Posted On 2016-02-26 In Francisco - iniciativos e gestos, Francisco - Mensagem

“Para celebrar o jubileu da misericórdia convosco”: momentos da viagem de Francisco ao México

FRANCISCO NO MÉXICO, por Gabriela de la Garza Maldonado e María Fischer •

Último dia da viagem do Papa Francisco ao México e, uma vez mais, à periferia: à prisão, e depois à fronteira que, ano após ano, cruzam milhares de migrantes em busca de um futuro melhor. “Estou a concluir a minha visita ao México, não queria ir embora sem vir saudá-los, sem celebrar o Jubileu da Misericórdia convosco.” Há que saborear esta frase. O Papa foi a esta prisão não para uma simples visita, foi para celebrar o jubileu da misericórdia com os presos. Toca neles a carne de Cristo, abre-se a porta da misericórdia.

“Na viagem a África, na cidade de Bangui, pude abrir a primeira porta da misericórdia para o mundo inteiro, deste Jubileu, porque a primeira porta da misericórdia abriu-a o nosso Deus Pai com o seu Filho Jesus…” A porta da misericórdia, sinal visível da misericórdia do Pai que recebe a quem se abre ao amor de Deus que perdoa. E a outra face da mesma medalha, as obras da misericórdia, que tornam credível a boa nova a todo o homem de boa vontade, neste Jubileu, porque a obra maior de misericórdia foi feita por Deus Pai com o seu Filho Jesus.

Na sua visita ao Centro de Readaptação Social (CERESO) número 3 na cidade Juárez, considerada uma das cidades mais violentas do mundo, Francisco disse que o delito não se resolve só prendendo gente. Depois, as centenas de presos tiveram o privilégio de escutar um resumo mais conciso do que significa para Francisco uma Igreja e uma sociedade de misericórdia: “A preocupação de Jesus em atender os famintos, os que tinham sede, os sem-abrigo os presos (Mt 25,34-40) era para expressar as entranhas da misericórdia do Pai, que se torna um imperativo moral para toda a sociedade que deseja ter as condições necessárias para uma melhor convivência. Na capacidade que tenha uma sociedade de incluir os seus pobres, os seus doentes ou os seus presos, está a possibilidade de que eles possam sarar as suas feridas e ser construtores de uma boa convivência”.

Misericórdia e delicadeza paternal: um jovem preso ofereceu-lhe um báculo feito por ele, maravilhosamente talhado em madeira. O Papa levou-o para a Sta. Missa final ao despedir-se do México em Juárez.

Ao escutá-lo, muitas lágrimas entre os presos, nas celebrações eucarísticas, na despedida no aeroporto… Um pai misericordioso que tocou os corações de todos.

“Amorterapia”, “escutaterapia”

Os abraços e bênçãos pessoais a setenta presos escolhidos pela sua boa conduta (mulheres e homens) foram uma celebração em palavras, em gestos de misericórdia. Estiveram na linha dos dois neologismos criados por Francisco nesta viagem: falou de “amorterapia” na sua visita a um hospital pediátrico, onde abraçou, escutou, acariciou, e parecia que queria ficar mais tempo. Aos jovens em Morelia pediu-lhes para encontrarem o pobre como amigo, e curá-lo com “escutaterapia”: “E se há um amigo ou uma amiga que teve um deslize na vida e caiu, vai e oferece-lhe a mão, mas oferece-lha com dignidade. Põe-te ao lado dele, ao lado dela, escuta-o, não lhe digas: «Trago-te a receita». Não, como amigo, devagar, dá-lhe força com as tuas palavras, dá-lhe força com a escuta, essa medicina que se vai esquecendo: a «escutaterapia». Deixa-o falar, deixa que te conte, e então, pouco a pouco, ele vai-te estendendo a mão, e vais ajudá-lo em nome de Jesus Cristo. Mas se vais de repente e começas a pregar, e a falar a falar, pois pobrezinho, vais deixá-lo pior do que estava”.

Conhece a realidade

Houve Santas Missas com muita gente nestes dias no México, felicidade, entusiasmo, jubileu, cantos, danças, muita alegria, cartazes, bandeiras, correntes de peregrinos, abraços, lágrimas… Mas em todo o momento esteve presente a realidade: a realidade de prisões e hospitais, de migrantes que perdem a vida na fronteira, a realidade da violência (mais de trinta pessoas assassinadas no México durante a visita do Papa), narcotráfico, corrupção, a realidade dos indígenas… Ao ir às periferias existenciais deste bonito país, o Papa Francisco mostrou o caminho para transformar estas realidades cruéis em portas da misericórdia: tocando nos pobres a carne de Cristo.

“Em alguns momentos fiquei comovida pelas nossas debilidades”, comenta Blanch Ramírez.

Ressoam, como resposta, as palavras no Angelus em Ecatepec:

“Quero convidá-los hoje a estar na primeira linha, ‘primeirear’ em todas as iniciativas que ajudem a fazer desta bendita terra mexicana uma terra de oportunidades. Onde não haja necessidade de emigrar para sonhar; onde não haja necessidade de ser explorado para trabalhar; onde não haja necessidade de fazer do desespero e da pobreza de muitos, o oportunismo de alguns.

Uma terra que não tenha que chorar a homem e mulheres, a jovens e crianças que acabam destruídos nas mãos dos traficantes da morte.

Esta terra tem sabor a Guadalupana, a que sempre é Mãe e se adiantou no amor, e digamos-lhe com o nosso coração:

Virgem Santa, «ajuda-nos a resplandecer no testemunho da comunhão, do serviço, da fé ardente e generosa, da justiça e do amor aos pobres, para que a alegria do Evangelho chegue até aos confins da terra e nenhuma periferia se prive da sua luz»” (Evangelii gaudium, 288).

“Escrevo emocionada enquanto vejo pela televisão a despedida do Papa antes de partir para Roma,” escreve Gabriela de la Garza Maldonado. “Estes dias foram uma grande bênção, cheios de ensinamentos e tarefas para fazer.”

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Original: espanhol. Tradução: Maria de Lurdes Dias, Lisboa, Portugal

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