Mons. Dr. Michael Gerber, Fulda, Alemanha •
Estamos profundamente comovidos com as notícias que recebemos de hora a hora da Europa de Leste, especialmente da Ucrânia. A nossa solidariedade vai para aqueles directamente afectados pela guerra, para aqueles que perderam entes queridos, para os feridos, para os traumatizados, para aqueles que fogem e enfrentam as ruínas da sua existência. —
Graças aos nossos laços de amizade de longa data com a Igreja na Ucrânia, especialmente com a Diocese de Ivano-Frankivsk, estamos a receber descrições muito concretas dos dramas que estão actualmente a desenrolar-se no país. Muitas pessoas da Ucrânia que vivem aqui na Alemanha estão muito preocupadas com os seus familiares. O departamento “Igreja Universal”, sob a liderança do Bispo Auxiliar Diez, e a Cáritas da Diocese de Fulda já tomaram medidas para prestar uma ajuda eficaz no terreno.
Ao mesmo tempo, a nossa simpatia vai também para as pessoas na Rússia cujos familiares foram enviados para uma guerra sem sentido ou que trabalham pela paz e compreensão, à custa de grandes desvantagens pessoais.
Uma violação flagrante do Direito Internacional
Cabe aos cristãos viver em solidariedade com as pessoas que sofrem de ambos os lados da frente de batalha. A dignidade do ser humano aplica-se incondicionalmente, independentemente do povo a que se pertença. Todo o povo tem o direito de escolher livremente o seu governo e de decidir por si próprio as parcerias e alianças em que participa. Neste contexto, a invasão russa, o ataque à Ucrânia, constitui uma violação flagrante do direito internacional e contradiz profundamente os valores do cristianismo.
Na visão cristã da Humanidade, a liberdade está ligada à responsabilidade. Esta responsabilidade é especialmente evidente na forma como protegemos e promovemos a liberdade dos outros.
Tempos de mudança
A situação actual dá a impressão de que estamos num ponto de viragem. Que forças prevalecerão no nosso planeta a médio e longo prazo? Serão aquelas que, desinibidas, querem levar ao extremo o seu poder e, consequentemente, as suas ideias? Temos de analisar criticamente quais as forças políticas em que os países estão actualmente a mostrar compreensão pela invasão russa e de que forma. Por outro lado, será que as forças políticas que procuram uma solução através do diálogo, do respeito pela dignidade humana e pelas normas legais que dele podem derivar, poderão prevalecer?
De acordo com a convicção cristã, o poder é entendido como uma responsabilidade perante Deus e a Humanidade. Desta forma, oferece a oportunidade de moldar o futuro. Mas, mostra a sua verdadeira grandeza na auto-contenção dos poderosos, na disponibilidade em ter a sua própria posição criticamente questionada. É por isso que o discurso político e social é necessário, especialmente na dinâmica dos dias de hoje. O que é necessário é a procura constante de soluções alternativas que possam contribuir para a desescalada e a paz.
Decisões
Por conseguinte, acompanharemos em oração especialmente os nossos políticos, que têm de tomar decisões muito difíceis. Devido à complexidade, as consequências destas decisões não são de modo algum previsíveis em todos os aspectos. No entanto, têm de ser tomadas.
Como Humanidade, somos novamente desafiados no nosso compromisso para com a dignidade humana e a justiça. Ao mesmo tempo, podemos confiar que as nossas vidas e o caminho da Humanidade estão nas mãos d’Aquele que uma vez se revelou ao povo de Israel como o “Príncipe da Paz” e que em Jesus Cristo nos chama a realizá-la.
Fonte: www.bistum-fulda.de, comunicado de imprensa
Original: alemão (2/3/2022). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal