Posted On 2017-09-22 In Dilexit ecclesiam, Schoenstatteanos

A Mater demonstrou-me que nunca cairei tão baixo que os seus braços não possam segurar-me

Entrevista a Darío Ramírez, venezuelano, refugiado político no Panamá •

Darío Ramírez, um jovem legislador venezuelano, surpreendeu o Papa Francisco e a sua namorada, ao pedi-la em casamento no Domingo 27 de Agosto, na Sala Clementina do Vaticano. O pedido aconteceu durante uma Audiência privada concedida pelo Santo Padre a 80 delegados de diversos países que, participavam na Reunião anual da International Catholic Legislators Network (ICLN – Rede Internacional de Legisladores Católicos), em Roma. Grande foi a surpresa ao ver na mão do jovem venezuelano uma Imagem da Mãe Três Vezes Admirável de Schoenstatt. Há uns instrumentos por detrás de uma história impressionante: o Pe. José Luis Correa foi quem vinculou a redação de schoenstatt.org com os protagonistas; Fer Castro, uma jovem da Costa Rica quem semeou as sementes de Schoenstatt no coração de Darío, a sua namorada e muitos jovens mais; e o Pe. Rómulo Aguilar, o Pároco da Paróquia onde o jovem refugiado venezuelano hoje vive – que nos anos 90 conheceu Schoenstatt através do Pe. Esteban Uriburo e Monina Crivelli –  fez o compromisso de missionário da Campanha da Mãe Peregrina e manteve erguida a bandeira de Schoenstatt no Panamá durante anos quase sem nenhum contacto…

Darío Ramírez resume a sua experiência em poucas palavras. “Agora começa a construção de um casamento santo. A Mater foi a desenhadora de tudo isto, nas Suas mãos pus tudo e ofereci muito Capital de Graças e, Ela superou-Se em dons para nós. Estes últimos três anos de vida foram a maior experiência de Fé Prática. Quando, há 3 anos, senti a minha vida perdida, só Deus e a Mater puderam demonstrar-me que nunca cairei tão baixo que os Seus braços não possam segurar-me”.

No Domingo 3 de Setembro entrevistámos o Darío e, pedimos-lhe, a ele e à sua noiva, uma mensagem para os jovens que estão a preparar o casamento.

 

 

Ao lado direito do Santo Padre vê-se o Pe. Simon Donnelly, sacerdote schoenstatteano na Secretaria de Estado

Muitíssimas pessoas se alegraram com o pedido de casamento que fez à sua namorada na presença do Papa Francisco e, várias, das mais de 300.000 que já viram o vídeo deram-se conta que você segurava na mão uma Imagem da Mater. Como chegou até ao Papa com a sua namorada e o que o motivou a fazer-lhe o pedido assim?

Eu sou refugiado político no Panamá. Fui eleito vereador no Município Sucre de Caracas, a capital da Venezuela em Dezembro de 2013. Em Fevereiro de 2014, pouquíssimo tempo depois de ser eleito, começou uma perseguição muito forte contra mim que, me levou em Maio desse ano a ter que sair da Venezuela, basicamente escondido num carro, pela fronteira com a Colômbia e, desde então estou no exílio. Não posso voltar para a Venezuela porque tenho uma ordem de captura. Por esse mesmo perfil político, há dois anos, convidaram-me para fazer parte da International Catholic Legislators Network. A ICLN reúne-se uma vez por ano em Frascati e tem uma Audiência privada com o Papa todos os anos. Em 2015 tive a oportunidade de vir à primeira reunião e, foi de verdade uma experiência maravilhosa, poder conhecer Francisco. Falei sobre a Venezuela e, além disso, pude ver que, o que ali disse, teve a sua repercussão.

Em 2016 não pude vir porque só tinha passaporte venezuelano que caducou e, eu não posso ir à Embaixada da Venezuela porque me prendem. Naquela altura, não pude viajar, para lado nenhum durante ano e meio. Iniciei uma luta para ter passaporte de refugiado que, é um direito humano mas que, no Panamá ainda não estava legislado. Há 4 meses essa luta mudou por completo e deram-me um passaporte panamiano. Assim, pude viajar e convidei a Maryangel para que viesse comigo a Roma.

