Licensed for schoenstatt.org

Original: espanhol (2/2/2020). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

A nossa presença que acompanha, activa e discreta, é fundamental onde quer que estejamos

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