O PAPA FRANCISCO NA ÁFRICA AUSTRAL, Sarah-Leah Pimentel •
O Papa Francisco está a visitar a África Austral entre 4 e 10 de Setembro. Começou em Moçambique, onde celebrou a Missa no estádio Zimpeto, no Maputo, a abarrotar de gente. A seguir vai para Madagáscar e Ilhas Maurícias onde se reunirá com religiosos, líderes civis e fieis cristãos, especialmente com os jovens. —
Na sua Homilia de sexta-feira de manhã, 6 de Setembro, numa grande missa no Maputo, o Papa Francisco disse que o amor é o único caminho para uma paz duradoura. Ele falou a uma nação que ainda carrega as cicatrizes de uma guerra civil que grassou entre 1974 e 1992, e onde a paz muitas vezes se sente mais como “a ausência de guerra”.
Ama os teus inimigos
O Papa Francisco iniciou a Homilia chamando os fiéis a “amar os inimigos”. Disse que esta não é uma teoria abstracta, mas a experiência pessoal vivida por Jesus. Jesus escolheu os Seus discípulos no início de Seu ministério. Alguns destes discípulos mais tarde traíram-no e até o entregaram aos assassinos.
Falou da guerra civil dizendo que “muitos de vocês ainda podem contar em primeira mão histórias de violência, ódio e discórdia. O Pontífice destacou que, diante da onda de ataques armados na província de Cabo Delgado, muitas pessoas temem que “as feridas do passado se reabram” e que estas “apaguem os caminhos da paz já percorridos”.
Ele admitiu que “é difícil falar de reconciliação quando as feridas causadas durante tantos anos permanecem abertas”. Também disse que o perdão e a reconciliação “não implicam ignorar o sofrimento”. Mas também ressaltou que a atitude “olho por olho” nunca trará paz duradoura. Em vez disso, o Santo Padre destacou que “superar a violência e a guerra é mais do que um acto de reconciliação ou a ausência de conflito”.
Amar para fazer o bem
O Papa exortou o povo de Moçambique a seguir o caminho de Jesus: “Amar para fazer o bem”.
Isto é muito mais do que “perdoar à pessoa que nos magoou”. Exige que sejamos activos. Devemos “rezar por aqueles que nos feriram”. Esta atitude rejeita a vingança e, em vez disso, procura “criar novos laços que conduzam à paz”. O Papa acrescentou que esta decisão de escolher o amor e a bondade é um “compromisso diário” no qual cada um trata os outros “com a misericórdia e a bondade com que queremos ser tratados”.
O Papa Francisco destacou que existem aqueles que afirmam ajudar os pobres, mas “têm outros interesses”. Esta foi uma referência indirecta à corrupção de alto nível, particularmente às conclusões do recente relatório Kroll, que mostrou que os ministros do governo e as instituições financeiras internacionais usaram dinheiro público para financiar uma elaborada fraude mundial. Advertiu que não deveria ser que “a corrupção seja o preço que temos de pagar pela ajuda externa”.
Que a paz reine nos vossos corações
O Santo Padre concluiu a sua Homilia referindo-se a Colossenses 3,15: “Que reine a paz nos vossos corações. Ele aconselhou que em momentos de indecisão e diante de duas opções opostas, deixemos que Cristo seja o “árbitro” do nosso coração e que entremos no “jogo de Cristo” para que possamos escolher o caminho da misericórdia.
“Se Jesus é o árbitro entre as emoções conflituosas dos nossos corações e a complexa situação do país, então Moçambique tem garantido um futuro de esperança” e o “país cantará a Deus com gratidão”.
Esta é uma bela mensagem de esperança no momento em que Moçambique se prepara para as eleições de Outubro.
Original: inglês (6/9/2019). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal
Programa da viagem, todos os textos