Namoramos há quase dois anos e, há uns seis meses comecei a pensar na possibilidade de lhe pedir que casasse comigo. Não tinha passaporte, não podia vir ao Papa mas, comecei a rezar muito. Era uma decisão muito importante na minha vida e decidi rezar e pedir a Deus que, como eu desejava muito casar-me com a Maryangel na Igreja e, o que nos uniu foi a Igreja e Deus, queria fazê-lo no Vaticano, na presença do Papa. Nesse momento era algo quase impossível.

As coisas começaram a suceder-se: aconteceu o assunto do passaporte e a seguir uns amigos ajudaram-me economicamente a conseguir o dinheiro. Já em Roma, pedi ajuda a um companheiro da Argentina. Disse-lhe o que ia fazer, pedi-lhe por favor que, me fizesse um vídeo e conseguimos concretizar esta surpresa para ela. Foi muito lindo na verdade e, como me disse um amigo depois, quando se põe os talentos ao serviço de Deus, nada é impossível.

 

Como conheceu Schoenstatt e o que mais o atrai?

Creio que, a partir do momento em que comecei a pensar em pedir a Maryangel em casamento, apareceu a Mater. Numa palestra que a Fer Castro proferiu, uma rapariga da Juventude Feminina de Schoenstatt da Costa Rica que, foi ao Panamá. Aí, desde há um ano e alguns meses, tenho um grupo de teatro de adolescentes que, revolucionou a história da Paróquia e que a encheu de jovens. Começámos com oito jovens e, já somos mais de 40. O Pe. Rómulo, o nosso Pároco que, além disso, é o coordenador, é Assessor de Schoenstatt no Panamá e o coordenador da JMJ 2019 (Jornada Mundial da Juventude) pediu-me que, convidasse para essa palestra a Senhora Carmen que, pertence ao Instituto das Senhoras de Schoenstatt, também me disse “por favor, quero que vás com os jovens”. Tínhamos acabado de terminar as representações de“A Paixão”, obra sobre a Paixão de Cristo.

Foi uma encenação muito grande, a primeira em grande formato, com um palco imenso que, rodava 360 graus. Vieram patrocinadores de muitos lugares e a cenografia era imponente. Estava toda a gente muito atenta aos jovens e, já estávamos a planear a nossa próxima obra. Já tinha decidido que, a representação seguinte seria para Nossa Senhora. Mas, não sabíamos sob que invocação mas, ia ser para Nossa Senhora. Então, pediram-nos que fôssemos falar com Schoenstatt. E, Fer proferiu uma palestra muito bonita que, nos emocionou e, nos pareceu muito linda. Chamou-nos a atenção que, Nossa Senhora não lhes tinha aparecido mas que, tinham decidido segui-l’A. O que mais me encanta é poder ver Nossa Senhora como mestra e compreender, evidentemente, que Ela educou Jesus: que melhor mestra pode haver senão quem educou Jesus, quem ensinou Jesus a amar, a perdoar, a caminhar. De certeza, Ela ouviu chorar Jesus em criança ou alguma birra na adolescência e com paciência foi-O formando, polindo-O, querendo-O tanto nesse caminho e, lembrando-Lhe que Ele era o Filho de Deus, porque Jesus, na Sua parte humana, provavelmente, passou por muitas dificuldades. Na Bíblia encontramos um ou dois momentos da Sua adolescência mas, sabemos que Maria esteve, sempre, disponível para Ele. Creio que, isso é o que mais gosto de Schoenstatt: poder entender que Maria é a mestra perfeita.

 

Com a Imagem da MTA

Você é o guionista da peça de teatro “Um lugar formoso”, cujo tema é a santidade da Vida Diária e, na sua conta de Instagram lê-se que escolheram a Mater como Padroeira do grupo de teatro. Como chegaram a fazer esta peça e como foi a sua evolução?

Justamente, a seguir a essa palestra que nos proferiu a Fer, cheguei a casa e estava muito entusiasmado. “ Esta Nossa Senhora é uma beleza”, disse à Maryangel. Ela tinha estado comigo na palestra e fiz-lhe este comentário: “Acho que vamos fazer alguma coisa sobre isto na próxima peça”. E, como os jovens são muitos, com uma única peça não iriamos ter papeis para todos. Então, tomei a decisão de fazer duas peças: uma sobre Nossa Senhora de Fátima e outra sobre Schoenstatt.

Encarreguei a da Nossa Senhora de Fátima a uma das raparigas do grupo que se chama Laura e tem 17 anos, visto que, ela tinha sido minha assistente de direcção durante A Paixão. E, disse-lhe: “Laura, cabe-te a ti escrever e dirigir a tua própria peça”. Ela escreveu Fátima, dirigiu-a e, fê-lo muito bem. A seguir, eu decidi fazer uma peça sobre Nossa Senhora de Schoenstatt. Comuniquei-o à Fer que se emocionou muito, disse-o à Senhora Carmen e ao Pe. Rómulo. Foi muito emocionante, sobretudo, porque precisávamos que houvesse alguma coisa que começasse a chamar a atenção, visto que, a nossa Paróquia é o lugar que vai albergar todos os jovens de Schoenstatt do mundo que vão para a JMJ. E, pareceu-me uma boa motivação. Mas, não queria fazer uma peça qualquer, não queria voltar a fazer a história da fundação de Schoenstatt mas, queria transportá-lo para o que vivemos hoje.

Queria expressar a minha experiência prática do trabalho com jovens nos últimos dez anos da minha vida. E, assim, surgiu esta obra chamada “Um lindo lugar ”, que é sobre a história de seis adolescentes que levam uma vida normal que, pertencem a um grupo da Igreja e, como lidam com os seus problemas. O argumento baseia-se na metodologia de Schoenstatt. É a história de um jovem Padre que vive no interior do país e que chega a uma Paróquia da capital. Encarregam-no de ser guia espiritual dos jovens. Mas, só há dois jovens na igreja que são do grupo juvenil. Então, ele propõe-se motivar mais jovens. O Padre consegue que entrem mais quatro mas, gera-se um caos total: há alguns que são muito assíduos à igreja que sentem que estas mudanças não são boas, temos também o típico rapaz que faz bullying mas que, na realidade, tem um vazio dentro de si. Assim, vamos vendo como o Padre Kentenich que, aparece ao jovem Padre em três ocasiões, o vai guiando, o vai ensinando, lhe vai lembrando, porque o jovem Padre cai em muitas dúvidas, sente que não está a fazer as coisas bem. Também vemos como a Mater Se instala na vida de todos eles e, como os vai presenteando com muitos dons: da amizade, do amor a Jesus, do amor a Maria e como as suas vidas se encaminham.

Acho que, a coisa mais bonita que ficou da peça, para além da obra em si, são as consequências nos jovens: uma das raparigas, a protagonista, está a promover o grupo da Juventude Feminina de Schoenstatt no Panamá. E, o rapaz que interpretou o jovem Padre, está a promover o grupo da Juventude Masculina de Schoenstatt no Panamá. Muitas das raparigas estão animadas a formar grupos femininos e, agora, os rapazes estão muito entusiasmados a formar grupos masculinos, assim que, acho que, isto é o mais bonito.

E, já chegou o convite para que representem a obra na Costa Rica e também a querem levar ao Chile. É muito lindo porque, eles estão a ver como Deus, como a Mater os enche de dons quando eles entregam tanto Capital de Graças.

O facto que, agora, a nossa Padroeira seja Nossa Senhora de Schoenstatt e que o nosso grupo de teatro é schoenstatteano, levou-me a dizer à Fer: a sementinha que foi semear ao Panamá cresceu e transformou-se numa grande árvore pois, fez um excelente trabalho e, já se pode ver quanto cresceu Schoenstatt no Panamá.

O Papa anima a noiva a dizer-lhe que sim…

Como foi a sua experiência pessoal de fé nestes últimos anos, desde que, teve que deixar o seu país, Venezuela, e teve que viver no Panamá?

Tratarei de responder de forma breve, porque, de facto, esta é uma das minhas catequeses sobre como confiar em Deus. Hoje em dia, aprendi, graças a José Kentenich o que é a Fé Prática: perceber que não se cai mais abaixo do que os braços de Deus. Eu, na Venezuela, de jovem sonhava ser político para poder ajudar muitas pessoas, poder transformar e mudar para melhor. E, consegui-o muito jovem, aos 27 anos fui o Vereador mais novo, da história do meu Município, a ser eleito. Nesse momento, mais de 80 pessoas trabalhavam comigo. Tinha carro, tinha moto, escolta; as pessoas diziam que eu ia ser Presidente de Câmara dentro de pouco tempo. Estava no apogeu. E, eu cometia uma parvoíce ao dizer, sempre, que Graças a Deus tinha conseguido tudo o que queria que, era muito feliz e que estava no lugar em que precisava de estar. Que era como os jogadores de futebol: ganhava o meu ordenado fazendo o que gosto de fazer e que já estava bem.

E um dia Deus demonstrou-me que os meus planos não são meus, são d’Ele e aconteceu-me isto: da noite para o dia passei de ter tudo a não ter nada, a estar escondido na traseira de um carro, com um saco contendo nada mais que uma muda de roupa, com o pouco dinheiro que tinha guardado, escondido nas solas dos meus sapatos e fugindo, fugindo, sem nada… Foi muito duro, muito duro, porque para além de, em pouco tempo ter perdido tudo isto, uma ex-noiva terminou comigo no dia do meu aniversário. Foram dias muito difíceis, em que senti que não valia a pena continuar a viver que, não podia continuar. Na verdade, numa noite, pela minha cabeça passou a ideia de me suicidar e estive parado em frente ao varandim da varanda e quando estava quase a atirar-me para a frente, caí para trás. Não caí no vazio mas, na própria varanda. Chorei muito tempo e sentia como Nossa Senhora me acariciava, senti que estava no colo de Nossa Senhora e Ela acariciava-me e dizia-me que estivesse tranquilo. (Eu, desde pequeno, sempre fui uma pessoa muito mariana. Na verdade, o meu primeiro cargo por eleição popular foi ser tesoureiro da Legião de Maria infantil aos 8 anos). No dia em que sofri essa tentação fui para a rua andar e andei e andei, andei e andei pela cidade toda. Naquele momento estavam a estrear um documentário sobre Nossa Senhora no Panamá e tudo o que havia no caminho eram posters desse filme de Nossa Senhora. Nesse momento, senti como se Ela me dissesse: Vou estar sempre aqui.

No dia seguinte, decidi ir à Paróquia que estava perto de casa e oferecer os meus serviços que, eu trabalhava com adolescentes e no que pudesse ajudar… e eles integraram-me no grupo de Catequese do Crisma. Tornei-me catequista. Mais adiante, uma amiga que é evangélica ofereceu-me um livro que se chama “Seis horas de uma sexta-feira” e são as seis horas da Paixão de Cristo. Nesse livro falam sobre um santo que marcou a minha vida: S. Maximiliano Kolbe. Ele era um sacerdote que esteve num Campo de Concentração e que se ofereceu para morrer, sacrificou-se por outro homem que era um pai de família. E, eu não sei porquê essa história comoveu-me muitíssimo.

Na altura em que fugi para a Colômbia, estive em casa de uma prima e perguntei-lhe onde ficava a Igreja mais próxima e disse-me, “a um quarteirão”. Fui à igreja e quando estava a rezar, de repente, vejo um quadro de uma pessoa, de um homem num Campo de Concentração. Pareceu-me curioso e quando saí da igreja para a ver por fora, dizia Paróquia S. Maximiliano Kolbe e eu disse uau! OK! Acho que estou no lugar em que devo estar.

E, depois de quase um ano frequentando a catequese, calhava-me dar a minha primeira catequese e, foi justamente sobre isto: sobre as decisões de Deus. Contei-lhes que S. Maximiliano Kolbe foi este guia que Deus me foi dando. Quando terminou a Catequese, uma das catequistas diz-me: Hoje é o dia de S. Maximiliano Kolbe. Eu fui sentindo através da Igreja, como Deus me foi dizendo: Aqui estou contigo, não te deixo, estás onde tens que estar.

Há 13 anos pensei que tinha perdido absolutamente tudo e, nunca em vida minha teria pensado que tudo isto se iria passar. Hoje pedi em casamento uma mulher linda que encheu a minha vida de felicidade que, foi a vivência de Deus e da Mater na minha vida e fi-lo na presença do Papa. Há três anos atrás, eu não tinha nem ideia do que Deus me tinha preparado. Confiar nele nos momentos mais difíceis foi o mais duro mas, confiar trouxe-me uma recompensa enorme. Não eram os meus planos, eram os d’Ele e, os Seus planos são muitíssimo, muitíssimo melhores que os meus. 

 

Vídeo: Como Darío fez os aneis

Que mensagem tem para os jovens a caminho do casamento?

Que se entreguem, realmente, a Deus. O casamento nasce da Igreja e de Deus. Dizerem a Deus: “Nós amamos em Teu nome”. O noivado não é fácil. Para começar, pensa-se que é tudo “cor-de-rosa”, tudo lindo mas, o noivado é aquilo que nos prepara para o casamento, para se poder tomar essa decisão. Eu diria que entreguem as suas decisões a Deus. Eu comecei com a minha sementinha: será que me quero casar? E, depois de ter tido muitos desencontros amorosos eu via cada vez mais impossível a possibilidade de me casar. Eu amo muitíssimo a Maryangel mas, também sei que, viver toda uma vida juntos, traz consigo muitos desafios, muitas dificuldades. Nesta mesmíssima viagem que, os dois temos estado a fazer, danificaram-se os dois cartões de crédito, o dela e o meu e ficámos sem dinheiro. Isso, aconteceu-nos ontem de manhã e a tensão era muita: acabámos numa discussão forte porque, os dois sem dinheiro, preocupados, etc.

E, em seguida poder respirar, sentarmo-nos e dizer: Ah! Atenção, isto é o plano de Deus, façamos o que nos cabe e Deus vai fazendo o que Lhe cabe a Ele. Tu e eu vamos amar-nos, não mudemos a nossa atitude, não mudemos a motivação pela qual viemos fazer esta viagem, não mudemos o nosso amor a Deus. Nem sequer duvidemos d’Ele, nem reclamemos de nada, façamos o que nos cabe. E, em questão de horas tudo se resolveu rapidamente. Eu, com calma, pude pensar numa solução. Que me mandassem uma ajuda do Panamá. Fomos visitar uma amiga e, sem lhe contar, praticamente, nada, ofereceu-nos 50 euros. Então, quando se entregam as decisões a Deus e à Mater não há como as coisas saírem mal.

E, numa relação, poder confiar em que nem tudo é o amor que se sente um pelo outro mas que, o mais importante é que Deus seja o amor de tudo e o centro de tudo. Eu fiz o anel com que pedi, em casamento, a Maryangel. Fi-lo com as minhas mãos a partir do zero. E o anel, são dois peixinhos cristãos, católicos que se encontram, entre si, no diamante. E, justamente, é por isso: eu quero que a nossa relação seja forte mas, porque Deus é centro de tudo isto e, que não nos podemos amar eu e tu, mais do que amamos a Deus. Nem eu vou ser o centro da tua vida, nem tu vais ser o centro da minha mas, vai ser Deus e, nesse centro, vamos encontrarmo-nos um ao outro e aí temos o nosso amor.

O que eu recomendaria aos casaizinhos novos é que mantenham Deus como o seu centro. Pode parecer palerma, de fazer rir mas, eu vi como jovens de 17, 16 e 15 anos que vão a festas, que fazem o que fazem os adolescentes normais, hoje em dia, veem Deus como o seu centro e, eu não pensei que isso fosse possível. Mais de 40 jovens se aproximaram da Igreja, que não o teriam feito de nenhuma outra maneira. Sim, há maneira de poder ter Deus perto de ti, de poder levá-l’O pela mão e, quando se está com Deus, tudo sai bem. E, se uma relação se entrega a Deus, vai ser uma relação linda.

Maryangel:

Maryangel:

Uma das coisas mais importantes é pensar, sempre, o que faria Maria em cada situação. É uma das frases que mais gravada me ficou, não só para o casamento mas, com todas as tuas relações no dia-a-dia, com a tua família, no teu trabalho. É uma coisa que te mantém sempre feliz e motivado porque, eu imagino esse amor, essa dedicação de Maria. Sempre quando estou numa encruzilhada ou que tenho muita pressão ou que não sei o que fazer, acalmo-me, sento-me e ponho-me a pensar, a rezar e digo: “Bom, que faria Maria?” E, há sempre uma resposta maravilhosa para isso.

E, além disso, Maria constituiu com S. José, a Sagrada Família. Que melhor exemplo de pilar materno. Ela criou Jesus, teve um casamento santo e, é uma coisa maravilhosa esse amor, essa entrega, essa paciência, essa dedicação…Acho que deve ser o exemplo para todas as mães e para todas as esposas.

O primeiro Santuário que visitaram: Roma, Cor Ecclesiae
siae

No encontro no qual participou, o Papa Francisco pediu aos legisladores que construam uma sociedade mais humana e justa, com o amor de Cristo. É possível? Vale a pena meter-se, como cristão, como schoenstatteano, na política?

Eu diria que mais do que valer a pena, é necessário que os políticos sejam profundamente católicos e, que sejamos schoenstatteanos é muito melhor ainda, porque oferecemos a política como Capital de Graças. Então, os nossos países, as nossas cidades vão encher-se de dons. Eu acredito que é possível. Se não acreditasse que fosse possível, não estaria nisto. Meti-me na política porque estava cansado que as pessoas dissessem que a política é uma coisa má. Quando dou palestras de liderança, quando digo aos jovens que sou político, pergunto-lhes: “Quando vos digo político qual é a primeira coisa em que vocês pensam?” Toda a gente fala de corrupção, de ladrões, de maldade. Eu estava cansado de pensar que todos os que nos governam têm que ser pessoas más. Eu sou um convicto de que há muitos políticos bons mas, que os maus têm mais publicidade.

Além disso, Deus assim o quer e, nas missas sempre pedimos pelos nossos governantes. Então, quantos mais políticos tivermos que, trabalhem para Deus, melhor será. Deus criou a figura dos líderes com pessoas como Abraão, Moisés, como Noé a quem deu fortes responsabilidades. A liderança na política está rodeada de tentações, está rodeada do demónio, sim. Porque o poder faz, às vezes, envelhecer mais as pessoas, fá-las mais débeis e mais inseguras e precisam de cair em todas as tentações. Assim, enquanto mais se governa para Deus e com Deus maior, felicidade pode trazer-se às pessoas e ao povo de cada um. Assim que, não só vale a pena mas que, é sumamente necessário que possamos ter mais políticos porque, desse modo, vai ser um mundo mais real, mais humano, com mais tranquilidade, com uma paz maior e que seja mais próximo do que Deus quer para nós.

Há alguma frase da mensagem do Papa Francisco que transporta, pessoalmente, para a sua vida e o seu trabalho?

Pois, recentemente, há várias frases do Papa Francisco que trato de aplicar. A primeira, sobretudo na minha relação, é a que diz que “As relações não podem ir deitar-se com uma briga”. Se, se tem uma discussão com o seu par, não nos podemos ir deitar sem que essa discussão se tenha solucionado. A  Maryangel e eu tratamos de a aplicar muito. Mary e eu não vamos dormir se existe uma briga entre nós. Tratamos de nos sentar, de falar sobre isso e de o resolver. E, acredito que, essa tem sido a chave da nossa relação em todo este tempo e que nos ajudou a não termos brigas graves ou profundas. Se estamos muito magoados pelo que aconteceu, sentamo-nos, falamos sobre isso e, sempre acabamos a rezar. Isso, é parte do que nos faz muito felizes e vem da recomendação que nos faz o Papa Francisco.

No meu grupo de teatro há outra frase que lhes digo a toda a hora e é “Que os jovens façam bagunça”. Já a digo em todos os lugares porque como são tantos jovens que, fazem muito alvoroço. E, na igreja estão essas senhoras que são tão tradicionais e dizem: “Ai! Estes miúdos que estão por toda a parte aos gritos…” E, eu respondo-lhes “O Papa disse para os jovens fazerem bagunça. Nós estamos a fazer caso ao Papa”. Esta frase, levamo-la muito connosco. Acho que essas duas frases são as mais importantes.

 

Entrevista, transcrição e redacção: Tita Andras, Claudia Echenique, Maria Fischer

Original: espanhol (8/9/2017). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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